A triste nota de Palocci

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A Casa Civil emitiu ontem uma nota oficial para tratar do caso da evolução patrimonial do ministro Palocci. Já respondi a vários comentaristas do blogue que não afirmei e não afirmarei que Palocci cometeu ilegalidade ao ter uma consultoria enquanto estava deputado federal. Não fiz isso porque conheço nossa legislação que regula essa pratica. Que é uma legislação ruim, mas válida. No entanto, considero seu ato questionável do ponto de vista moral e político. É um bom debate e sei que muita gente discorda do meu ponto de vista. A nota a seguir, porém, tem algo que me parece ainda mais grave do ponto de vista político. Deputados do PT, militantes e intelectuais do partido, sempre criticaram as praticas de outros ministros da Fazenda quando saiam do governo e iam enriquecer no mercado.  E o que a nota da Casa Civil faz? Ela compara Palocci a Pérsio Arida, Malan, Mailson da Nóbrega e a André Lara Resende. Ou seja, diz algo como "somos todos iguais". Do ponto de vista político é o mesmo que dizer que PT e PSDB têm as mesmas práticas. E que este governo e os outros não são diferentes. Não me parece uma boa tática. Segue a nota: 1. Todas as informações relacionadas à evolução patrimonial do ministro Antonio Palocci constam de sua declaração de renda de pessoa física. 2. Todas as informações fiscais e contábeis da empresa Projeto são regularmente enviadas à Receita Federal, de acordo com as normas vigentes. 3. Todas as informações sobre a empresa e as medidas tomadas para prevenir conflito de interesses foram registradas junto à Comissão de Ética Pública da Presidência da República quando da posse do ministro. 4. A matéria não traz qualquer indício de irregularidade na conduta do ministro Palocci nem na atuação da empresa Projeto. 5. O ministro não reside no imóvel citado na matéria. Sobre a empresa: 1. A empresa Projeto foi aberta em 2006 para a prestação de serviços de consultoria econômico-financeira. Não há nenhuma vedação para que parlamentares exerçam atividade empresarial, como o atesta a grande presença de advogados, pecuaristas e industriais no Congresso. Levantamento recente mostrou que 273 deputados federais e senadores da atual Legislatura são sócios de estabelecimentos comercial, industrial, de prestação de serviços ou de atividade rural. No mercado de capitais e em outros setores, a passagem por Ministério da Fazenda, BNDES ou Banco Central proporciona uma experiência única que dá enorme valor a esses profissionais mo mercado. Não por outra razão, muitos se tornaram, em poucos anos, banqueiros como os ex. presidentes do Bacen e do BNDES Pérsio Arida e André Lara Resende, diretores de instituições financeiras como o ex-ministro Pedro Malan ou consultores de prestígio como o ex-ministro Mailson da Nóbrega. 2. A empresa Projeto prestou serviços para clientes da iniciativa privada tendo recolhido sobre a remuneração todos os tributos devidos. Muitos ministros importantes também fizeram o percurso inverso, vieram do setor privado para o governo, tomando as precauções devidas para evitar conflitos de interesse, como o ex-ministro Alcides Tápias, ex-diretor de importante instituição financeira, os ex-presidentes do BC Armínio Fraga, antes gestor de um grande fundo de investimentos internacional e Henrique Meirelles, com longa trajetória no mercado financeiro. Os mecanismos utilizados pelo ministro Palocci para impedir qualquer conflito de interesse foram os mesmos adotados pelos citados. 3. O patrimônio auferido pela empresa foi fruto da atividade de consultoria e é compatível com as receitas realizadas nos anos de exercício. 4. O objeto social da sociedade foi modificado antes da posse como ministro para vedar qualquer prestação de serviço que implique conflito de interesse com o exercício de cargo público, nos termos da legislação vigente. 5. A gestão dos recursos financeiros da empresa foi transferida a uma gestora de recursos, que tem autonomia contratual para realizar aplicações e resgates, de modo a evitar conflito de interesse. 6. As duas medidas anteriores foram tomadas por orientação da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. 7. Hoje a empresa tem como única finalidade a administração de seus dois imóveis em SP. 8. Em reunião nesta terça-feira [ontem], a Comissão de Ética Pública da Presidência da República concluiu que os esclarecimentos prestados pelo ministro quando da sua posse são suficientes e descartou qualquer irregularidade.