Lula e o apoio a uma chapa Ciro e Haddad (texto atual)

Como dizia Magalhães Pinto, uma das raposas políticas mais felpudas do século passado: "Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou".

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Ontem, um texto deste blogue escrito em 14 de março de 2016 circulou talvez mais do que quando foi originalmente publicado. Nele, dizia que Lula iria voltar a fazer suas caravanas, que o Nordeste seria o ponto inicial. E que a ida à inauguração popular da transposição do Rio São Francisco, no sertão da Paraíba, seria o teste para este novo momento.  Ou seja, anunciava de alguma forma a pré-campanha de Lula. E acrescentava que alguns petistas calculavam que ele podia chegar a 40% dos votos no primeiro turno. Ao mesmo tempo, como a candidatura do ex-presidente já vivia naqueles dias uma certa insegurança jurídica, registrava Lula trabalhava com a hipótese da chapa Ciro-Haddad vir a substitui-lo. Que essa proposta tinha defensores no seu círculo mais próximo. E que tanto Ciro como Haddad gostavam da ideia. Todas as informações publicadas há dez meses eram reais e apuradas. Mas como dizia Magalhães Pinto, uma das raposas políticas mais felpudas do século passado: "Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou". Hoje, Lula e o PT já não têm a mesma disposição que tiveram com Ciro Gomes há 10 meses. E o inverso também é verdadeiro.O que não significa que um lado não respeite o outro. Na última entrevista que fiz com Lula, quando o Instituto misturou representantes da mídia tradicional e da mídia livre e independente, no dia 20 de dezembro, ao ser perguntado sobre as críticas que Ciro havia lhe feito, Lula lembrou que em 2009 articulou com Eduardo Campos, à época presidente do PSB, a mudança de domicílio eleitoral de Ciro para São Paulo com o objetivo que ele fosse candidato a governador por uma frente progressista com o apoio do PT. Que Ciro topou, mas quando chegou a São Paulo a primeira coisa que fez foi falar mal do PT e, dessa forma, inviabilizou o acordo. Na entrevista, Lula emendou que não iria falar mal de Ciro "porque gostava muito dele, mas tem gente que se auto boicota". Ou seja, Lula tinha Ciro como um dos seus prováveis planos B, mas o andar da carruagem durante 2017 fez essa hipótese ser hoje menos provável. Quanto a Haddad, que se tornou coordenador do programa de governo do pré-candidato Lula, também há restrições. Não de Lula, mas da estrutura do PT. Haddad é mais querido por petistas de fora do que de dentro do partido. Por isso seu nome hoje sofre restrições tanto para ser candidato a presidente quanto para vice ou mesmo para governador de São Paulo, o que seria algo bastante razoável já que a candidatura de Luis Marinho está tendo dificuldades para decolar. De qualquer maneira, Lula e o PT aceitam tudo nesta eleição, menos entregá-la de bandeja para aqueles que produziram o golpe. E neste sentido, a chapa Ciro e Haddad, que seria fortíssima, não pode ser descartada. Se ela viesse a ser construída sobre bases programáticas objetivas na eventualidade da prisão e impugnação de Lula, teria, na opinião deste blogueiro, grandes chances de se tornar vitoriosa. E poderia eleger muitos deputados, senadores e governadores. De qualquer maneira, este não é o debate do hoje. Neste momento, deve-se exigir que haja justiça no caso do ex-presidente Lula. E isso significa garantir sua candidatura, para que o país possa sair desta profunda crise atual. Foto: Ricardo Stuckert