Ivana Bentes explica ao MinC: não é incompátivel expandir e qualificar

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A minha amiga, a professora Ivana Bentes, diretora da Faculdade de Comunicação da UFRJ, publicou um artigo no trezentos que merece reflexão. Espero que o Ministério da Cultura tenha sensibilidade e não cometa o grave erro que ela sinaliza.   Não existe incompatibilidade entre expandir e qualificar a Rede dos Pontos  de Cultura  por Ivana Bentes Expadir ou qualificar? A questão foi colocada várias vezes pela Secretária do MinC, Marta Porto, na primeira reunião com a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, em  Brasilia.  A meu ver não existe incompatibilidade entre “expandir e  qualificar”! Ao contrário, é a expansão e suas dinâmicas que qualifica,  muito simplesmente, a rede. É  o processo todo que vai qualificando a rede e o Programa Cultura Viva, um dos mais inovadores em termos de Politicas  Públicas no Brasil, apesar dos muitos problemas de gestão. Esse velho dilema foi muito usado pela aristocracia economicista que vem desde lá o Delfim  Neto que dizia “primeiro fazer crescer o bolo e depois dividir” e nessa de esperar crescer o bolo, os recursos, a economia, iam privilegiando só uns  poucos. A nova fórmula:  “qualificar” primeiro e DEPOIS expandir também não faz sentido. São argumentos “dualistas” que não levam em conta os processos. Esse argumento e dilema também foi usado na Universidade pelos anti-cotas: primeiro “qualificar” o ensino médio, DEPOIS expandir o ensino universitário  e enquanto isso…não entram negros, pobres no ensino superior. Expansão e qualificação não estão em conflito. Tem claro que expandir ao máximo a  Politica dos Pontos de Cultura e o Programa Cultura Viva, universalizar a > tal ponto que a pergunta da nova secretária Marta Porto “o que é um Ponto de  Cultura?” perca o sentido, pois na realidade vale a resposta que foi dada,  melhor recolocar a pergunta: “O que afinal NAO é um Ponto de Cultura?”,  dentro do cenário da produção cultural atual. Estamos falando aqui de uma disputa por modelos de pensamento e gestão politica. Pois se não tivesse ido essa a decisão do MinC nos últimos 8 anos, a expansão, levar para os  Estados, Municipios etc. ai a rede dos Pontos seria hoje sim “um programa de  bolsas” como disse a Secretária e não um movimento, uma rede de redes que se constitui e ganha visibilidade  por ter encarado as urgências do presente. As mudanças no MinC, dizem, seriam respaldadas pelo que seria um “ajuste” a  politica de Dilma e ao PAC da Cultura. Mais uma vez uma inversão!  Pois o Plano Nacional de Cultura, gestado pela sociedade civil e pelos fazedores de  cultura  é que apontou a Politica Cultural para o Governo Dilma! O PAC da  Cultura do governo Dilma não pode ser uma “prioridade” que passe por cima da  Rede da Cultura já instalada!! Por que não inverter o processo e ao invés de  implementar “o PAC da Cultura” de cima pra baixo, pensar como a extensa  rede, capilarizada e com grande acúmulo em todas a áreas (economia colaborativa, educação não-formal, equipamentos cuturais) pode funcionar  como os operadores dessa politica? Durante esses últimos anos de MinC trabalhamos, da favela a Universidade, em uma experiência única na politica pública de co-gestão politica da pauta do  MinC. A rede Cultura Viva se sente parte de uma experiência de governaça que pautou e ajudou a orientar o MinC na sua politica, ações e Editais, assim como os documentos que norteiam hoje  politica de cultura no gov Dilma: o  Plano Nacional de Cultura,  a Reforma da Lei do Direito Autoral, o Marco  Civil da Internet, etc. São o fruto de 8 anos de discussões e estão ai. São  incontornáveis. Se a presidenta Dilma quer que o MinC implemente o PAC da Cultura nas  Favelas, tem que ouvir a rede dos Pontos que está nas favelas. O MinC não é um Ministério de “obras”, os grupos culturais locais nas favelas é que podem dizer que equipamentos culturais precisam para produzir. Praçinha, salas de cinema e teatro são a parte “material”, mas o financiamento de banda larga,  pública e gratuita e financiamento direto pra quem faz cultura é tão  importante quanto “obras”. Isso vale para a “Economia Criativa”, economia da cultura e tantos outros temas e politicas. O MinC afinal,  somos nós, os produtores, gestores, conceituadores, fazedores da cultura. Ivana Bentes é professora da ECO/UFRJ, Rede Universidade Nômade, e do Pontão de Cultura Digital da ECO