Marina é franca favorita, mas agora começa uma nova eleição

Há alguns anos quando toda a comunicação passava pelo broadcasting a eleição estaria mais decidida. Mas vivemos hoje numa sociedade interconectada digitalmente

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A pesquisa Datafolha divulgada ontem torna a candidata Marina Silva franca favorita a vencer as eleições presidenciais. Ter aberto 10 pontos de vantagem no segundo turno é muito mais significativo do que ter empatado com Dilma no primeiro. Vai ser no segundo turno a decisão final. Ao mesmo tempo, faltam 35 dias para a votação no primeiro turno. E mais 51 dias para o segundo, que vai acontecer no dia 26 de outubro. Seria pouco tempo para uma reviravolta há alguns anos quando toda a comunicação passava pelo broadcasting. Na sociedade interconectada digitalmente isso é uma eternidade. Essa eleição será de tiro rápido. A disputa ganhou contornos eletrizantes no plano federal por conta da morte de Eduardo Campos e a entrada de Marina em cena como protagonista principal. Mas não fosse isso, provavelmente o cenário teria mudado pouco até agora. Como tem acontecido nas disputas estaduais. A população ainda não se conectou ao processo de disputa. E está deixando pra se decidir de fato mais pra frente. Até porque há uma desconfiança geral com a política e os políticos. A grande maioria da população está convencida que a política não lhe muda a vida. Como se o resultado final do processo eleitoral não fosse lhe fazer diferença alguma. Porque, afinal, todos são iguais. Com Marina foi diferente, porque ela conseguiu sua conexão central com esse eleitorado. Exatamente se dizendo um deles. Fazendo o discurso de que é candidata porque está cansada de ver os todos iguais governando o país. E que é necessário se construir uma nova política. E a biografia de Marina convence o eleitor de que talvez de fato ela seja a portadora possível deste novo caminho que o país precisa trilhar. PT e PSDB polarizam há 20 anos as eleições presidenciais e esse confronto pode ter chegado a um esgotamento momentâneo. Parece haver um cansaço em ter de votar ou num ou noutro partido. Esse é o primeiro fator. O segundo é que Aécio não encarna o projeto original tucano. A começar pelo fato de não ser paulista. E o PSDB é um partido mais paulista do que qualquer outra coisa. O segundo é que ele não transmite a confiança conservadora ao eleitor médio. Aécio é boyzinho demais. Por outro lado, Dilma também não era a candidata deseja pelos eleitores do PT. Eles preferiam Lula. É a Lula que, principalmente o eleitor mais simples, devota toda sua confiança e gratidão. Se Dilma perder a eleição esse eleitor não acha que está traindo o projeto que lhe mudou a vida. Porque ele enxerga Lula como o paizão do projeto. E até acha que Dilma pode ter continuado boa parte daquilo que Lula fez. Mas nada muito mais do que isso. Ao mesmo tempo, ele vê semelhanças entre Lula e Marina. Se as eleições fossem hoje e com este cenário, não haveria a menor chance de Marina perder. O PT sairia derrotado e o PSDB humilhado. Marina assumiria a presidência criando a Rede Sustentabilidade e levaria para esse partido quantos deputados e senadores quisesse. Porque parlamentares podem se transferir para partidos recém criados. Mas ainda a uma longa travessia até o primeiro turno e uma maior ainda para o segundo. E os trackings internos das campanhas já identificam um estancamento do crescimento de Marina. E nenhum a que este blogue teve acesso fornece números tão favoráveis a ela quanto o Datafolha. Ou seja, a candidatura do PSB entrou na fase que as pessoas começam um processo de questionamento para além da emoção. Elas querem saber mais do projeto daquela que pode vir a ser a próxima presidenta. E se engana quem pensa que as pessoas estão preocupadas com a religião da candidata ou coisas do gênero. O povo não tem esse preconceito tipicamente acadêmico. Ele enxerga a religiosidade com algo natural e humanizador. E até como algo positivo. Da mesma forma que suas posições sobre aborto, casamento gay etc não vão fazer muita gente mudar seu voto. O que as pessoas querem é entender melhor o que Marina vai fazer se for presidente. E esse deve ser o debate da eleição. O de projetos para o país. O fato de o PSDB estar completamente alijado do segundo turno facilita muito as coisas se PT e Marina não descambarem para os ataques baixos, como em 2010, quando Dilma virou abortista e terrorista. O cansaço da população também é muito em relação a isso. Ela não aguenta mais eleições com esse nível tosco. Que o leva a achar que todos os políticos são iguais. Na disputa entre Marina e Dilma seria muito importante para o processo democrático se o disco virasse. Se os projetos para o país fossem o centro das discussões. E depois da apresentação do programa de governo de Marina há muito o que discutir, por exemplo, do ponto de vista econômico. O projeto de Marina prevê um Estado muito mais liberal do que o atual, defende autonomia em lei para o Banco Central e se compromete com um ajuste para levar a meta de inflação para 4,5%. Isso seguramente vai levar a um aumento dos juros e muito provavelmente gerará desemprego. O Brasil hoje vive em pleno emprego e é isso que tem garantido uma melhora na distribuição de renda nos últimos anos. Emprego também significa mais qualidade de vida. Ou seja, mais saúde e educação também vem juntos com emprego. Se o desemprego pode ser uma das consequências deste plano econômico de Marina, isso precisa ser discutido, inclusive do ponto de vista das suas causas. Ao mesmo tempo, Marina coloca em questão o pré-sal. Pretende analisar melhor os riscos do projeto e interrompê-lo enquanto isso, segundo matéria de O Globo. Se isso for realizado o país terá um imenso prejuízo. E esse debate talvez seja um dos mais importantes temas do ponto de vista da perspectiva de futuro. Como também é decisivo saber melhor qual a relação que vai ser estabelecida com Mercosul e com os Brics. Marina vai continuar no projeto do banco dos Brics, que fará um contraponto ao FMI? Dilma também precisa apresentar melhor suas propostas e projetos. Tem que assumir compromissos mais claros, como Lula fez em 2002, quando anunciou que se eleito criaria 10 milhões de empregos. Foi muito criticado, mas ganhou a eleição muito em função disso e depois conseguiu cumprir a meta. O brasileiro quer saber o que vai mudar na sua vida se uma ou outra for eleita. Ele não quer mais balanço do passado.  Quer saber do futuro. Temos uma oportunidade excelente para travar esse debate e melhorar a qualidade do processo eleitoral. Dilma nem Marina não têm histórico de difamadoras ou de construir suas carreiras transformando a política numa lata de lixo. São duas mulheres com biografias limpas e que podem tornar esse pleito em algo exemplar. Há projetos distintos em jogo. E isso é que interessa ser discutido. O quanto a vida pode mudar por aqui se o que está em voga continuar ou se a rota mudar. O brasileiro, por incrível que parece em sua maioria acha que as coisas de forma geral pioraram. Mas a ampla maioria acha que sua vida melhorou. Isso tem muito a ver com o processo de desinformação a que ele é submetido pela mídia tradicional. É hora de apostar na inteligência do povo. Ele está cansado de baixarias. E consegue entender muito melhor questões que parecem áridas hoje do que há um tempo atrás. Esse Brasil que mudou quer informação para decidir seu futuro. E neste sentido a eleição começa de fato a se definir agora. Quando os projetos podem ser melhor debatidos até porque parece já ter ficado claro quem de fato vai disputar o segundo turno.