Avaliação de Bolsonaro melhora na Pesquisa Fórum, mas devagar com o andor...

A Pesquisa Fórum/Offerwise foi a primeira a mostrar que a popularidade do presidente não vinha sendo afetada com o aumento das mortes do coronavírus.

Foto: Amigos de Ourinhos contra o Fascismo
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A análise política não é arte de enxergar o óbvio, mas de tentar entender o que pode estar escondido nos detalhes. Não é um exercício simples e é muito mais fácil errar do que acertar. Com isso quero dizer que a hipótese aqui apresentada pode vir a não se confirmar, mas é preciso tê-la no horizonte.

A Pesquisa Fórum/Offerwise foi a primeira a mostrar que a popularidade do presidente não vinha sendo afetada com o aumento das mortes do coronavírus. Alguns institutos contratados principalmente por clientes do setor financeiro davam números bem diferentes. Alguns chegaram a registrar que o ótimo e bom do presidente estava em 20%.

O Datafolha também não entrou nessa onda. E sempre com diferença de dez dias depois da Pesquisa Fórum trazia números bem próximos aos que apresentávamos.

Neste mês de agosto o Datafolha fez o campo antes da Fórum, nos dias 11 e 12 de agosto. E a Fórum acabou fazendo seu campo nos dias que o Datafolha costumeiramente faria, de 21 a 24 de agosto.

Desta vez o Datafolha praticamente antecipou a Fórum.

No Datafolha, Bolsonaro teve 37% de ótimo e bom e 34% de ruim e péssimo. Na pesquisa Fórum, 37,5% ótimo ou bom e 35,3% de ruim e péssimo.

Nos outros meses, a Fórum fez a Pesquisa antes, entre os dias 10 e 13 e o Datafolha entre os dias 20 e 22. Em maio, Fórum 39,6% de ruim e péssimo; Datafolha, 43%. Fórum, 32% de ótimo e bom; Datafolha, 33%.

Em junho, Fórum 41,6% de ruim e péssimo; Datafolha, 44%. Fórum 35,1% de ótimo e bom; Datafolha, 32% Em julho, o Datafolha não fez pesquisa. Fórum deu 39,7% de ruim e péssimo e 33,3% de ótimo e bom.

Números praticamente idênticos (veja gráficos).

Como as duas pesquisas há quatro meses têm apresentados resultados muito semelhantes, pode-se arriscar que nesses últimos dez dias não houve alteração de cenário.

Pode-se ir mais longe e dizer que o efeito do pagamento do auxílio emergencial pode ter alcançado um teto. Essa é apenas uma hipótese, mas precisa ser levada em conta nas análises políticas de conjuntura.


O efeito do auxílio-emergencial

O efeito do auxílio-emergencial é algo bastante razoável. Sigam o fio:

Pela Pesquisa Fórum 38,5% dos brasileiros dizem estar recebendo o auxílio emergencial de R$ 600 ou R$ 1,2 mil. Nem todo mundo que diz receber deve estar de fato recebendo. Mas está sendo impactado por ele. Se a esposa recebe, o marido sente que recebe também. Ou seja, traduzindo os números são 80 milhões de brasileiros que dizem receber o auxílio.

Dos 38,5%, 13,8% melhoraram sua avaliação sobre o governo de Jair Bolsonaro; 19,1% disseram que não mudaram o que pensam do governo mesmo recebendo o auxílio; e, para 3,3%, a avaliação piorou. Não souberam ou não quiseram responder 2,3% dos pesquisados.

Esses 13,8% que dizem ter melhorado sua avaliação são exatos 29 milhões de pessoas dos 210 milhões de habitantes do país.

Outro dado interessante é que dos 38,7% que recebem o auxílio, 28,7%, responderam ganhar R$ 600. E 7,7% estão recebendo R$ 1,2 mil. Ou seja, 16 milhões de pessoas dizem estar recebendo os R$ 1,2 mil.

A despeito de o auxílio-emergencial ter sido um projeto defendido pela esquerda no Congresso, agora ele se tornou um programa de Bolsonaro. É uma bandeira dele e não há quem vá convencer os seus beneficiários que foram deputados do PT, PSOL e PCdoB, entre outros, que se esfalfaram para aprová-lo.

