Jô Soares detona a Globo e ajuda você a entender o que é o BV

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Em 1987,  Jô Soares escreveu um artigo para o o Jornal do Brasil e depois o leu no Troféu Imprensa. Jô, que hoje está na Globo, explica como a TV dos Marinhos funciona em relação a classe artística. Conversando há pouco com meu amigo Antônio Mello, do blogue do Mello, ele me sugeriu que publicasse este vídeo para que as pessoas entendessem como funciona a tal Bonificação por Volume (BV). A Bonificação por Volume é o que a Globo paga para as agências, incluindo as do governo, como prêmio para que elas programem publicidades em seus veículos. E a Globo trabalha com metas. Ou elas cumprem as metas ou não recebem o mensalão... Ops, o BV. Mas a gente vai falar mais de BV em outros post. Este vídeo do  Jô Soares é didático para entender o que é a TV Globo.      Agora falando sério Em 1947, os grandes produtores de Hollywood se reuniram no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, e resolveram que artistas com tendências políticas em desacordo com seu ideário não trabalhariam mais em filmes. Surgia a lista negra e a conseqüente caça às bruxas. Em pouco tempo, não somente radicais ou liberais eram perseguidos; qualquer artista que desagradasse aos chefes de estúdio era listado e não conseguia mais trabalho. Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes não serão lá veiculados. Como a rede detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la. Neste ponto, alguém pode achar que eu estou falando por interesse pessoal. Garanto que não. Não falo pelo fato de os meus comerciais não poderem ser exibidos, nem pelo fato mais recente, das chamadas pagas do meu novo espetáculo no Scala 2 “O Gordo ao vivo” terem sido proibidas. Sou um artista muito bem remunerado e meus espetáculos têm outros meios de divulgação. Graças a Deus meus shows de humor já lotavam teatros antes que eu fosse para a Globo. Que as chamadas de “O Gordo ao vivo” não passariam na emissora eu já sabia desde outubro, pelo próprio Boni, que me disse em sua sala quando fui me despedir: – Já mandei tirar todos os seus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2, também, esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra ‘gordo’. – claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir: a megalomania ainda não é lei fora da Globo. Logo, não é por isso que escrevo pela primeira vez sobre esse assunto. Saí da Globo, onde conservo grandes amigos, com a maior lisura, e nunca me aproveitei deste espaço, ou de nenhum espaço, em causa própria. Escrevo, isso sim, porque atores que trabalham no meu programa, como Eliéser Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais. As agências foram informadas, não oficialmente, é claro – como acontece em todas as listas negras – que suas participações não seriam aceitas. É triste, nesse momento, em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, que uma empresa que é concessão do Estado cerceie, impunemente, o artista brasileiro, de um modo geral já tão mal remunerado. Finalmente, eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni numa entrevista de “office-boy de luxo”. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração.