A defesa de Dilma no teatro golpista

O golpe foi todo desenhado para que o seu fim fosse um pouco esse. Com senadores falando, com o presidente do Supremo mediando e com a mídia cobrindo sem muito interesse o episódio.

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Um golpe com as características do atual, que é midiático-parlamentar, pode começar aos berros e xingamentos, mas quando está chegando ao seu final necessita de um certo lustro. De um ar de legalidade. A participação de Dilma na sessão de hoje do Senado foi construída para ser o papel de presente do atual velório democrático. O invólucro bonito que esconde um presente de grego, o cavalo de tróia que tem por objetivo fazer de conta que tudo o que está em curso é apenas um processo sério e institucional. Diferente do espetáculo asqueroso da votação da aceitação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, este julgamento no Senado tem ares civilizados. Ninguém berrou com a presidenta, ninguém falou da mãe, do pai, do filho ou do espírito santo nas suas perguntas e ninguém sambou com a bandeira nacional, a despeito de a senadora Ana Amélia ter ido vestida de verde amarelo e ter ficado com a Constituição na mão durante seu embate com Dilma. Aliás, embate não. Ana Amélia foi demolida por Dilma. A resposta que deu à gaúcha foi uma das mais diretas e demolidoras. Inclusive porque foi ali que Dilma demonstrou de forma clara os aspectos do golpe. Dilma fez o que podia fazer e mesmo não tendo finalizado sua participação, dificilmente conseguirá mudar o destino do que já estava escrito nas nuvens escuras do golpismo. O golpe foi todo desenhado para que o seu fim fosse um pouco esse. Com senadores falando, com o presidente do Supremo mediando e com a mídia cobrindo sem muito interesse o episódio. A Globo, por exemplo, que dedicou seu domingo inteiro para o julgamento na Câmara, não mudou sua programação de uma segunda-feira pra transmitir o debate com a presidenta. Não interessa. Interessa apenas dar a versão no Jornal Nacional, com os comentários dos analistas dependentes da emissora. Aqueles que falam o que o dono quer porque o dono é quem manda. E na versão deles, Dilma não vai ter dito nada de novo. Nada que justifique a mudança do teatro golpista. A defesa de Dilma ainda em curso no Senado está sendo muito bem feita. Muito boa. Mas o fim dessa peça só seria alterada com muita gente na rua. O que não aconteceu. E com o que foi possível fazer, vamos ter que sair deste capítulo da história buscando fôlego para lutar no capítulo seguinte. Nos dias que virão e que duros serão. E para esses dias a defesa de Dilma que foi feita hoje será fundamental. Porque ela está deixando claro o que virá e por que está sendo vítima deste atentado democrático.