Alex Siwek jogou o braço do ciclista que atropelou no córrego, mas a tragédia é coletiva

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Alex Siwek, 22 anos, atropelou o ciclista David Santos de Souza, 21 anos, na avenida Paulista, na manhã deste domingo. No atropelamento, Siwek, que é estudante de psicologia, arrancou o braço de David, que foi parar dentro do seu carro. Siwek fugiu para não prestar socorro e, depois, jogou o braço da vítima em um córrego da zona sul. De acordo com o delegado-assistente do 78º DP (Jardins), Luis Francisco Segantin Junior, que investiga o caso, um amigo do motorista que estava com ele no carro, contou que eles tinham ido à casa noturna Josephine, no Itaim Bibi (zona sul). E beberam. O preço da entrada para homens na Josephine é de 50 reais ou 150 reais de consumação. Uma cerveja, segundo o guia da Revista Época custa de14 a18 reais. Provavelmente uma long neck. Testemunhas que estavam na avenida na hora do atropelamento (aproximadamente 5h30) teriam dito que o estudante fazia zigue-zague pela Paulista. Entrava e saía da faixa reservada para os ciclistas, que já estava separada por cones, chegando a derrubar alguns. Hoje li no Facebook um texto assinado pela mãe de Vitor Gurman narrando o dia do atropelamento do seu filho. Aos 24 anos, ele caminhava à noite numa rua de Pinheiros quando um jipe blindado invadiu a calçada e o matou. A mãe de Vitor termina a narrativa dizendo: não foi acidente. Ela tem razão. Ao mesmo tempo em que se intensifica a fiscalização com uma legislação mais pesada para quem dirige alcoolizado, há muitas brechas que permitem aos autores de atropelamentos como este de Alex Ziwek a se livrarem de penas mais duras. Thor Batista, filho de Eike Batista, está sendo absolvido depois de matar uma pessoa a135 km/h. E o perito que fez o laudo que comprovou essa alta velocidade de Thor, foi afastado. O que Alex Siwek fez hoje pela manhã é algo muito chocante. Atropelar uma pessoa dirigindo alcoolizado, não prestar socorro e ainda ter suficiente sangue frio para jogar o braço da vítima que foi arrastado pelo carro num córrego tem contornos de crime hediondo. E mesmo sendo algo chocante, a atitude de Siwek não é um acidente porque também se explica na lógica do que se tornou a sociedade dos carros na cidade de São Paulo. Não é incomum ouvir de taxistas e de motoristas frases como “esses pedestres são muito folgados” ou “esses ciclistas abusam”. Sem contar a forma como lidam com os motoboys. O prefeito Haddad tem que tomar medidas urgentes que civilizem o trânsito de São Paulo. Andar na cidade sem carro passou a ser um desafio. São poucos os motoristas que param, por exemplo, nas faixas de pedestres. E não deixa de ser impressionante que na manhã seguinte à Bicicletada Pelada um jovem ciclista tenha tido seu braço arrancado por outro jovem que dirigia, provavelmente alcoolizado, um carro. O carro não é só apenas uma demonstração de poder para muita gente. É também sinônimo de força bruta. E para lidar com este tipo de coisa não basta investir em fiscalização para coibir o uso do álcool ao volante, mas é preciso criar novas dimensões do uso da rua e dos espaços coletivos de tráfego. E para que isso aconteça é preciso endurecer o jogo com o carro. Não há outro jeito. Endurecer significa intensificar a fiscalização nas faixas de pedestres, semáforos e locais de grande circulação de ciclistas e motoboys. Se o motorista de automóvel começar a perceber que suas infrações menores estão sendo registradas. E que seu comportamento agressivo no trânsito está sendo punido, melhoraremos o cidadão da cidade. E por consequência a cidade.