Haddad é tratado como candidato a presidente no Canal Livre e se sai muito bem

Se começar a ser conhecido como o "moço" do Lula já no meio de setembro pode estar liderando as pesquisas de intenção de votos para presidente

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Ontem, de madrugada, umas poucas pessoas fora da bolha do núcleo duro da política devem ter assistido ao Canal Livre, da Band. Até porque eram 00h05 quando o programa começou tendo ao centro da mesa o candidato a vice presidente na chapa de Lula, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Os entrevistadores eram Fernando Mitre, Ricardo Boechat, Mônica Bergamo e Eduardo Oinegue. A entrevista, porém, serviu como um teste para o ex-prefeito. Ele já concedeu várias semelhantes ao longo de sua vida pública, mas desde que se tornou candidato a vice de Lula é a primeira vez que vai a um programa de TV aberta falar em nome da chapa. Há uma estratégia clara das TVs em invisibilizar Haddad. E entre os seus adversários dá-se o mesmo. Haddad, aliás, no meu melhor momento no final da conversa de ontem, deixou isso claro quando foi perguntado acerca de como lidaria com o fato de ser tratado como poste de Lula pelos seus adversários. "Eu acho que eu tenho um currículo que não sei se eles estão à altura de criticar. Então vamos lá, vamos para o debate, vamos ver quem ganha o debate. Acho que o melhor argumento é o que vai vencer. Eu desafio qualquer um desses adversários...porque não querem debater nem com o Lula e nem comigo. Olha só, não querer debater com o Lula eu entendo. Porque o Lula jantaria a todos. Agora não querem que eu participe dos debates, tão com medo de mim?", finalizou. Na entrevista, Haddad foi muito questionado sobre se daria indulto a Lula e como recuperaria a economia. Nesses dois pontos, passeou, como se diz no popular. Não tergiversou em relação ao processo de Lula. Disse que tem convicção de sua inocência, mas que o ex-presidente não quer o indulto. Quer ser inocentado porque sabe não dever nada para a justiça. E em relação à área econômica, disse que o programa econômico da sua chapa defende uma reforma tributária que isentará de IR quem ganha até 5 salários mínimos. E que cobrará impostos maiores dos mais ricos. Também defendeu mais impostos aos bancos que cobram juros maiores. Sua forma de falar, serena e com frases muito bem pontuadas, se mostrou um acerto para lidar com a adversidade de certas perguntas. Haddad não pareceu nem irônico e nem arrogante, algo muito comum entre intelectuais. Ao mesmo tempo foi firme em relação a quase tudo que lhe foi questionado. Por exemplo, indagado se entre Bolsonaro e Alckmin apoiaria o tucano num segundo turno, foi claro: "Não acho que exista hipótese de este segundo turno acontecer". E emendou com um complemento que não deixou dúvida: "O programa de governo do Alckmin é a continuação do governo Temer. Isso inviabiliza qualquer apoio a ele". Com a decisão da ONU, a candidatura Lula ganhou um suspiro. Mas é quase certo que mesmo essa decisão tão límpida e clara, será ignorada. A senha já foi dada por Fernando Henrique Cardoso em entrevista de hoje, onde ele deixa claro que o Brasil não deve aceitar intromissão em assuntos internos. Como se o país não fosse signatário de um acordo internacional. Ou seja, a chapa Haddad e Manuela terá que representar Lula nesta eleição. E pelo que aconteceu no Canal Livre de ontem, dá para ficar relativamente tranquilo. Haddad parece estar muito à vontade para ser um representante de Lula. Isso não o constrange. Como também está afiado em relação ao programa de governo que coordenou. E que é muito mais radical do que os que levaram o PT a vencer eleições anteriores. Sendo assim, quem imaginava que ao tirar Lula da disputa teria vida fácil para derrotar o PT, a notícia não é boa. Haddad tem tudo para surpreender. E isso pode começar a ficar claro muito mais rapidamente do que se imagina. Se começar a ser conhecido como o "moço" do Lula já no meio de setembro pode estar liderando as pesquisas.