Interventor do Rio manda repórteres baixarem e desligarem as câmeras e todos obedecem

O fato ocorreu na Associação Comercial e foi presenciado por Silvia Ramos, cientista social da Cândido Mendes, que enviou email hoje aos editores dos veículos

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Silvia Ramos, cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, enviou um e-mail hoje para editores da GloboNews, O Globo, O Dia e outros veículos da mídia comercial, especialmente do Rio, relatando o que assistiu no dia 13/6 na sede da Associação Comercial. Ela presenciou a cena de diversos repórteres abaixando e desligando suas câmeras a partir da ordem do interventor do Rio de Janeiro, o general Braga Netto. Silvia Ramos destaca que sua intenção não é criticar o trabalho dos jornalistas profissionais, mas que “pretende suscitar reflexões sobre 'o proceder' diante de casos como os que descreve". Leia o e-mail que Silvia Ramos enviou às redações. Seu relato é assustador. Ontem mesmo escrevi um texto sobre a censura que estava escondida por trás da ação da Agência Lupa no caso do terço do Papa, mas este relato de Silvia Ramos é ainda mais revelador de como a censura está sendo naturalizada. Estive num debate na ACR (Associação Comercial RJ) no começo dessa semana (13/6) e ocorreu um episódio que acredito que deveria ser objeto de reflexão de editores e chefes de redações. No encerramento do evento – onde já tinha ocorrido duas mesas de debates – o general Braga Netto fez uma explanação sobre a intervenção, o plano estratégico etc. Foi chocante a forma como ele começou a exposição. Pediu que as câmeras de TV e máquinas fotográficas que estavam posicionadas no alto do auditório fossem deligadas. Fiquei surpresa porque as câmeras foram desligadas e baixadas. E mais surpresa pelo fato de que nenhum veículo mencionou esse fato nas matérias publicadas no dia ou no dia seguinte. Um dos jornalistas cobrindo o evento era um jovem repórter da GloboNews. Ele me entrevistou e eu comentei em off que talvez ele não devesse ter baixado e pudesse continuar gravando e se o general o interpelasse ele poderia dizer serena e educadamente que a empresa dele não permite que câmeras sejam desligadas em eventos públicos. (Me lembrei do diálogo entre Trump e o jornalista da CNN que cobria a Casa Branca). Bem, escrevo a vocês porque não foi só a GloboNews que “aceitou” um arranjo que não aceitamos em geral no Brasil, jamais aceitaríamos de autoridades e políticos que ocupam cargos públicos, mas parece que está se tornando aceitável quando vem de um interventor fardado, que fala raramente, como se estivesse fazendo uma concessão ao dar explicações sobre políticas públicas. (Imagine se um diretor do Banco Central ou um ministro de planejamento, vestindo terno e gravata, mandasse desligar as câmeras num evento público. Seria manchete em todos os jornais e talvez ele fosse demitido. Será que vamos naturalizar quando quem faz isto é um general em trajes militares?) Não sei se estou exagerando, mas se outras emissoras e veículos aceitassem calados a humilhação, a arrogância e o autoritarismo – recebido por todos com naturalidade – eu acharia menos espantoso. Mas a GN, O Globo, outros jornais grandes e tradicionais... me parece perto do “fim do mundo”. Eu gostaria de sugerir de alguma forma que editores e chefes discutissem com repórteres e cinegrafistas como agir nesses casos, ao saírem em missão de cobertura. Acho que veículos profissionais terão grande importância no tratamento jornalístico sobre o Brasil mais militarizado que vem se tornando presente entre nós. Mas da GN, Globo, O Dia e outros eu espero muito mais. Inclusive atitudes que poderiam ser “pedagógicas” para generais iniciantes em cargos públicos. Beijos, Silvia Ramos