Machado de Assis e a questão das cotas raciais

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Uma decisão da Justiça Federal suspendeu o sistema de cotas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A ação, movida pelo Ministério Público Federal, foi deferida pelo juiz Gustavo Dias de Barcellos, da 4ª Vara. Essa triste decisão foi celebrada em muitos artigos de ditos intelectuais, em muitas colunas de badalados articulistas. Gente que acha que as políticas afirmativas são injustas porque podem dividir o país e criar uma divisão racial.

Certo, somos todos idiotas. Os negros só são mais burros e vagabundos, por isso têm menor escolaridade e ganham menos que os brancos. Só por isso.

De qualquer maneira, o que me interessa aqui é comentar um texto que o editor executivo de Fórum, Glauco Faria me repassou. Trata-se de artigo do sociólogo, professor-adjunto da UFSCAR, Richard Miskolci. O título é: Machado de Assis, o Outsider Estabelecido. Não sei o que pensa Miskolci sobre a questão das cotas, mas nesse seu texto ele expõe as diferenças da chamada geração de 1870, especialmente do intelectual Silvio Romero, com Machado de Assis. E transcreve trechos onde Romero para se contrapor a Machado observa que o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas “não seria suficientemente brasileiro, antes, um homem acima da média, mas o representante de uma sub-raça cruzada, estéril e com problemas na fala, que se transferiram para sua escrita e se transferiram para o seu estilo”.

Em junho deste ano completam-se 100 anos da morte de Machado, mas o preconceito elitista ainda permanece quase intocado. Uma elite que não considera suficientemente brasileiros não só os mestiços, mas também os negros, os nordestinos, os iletrados e todos aqueles que não têm renda descente para o consumo.

Quem conhece a história do fim da escravidão no Brasil sabe bem que na Justiça sempre houve quem desse respaldo jurídico àquele sistema criminoso. Por isso, o meu único sentimento em relação a essa nova conquista dos neo-racistas é apenas de um certo nojo. Nada muito mais do que isso.