Datafolha confirma tese de que "na moral" Bolsonaro leva a eleição

O jogo se joga jogando. E há espaço, a despeito do pouco tempo, para tentar segurar essa onda  na unha. Bolsonaro provavelmente não irá no debate da Globo, mas Haddad tem que debater com ele

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O Datafolha de hoje fecha o caixão das suspeitas de que o Ibope havia sido manipulado. O blogueiro foi checar alguns trackings pela manhã e acabou tendo acesso a detalhes de um deles. E isso o levou a escrever este texto que circulou durante o dia. Bolsonaro passou a crescer a partir de sábado, quando a sua campanha se articulou para enfrentar o #EleNão numa operação de redes poucas vezes vista no Brasil. Para ser mais franco, nunca vista. Houve farta distribuição de fotos "imorais" e "contra a família brasileira" em grupos do "mito". E enquanto a gente (me incluo) comemorava o imenso sucesso daquele ato, nossas tias, empregadas, os porteiros, os amigos mais simples, ficavam indignados com o que ocorria. No domingo, já comecei a perceber o estrago nas conversas mais triviais. Com gente repetindo frases do tipo: "mas não fizeram isso pra defender a prostituição?" Oi...Eu ri. Pois é. Me arrependo. Foi esse o discurso difundido massivamente em cultos e encontros dominicais de igrejas pentecostais. Algumas das fotos que circulavam, aliás, sequer eram das marchas do #EleNão. Eram de outros eventos. Esses memes já estavam prontos antes, porque não importava o que ia acontecer, mas o que ia ser debatido. Contribuindo para a ação, as TVs (Globo e Globonews, em especial) não trataram da marcha como um marco na luta por direitos. Mas sim como se fosse uma ação dos petistas. E a contrapôs a manifestações pró-Bolsonaro. Foi assim que Bolsonaro cresceu de domingo pra hoje. E que voltou a abrir dois dígitos de diferença de Haddad. Mas só isso explica? Evidente que não. O PT e Haddad foram alvos de um ataque especulativo das outras candidaturas que querem lhe tirar do segundo lugar. Faz sentido e é do jogo. Mas pode ser algo explosivo. Haddad não vai perder pontos. Sua situação em segundo lugar está consolidada. Mas os indecisos podem ir para o outro lado, já que Bolsonaro tá conseguindo se tornar o único candidato anti-estabilishment. Se a postura educada e democrática de Haddad contribui para pacificar o processo político caso ele venha a ser eleito, o fato de não ter reagido aos ataques sofridos em alguns momentos lhe tiram a indignação que parece ser necessária para ganhar certos votos no momento atual. Enquanto Bolsonaro é a oposição a tudo. Haddad é tranquilão. Parecia que ia dar certo, mas pelo jeito essa fórmula chegou ao seu limite. Mas isso quer dizer que está tudo perdido? Que Bolsonaro já pode colocar a faixa e ir desfilar no Clube Militar? Nada disso. O jogo se joga jogando. E há espaço, a despeito do pouco tempo, para tentar segurar essa onda. E isso passa pelo debate na Globo. Bolsonaro provavelmente não irá, mas Haddad tem que debater com ele. Diferentemente do que fez na Record. Há formas de fazer isso. Algumas bastante criativas. Mas deixo isso para quem entende do assunto. O que importa é que o alvo do petista tem que ser os riscos para os trabalhadores que a candidatura de Bolsonaro representa. Férias, 13°, licença gravidez etc. Haddad tem que saber de cor pontos do programa do adversário. Incluindo a defesa que Bolsonaro fez de aumentar em mais 10 ministros o número de juízes do STF. Por outro lado, faz-se necessário criar uma frente democrática em defesa da verdade nas redes sociais. Não é possível que a campanha de Bolsonaro seja tão mais combativa e organizada que a de todos os outros candidatos juntos. E que a mentira esteja se alastrando de forma tão explosiva, sem que nada de grande porte seja feito para contê-la. Não será com desmentidos que isso vai ser controlado. O babado é mais forte. A campanha entrou num momento decisivo onde nada mais é importante do que sangue nos olhos, mas também precisa muito de sangue frio. Ter calma para agir, mas impaciência para ser rápido. Os dias que faltam decidirão o futuro do Brasil. Uma bancada de reacionários pode se eleger em meio a essa onda conservadora se ela vier a se ampliar. E isso pode inviabilizar um futuro governo, mesmo que o campo progressista venha a ser vitorioso no segundo turno. É por isso que não dá pra deixar a reação para depois. O plano B precisa ser colocado em prática já. Bolsonaro precisa ser chamado pra dançar no campo programático, no debate econômico e nas suas contradições de candidato dos ricos e do que há de pior para os trabalhadores. E os movimentos sociais precisam ocupar as periferias. De amanhã até domingo.