Hoje Lula articula uma visão mais global do que foi o seu governo, diz Emir Sader

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Será lançado no dia 13, “Lula e Dilma – 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil”, no Centro Cultural São Paulo (R. Vergueiro, 1000). O livro, da editora Boitempo, é organizado por Emir Sader, que junto com Pablo Gentili, diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil), entrevistou o ex-presidente Lula. Além da entrevista, o livro traz reflexões de diversos pensadores brasileiros sobre o Brasil da última década, como Marilena Chauí, Marco Aurélio Garcia, Marcio Pochmann, Luiz Gonzaga Belluzzo, José Luis Fiori, Luis Pinguelli Rosa e Paulo Vannuchi. Leia abaixo uma entrevista com Emir Sader. Algumas declarações fortes da entrevista que você realizou com o Lula têm sido divulgadas, como a de que o PT se divide entre partido eleitoreiro e de base, o que mais te impressionou nesta entrevista? Que o Lula vai articulando uma visão mais global do que foi o seu governo, desde as condições da sua eleição, incluindo a Carta aos Brasileiros, passando pela primeira etapa, pela crise de 2005, a reeleição e o segundo mandato, ate a eleição da Dilma. O livro analisa 10 anos de governo, 8 de Lula e 2 de Dilma. Você consegue identificar momentos diferentes neste período ou avalia que há uma continuidade de um projeto geral que torna esse período num momento único do ponto de vista histórico? Como fica claro no artigo do Nelson Barbosa, houve um primeiro momento de prioridade de um duro ajuste fiscal, uma luta ideológica entre os adeptos dessa política e os desenvolvimentistas (liderados pela Dilma), e uma segunda etapa, em que o modelo de desenvolvimento econômico e social se impõe. Dos artigos sobre este período que foram escritos para o livro, quais são as reflexões mais importantes para se desenhar um projeto futuro para a esquerda brasileira? Há vários, não seria fácil destacar, mas eu chamaria a atenção para os do Fiori, do Marco Aurélio, do Nelson Barbosa, da Marilena Chauí, do Marcio Pochmann, entre outros. A vitória apertada de Maduro na Venezuela pode, na sua opinião, ser um sinal de que esse projeto de diminuição da pobreza que foi muito importante para o sucesso de governos de esquerda e de centro esquerda se manterem no poder, pode não ser o suficiente para a continuidade deles? Os governos progressistas da América Latina perdem apoio quando suas políticas sociais se enfraquecem. É o caso típico da Venezuela, em que as missões fizeram avanços sociais fundamentais, que não foram consolidados por políticas governamentais. No caso atual, entre a grande vitória de dezembro e o resultado eleitoral muito ruim de abril, aconteceram duas desvalorizações da moeda, que tiraram 48% do poder aquisitivo dos salários, fator que certamente pesou na perda de apoios. Creio que o apoio fundamental, que seguem tendo os governos, vem das políticas sociais. Qual a sua opinião sobre o governo Dilma? Algumas pessoas avaliam que a visão dela de desenvolvimento é ultrapassada e que seu governo poderia ser mais ousado? Você concorda com esta avaliação? É um governo que mantém o fator fundamental do sucesso desses 10 anos, que é o modelo econômico-social. Mas que se choca com a tendência especulativa de parte importante do grande empresariado, ao qual o governo fez todas as concessões – sem contrapartidas -, mas não tem conseguido efeitos. Há uma confiança na disposição desenvolvimentista do empresariado privado, que não se corresponde com a realidade. À falta de uma visão política, o governo não tem uma estratégia para superar os obstáculos estruturais remanescentes. Concordo que falta audácia, há uma confiança do governo em que "se as coisas forem bem feitas, tudo dará certo", que não considera os fatores econômicos, políticos e midiáticos do poder dominante.