Ainda há espaço para Bolsoanro crescer mais?

Se 13,8% do total de brasileiros já mudaram sua opinião acerca de Bolsonaro por receber o auxílio, 19,1% dizem que isso ainda não aconteceu. Pode existir aí um espaço para Bolsonaro crescer nas próximas pesquisas. Mas nos dez dias entre o Datafolha e a Pesquisa Fórum isso não ocorreu.

Esses 13,8% são suficientes pra mexer muito com o resultado de sua popularidade, mas pode ter havido também uma mexida para pior entre aqueles que não receberam o auxílio, afinal nas Pesquisa Fórum e Datafolha, o presidente melhorou sua avaliação, mas o avanço não foi tão significativo. O mais significativo foi a diminuição do seu ruim e péssimo.

Na Pesquisa Fórum, ele saiu em abril de 32% de ótimo e bom para 37,5% agora em agosto. E seu ruim e péssimo que bateu em 41,6% em junho caiu para 35,3% agora em agosto (veja gráfico).

Algo que fica claro é que Bolsonaro ganhou a disputa de narrativa do coronavírus muito em decorrência de um projeto da oposição. É preciso disputar a autoria do projeto, mas isso não será suficiente.


Troca de eleitorado

O que também vai ficando claro é que Bolsonaro viu que tende a perder a classe média que o apoiou por conta da chamada “corrupção do PT” e que por isso não pode pensar em encerrar o auxílio-emergencial sem colocar algo no lugar. Se porventura vier a perder o apoio popular que conseguiu com essa medida, pode, aí sim, recuar para patamares perigosos de popularidade.

Bolsonaro está priorizando o eleitorado nordestino porque sabe que pode perder base no Sul e no Sudeste. E lá no Nordeste ele tem para onde crescer, já que sua popularidade era muito baixa.

Enquanto Lula está “encarcerado” na quarentena, ele passeia o Brasil fazendo sinais para o povão.

Só Lula poderia nas ruas fazer frente ao apelo de um presidente, que gostem ou não seus críticos, consegue mesmo com todos seus preconceitos, fazer linha direta com o povo.

Ainda é cedo....

Ainda é cedo pra fazer apostas. Mas não se pode dizer que houve uma grande melhora da popularidade de Bolsonaro. Não é isso que a Pesquisa Fórum mostra. Houve uma recuperação e se a situação do país melhorar isso pode leva-lo a uma situação confortável.

Um presidente com 20 meses de mandato ter apenas 37,5% de ótimo e bom não é algo assim tão tranquilo. É um resultado nota 5, no máximo, numa escala de 0 a 10. Qualquer acidente de percurso pode levá-lo a índices alarmantes. É bom lembrar que em 2010, depois de oito anos de mandato, Lula tinha 87% de ótimo e bom. E penou para eleger sua sucessora.

Por isso, devagar com o andor que o santo é de barro. Não é hora nem de desespero e muito menos de pavor. Mas também não é o momento de jogar tudo para o auxílio-emergencial. Ele melhorou a vida de Bolsonaro, mas sua situação não era tão ruim antes dele. Algumas pesquisas mostravam dados que não se confirmaram com o tempo. Essa é a verdade.

Há muita coisa para acontecer até 15 de novembro quando acontecerão as eleições municipais, mas uma coisa parece ser certa, o auxílio-emergencial vai se manter até lá. Bolsonaro percebeu que é bom para seus aliados e para que ele consiga ser um eleitor importante nas disputas municipais.

A oposição terá que lidar com isso. É com este componente no cenário que o jogo eleitoral se dará. É com essa peça no jogo que as eleições municipais também se definirão.

Mas essa é uma peça que não pode ser tratada como um zap do truco ou um rei do xadrez. É mais uma variável, que pode ser enfrentada se os partidos progressistas e de esquerda construírem um discurso comum e forte. Os números ainda não apontam uma virada significativa do vento para Bolsonaro. Não é só uma brisa. Mas está longe de ser um furacão.