A crise do Brasil de hoje é boa parte PMDB

E se Dilma sofrer o impeachment, o PMDB vai ter ainda mais poder. E isso não significará que resolverá seus problemas porque a peemedebização da política no Brasil já ultrapassa seus próprios limites.

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pmdbUm partido político, em tese, não deve ter dono. Obama, por exemplo, tem grande poder, mas não manda no Partido Democrata. Será que ele não gostaria de em uma dedada indicar seu sucessor? Se desejava, não conseguiu. Hilary Clinton é atualmente o provável nome para a disputar a presidência pelos Democratas e nunca foi sua candidata favorita. No Partido Comunista Soviético, dos primeiros tempos da revolução, Lenin, Stalin e Trotsky, entre outros, disputavam posições. Até que Lenin morreu e Stalin se adonou do PC. Mas nem sempre tinha sido assim. No PT dos primeiros tempos, a corrente de Lula disputava com integrantes da igreja e da chamada esquerda a hegemonia. E Lula perdeu muitas votações e indicações de candidatos. Como a que levou a então vereadora Luíza Erundina a ser prefeita de São Paulo. Aliás, voltando a Obama, ele só conseguiu ser presidente porque o suposto dono do Partido Democrata, Bill Clinton, não teve como impor sua esposa Hillary naquela eleição. Mas o que isso tem a ver com o PMDB? O problema não é o PMDB não ter um dono, como alguns sinalizam, mas como aqueles que querem ser seu dono disputam a política dentro e fora do partido. Eduardo Cunha, presidente da Câmara é do partido. E a partir do seu cargo impõe uma agenda ao país que o deixa absolutamente sem previsibilidade. A Câmara hoje parece mais um ringue e um sanatório onde todos gritam ao mesmo tempo, do que um casa legislativa. O vice-presidente Michel Temer também é do partido. E esta semana produziu uma das mais desastrosas peças políticas da história da República, uma carta de lamentações para a presidenta, onde reclama por ter amigos afastados de cargos importantes e de não ter podido jantar com o vice-presidente dos EUA. Ambos se juntaram e hoje depuseram também por carta, ou se preferirem por um abaixo-assinado, o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que havia sido eleito por uma diferença de um voto na disputa realizada em fevereiro contra Lúcio Vieira Lima (BA), que também foi artífice do contra-golpe de hoje. Mas Picciani já fala em dar o troco ajudado pelo governador Pezão e pelo prefeito Paes, que vão afastar secretários de seus governos para voltarem à Câmara e devolverem a liderança ao jovem carioca. Um partido que tem sete ministros de Estado, um vice-presidente da República, sete governadores, o presidente do Senado e uma imensa quantidade de prefeitos, deputados estaduais e vereadores  pode e deve ter disputas. Mas não é isso que está acontecendo no PMDB. O partido vive hoje uma guerra fratricida e sem nenhum respeito às regras do jogo entre grupos que não se respeitam e não tem interesses ideológicos e nem pautas comuns. Tem apenas sede de poder e gana de cargos. E os métodos dessa disputa transbordaram e estão sendo utilizados em todas as instituições controladas por membros desse partido. Se por um lado, o silenciamento da TV Câmara na tarde de ontem e a criação de uma eleição secreta para derrubar as indicações dos líderes para a comissão que investigaria a presidenta Dilma mostram como Eduardo Cunha age quando entra numa disputa, por outro lado a carta do vice-presidente Temer é reveladora dos intestinos partidários. O PMDB é hoje o filho mais torto do nosso modelo político. Sem ser exatamente um partido, ele é o maior partido do país. Sem ter exatamente um dono, ele tem sempre algum dono de plantão. E sem ter nenhuma grande liderança desde a morte de Ulisses Guimarães e sem lançar candidato a presidente da República desde 1989, ele continua desde a redemocratização como o maior partido do país. E se Dilma sofrer o impeachment, o PMDB vai ter ainda mais poder. E isso não significará que resolverá seus problemas e que melhorará. Porque a peemedebização da política no Brasil já ultrapassa seus próprios limites. Tanto que os principais atores da resistência de Eduardo Cunha na Câmara não são membros do seu partido, mas de legendas menores. Há uma crise de representação no Brasil que está caminhando para uma crise institucional. E isso tem tudo a ver com o que é o PMDB e seu jeito de ser e de fazer política. E por isso imaginar o PMDB como solução para a crise é tão insano quanto pensar que pode-se salvar um afogado arrancando seu pulmão. Talvez seja exagero dizer que o PMDB é toda a crise. Mas é cada vez mais boa parte dela. Se hoje houvesse uma governabilidade possível sem esse partido e seus métodos, o Brasil talvez pudesse sonhar com momentos melhores.