Lula na Casa Civil e Michel Temer no Ministério da Justiça

A receita de 2005 não será suficiente para mudar o jogo de 2015. Esperar a turbulência passar para ver no que vai dar não resolverá o problema.

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lula temer dilmaEm 2005, no meio do fogo cerrado do mensalão, este blogueiro visitava Brasília com alguma constância para buscar medir a temperatura do clima politico. A situação era desastrosa. Em muitas ocasiões personagens centrais do governo avaliavam em of que o governo tinha acabado e que Lula não tinha estatura para ser presidente da República. Criticavam, principalmente, sua inércia em defender o governo e o partido. E atacavam-no por não entender a complexidade da crise. Era difícil discordar daquela avaliação, mesmo que intimamente a percepção fosse outra. Fora dos gabinetes palacianos, não era necessário viajar muito para se perceber que o mundo lá de fora não estava assim tão contaminado. Principalmente nos setores populares do país, os programas sociais, o aumento do salário mínimo e a geração de empregos já davam sinais de que a vida do povo poderia mudar para melhor. E esse segmento não parecia disposto a abrir mão do seu presidente Lula. Até por isso a rejeição do ex-presidente naquele momento não chegaram nunca próximos à de Dilma. E até por isso Lula conseguiu dar a volta por cima A situação de hoje é bem mais grave. Há uma clara percepção popular de que Dilma praticou estelionato eleitoral em outubro do ano passado. E de que o PT  é um partido corrupto que jogou fora toda a confiança que lhe foi depositada por muitos anos. Isso, evidente, não é generalizado, mas aparece em pesquisas qualitativas que estão sendo feitas em todos os cantos do país. Não é mais um sentimento concentrado na classe média e nem apenas paulista. O jogo ficou muito mais complexo e por isso a receita de 2005 não será suficiente para mudar o jogo de 2015. Esperar a turbulência passar para ver no que vai dar não resolverá o problema. Por este motivo, talvez tenha que se antecipar o movimento de algumas peças antes que os adversários tentem um xeque mate. E há uma jogada que apesar de muito arriscada pode dar novo sentido ao governo. Uma reforma ministerial é mais do que urgente e Dilma deveria fazer de tudo para convencer Lula a assumir a Casa Civil. Ele ficaria com o comando da política e ela com as ações de governo. Reeditariam assim a parceria de 2005, em cargos diferentes, mas com as mesmas atribuições. Lula teria de ter carta branca de Dilma para, inclusive, montar esse novo ministério pensando na governabilidade. E a presidente ficaria com as áreas mais técnicas buscando garantir a travessia da crise econômica da forma mais rápida possível. Temer manteria um certo papel na articulação política, mas poderia se tornar ministro da Justiça. Assumindo uma área que está em crise e onde José Eduardo Cardoso, que pode ter até as melhores das intenções, já não dá mais conta do recado. Uma saída dessas não é algo simples de ser realizado. E é de alto risco para Lula. Para Dilma. Para Temer. Mas ao mesmo tempo se algo arriscado não vier a ser feito agora, pode não servir daqui a algum tempo. Agora não é hora de jogar com os aspirantes. E o momento de se colocar o que se tem de melhor em campo. O atual ministério já está com o prazo vencido. E não tem mais força para garantir vitórias em votações comezinhas no Congresso.