Bolsonaro, Doria e a campanha mais suja da história recente

A questão é o vídeo ter sido usado como arma de destruição de votos. Isso é mais importante para a análise política do que qualquer outra coisa.

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Desde que o país se redemocratizou em 1985, com as eleições municipais em capitais após a posse de José Sarney, que o país não assistia a uma eleição tão suja, tão repleta de mentiras e tão sem debate acerca do futuro do país e dos estados. E isso não significa que alguns dos processos eleitorais não foram de baixíssimo nível, como o de FHC x Jânio Quadros, pela prefeitura de São Paulo, em 1985. Ou como o Collor x Lula, em 1989. Ou mesmo Dilma x Serra e Dilma x Aécio. Neles rolou acusação de ateísmo, de enriquecimento ilícito, de querer abortar uma filha, de uso de drogas e coisas do gênero. Mas nunca aconteceu de ser enviado a milhões de pessoas um vídeo onde um dos concorrentes se divertia numa cama com cinco garotas de programa. Não importa aqui, para essa análise, saber se o vídeo é verdadeiro ou falso. Até porque o fato de um homem ou mulher fazer sexo com um o mais parceiros não vai torná-lo mais ou menos eficiente como pessoa púbica. A questão é o vídeo ter sido usado como arma de destruição de votos. Isso é mais importante para a análise política do que qualquer outra coisa. Por que isso aconteceu? Em geral, nas relações de violência a culpabilização da vítima é algo padrão. A moça andava de minissaia e por isso mereceu ser violentada. O ciclista estava numa via perigosa e por isso foi atropelado. O sujeito não estudou, por isso ganha menos. E assim por diante. Tratar Doria como culpado pela divulgação seria desonesto. Mas não é exagerado refletir sobre o que representam Doria e Bolsonaro numa disputa eleitoral e o quanto eles não são responsáveis pelo ponto a que se chegou nesta eleição de 2018. O quanto eles investiriam numa agenda moral para destruir adversários. O quanto eles trataram concorrentes como se fossem inimigos. O quanto eles investiram no ódio como combustível de campanha. Doria, por exemplo, se negou a assinar um decreto concedendo um nome de um viaduto em homenagem à dona Marisa Letícia, esposa já falecida de Lula. Fez isso por ódio e para pontuar entre melhor entre os que apoiam a eliminação do outro. Bolsonaro fala que seus adversários iram apodrecer na prisão. Disse isso de Haddad no domingo. Sem que Haddad tenha qualquer condenação judicial. Na disputa com Márcio França, Doria usou a mentira e o exagero como pode. Ele sabe que França não é petista. Sabe que não é comunista. Sabe que sequer é socialista. Mas também sabia que se não o atacasse dessa forma teria que debater programa de governo e suas ações na prefeitura de São Paulo. Por isso usou a mentira e a farsa para tentar se eleger a qualquer custo. Isso justifica a circulação do vídeo em que está com cinco garotas numa campanha mesmo que a gravação não seja verdadeira? De maneira alguma. Mas Doria plantou tanto ódio que ontem a internet se divertiu imensamente com este ataque que sofreu. O blogueiro, entre outros, levou na piada o fato. Não é um caminho certo e não nos levará a lugar algum pensar que o lugar da política é o esgoto. O vídeo de Doria poderia ser um ponto de inflexão. Ele não é bom para Márcio França se vier a ganhar a eleição. E não é bom para Doria, por todos os motivos que sabemos. A verdade que lhe escapa é que chegamos em um ponto onde não há mais limites. E que a vitória do discurso impulsionado por Doria e Bolsonaro podem ainda nos levar a lugares ainda piores. Doria não é só vítima. Ele é também algoz de si mesmo e de sua família. Foi o seu jogo sujo que criou, por exemplo, o vereador Camilo Cristófaro, que ontem lhe atacou nas redes. Esse vereador foi usado como arma contra Haddad. E agora dispara contra ele. Que esse episódio nos ajude a pensar melhor no quanto se armar para destruir o outo não é o melhor caminho.