De hoje a domingo, notícias e pequenas histórias da Flip, em Paraty

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Estou na Festa Literária de Paraty (Flip) desde ontem (quarta) à tarde. Esta é a quinta edição do evento. É também a quinta vez que participo dele. Neste ano o autor homenageado é Nelson Rodrigues. E a cidade parece que vai ficar ainda mais cheia do que nos anos anteriores. Não há mais vagas nos hotéis e as ruas já estão repletas de pessoas andando com sacolinhas de livros recém comprados. Imagem pouco comum no Brasil.

O editor da Revista Imprensa Pedro Venceslau, como outros 600 jornalistas credenciados, também está por aqui e vai contribuir nesses dias com algumas notas para este blog. Publico neste post seu primeiro texto. E aproveito para registrar duas frases do teatrólogo Augusto Boal. Ele participou de uma mesa onde se debateu o teatro de Nelson Rodrigues. Questionado se ainda era possível sonhar e realizar os sonhos que se têm, respondeu:

Sonhar é humano e não realizar o sonho não é um problema em si. Sonhar é humano. Árvores não sonham. Pedras também não sonham. E mortos já sonharam.

E indagado sobre cidadania, emendou:

Cidadão não é quem vive em sociedade. É quem transforma a sociedade em que vive.

Parecem simples frases de efeito, mas tem uma mensagem humanística tão bonita quanto profunda.

Segue o primeiro texto de Pedro Venceslau, que retrata um pouco da off-Flip.



Alternativos jogam “pérolas aos porcos” nas ruas de Parati 

Por Pedro Venceslau

A Festa Literária deste ano foi batizada por alguns setores da mídia de “feira do consenso”. Dizem os críticos que o evento esta a serviço do pensamento hegemônico e não tem a menor preocupação em estimular a diversidade ideológica. Pedro Tostes, poeta, estudante de letras da USP, entusiasta da ocupação da reitoria e editor da “Revista não Funciona” não está nem aí para esse debate. Ele faz parte de um coletivo de poetas chamado “Maloqueiristas”, que circula pelas ruas de Parati vendendo revistas de poesia a R$ 3 a unidade. Dois exemplares saem por R$ 5. Os poetas do coletivo freqüentam a Festa Literária desde a primeira edição. Eles fazem parte do cenário. Os “alternativos” estão em toda parte, vendendo poemas entre as mesas de bar para pagar a conta da pousada e tomar uma cerveja no final do dia. Sem credencial ou convite, os poetas “sem editora” vão se virando como podem. “Sou a favor de qualquer movimento cultural. Não importa se é de esquerda, de direita, contra ou a favor establishment. Nós estamos aqui correndo por fora, jogando pérolas aos porcos. O que nós vendemos paga as contas”, diz o jovem poeta – editor. E por falar em establishment. "Não acho que FLIP representa o pensamento hegemônico. Estão aqui o Ishmael Beah, escritor de 26 anos que matou gente na guerra de Serra Leoa e lançou "Muito longe de casa - memórias de um menino soldado". E o analista político Robert Fisk, que nunca pegou em armas. São duas visões de mundo diferentes" pondera Antonio Gonçalves Filho, repórter especial do Caderno 2, do Estadão.



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A segunda mesa da FLIP reuniu dois poetas da contramão: Chacal e Lobão. Pela primeira vez uma mesa foi aberta com música. Na voz estridente de Lobão, a “Balada do inimigo” levantou a platéia. Mas o ponto alto da mesa foi a seqüência de 10 poesias declamadas em pé Chacal: “Vai ter uma festa onde eu vou dançar até o sapato parar. Aí eu paro, tiro os sapatos e danço o resto da vida”.