Nem tão idiota de vaiar o hino do Chile e nem tão obtuso para elogiar o juiz

É verdade que o Brasil só não saiu da Copa por conta da trave, que talvez seja a única coisa que nos favoreceu no jogo de ontem.

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Um pouco de ufanismo não faz mal a ninguém. Gostar do seu país e cantá-lo em verso e prosa não é um problema em si. O que pode resultar disso, como a xenofobia, é outra coisa. Ou mesmo aquela visão do ame-o ou deixe-o que imperou por aqui na ditadura e que sempre tenta ser resgatada por governos democráticos. Mas isso não significa que não se possa ser um tanto ufanista. Eu, por exemplo, sou daqueles que baba pela canto de onde vim. Sou santista de quatro costados. De time, de cidade, de região (a gloriosa baixada santista). Sou também um pouco um brasileiro babão. Gosto de cada canto dessa terra. Amo-a do Sul ao extremo Norte. Adoro viajar pelos seus interiores, sou apaixonado pelo seu litoral e encatado pelas suas montanhas. Por mais babaca que isso possa parecer, sou daqueles que acha o Brasil um dos países mais lindos do mundo. Ao menos do mundo que conheço e do que já rodei. Também sou fã do povo brasileiro. Ele é generoso, simpático, guerreiro. Poucos povos do mundo foram tão injustiçados e mal tratados pelas elites do seu país como o povo brasileiro. Quanto à elite daqui, ela é o uma das coisas piores que temos. É uma das elites mais estúpidas do ponto de visita cultural e político. E uma das mais tacanhas do ponto de vista econômico. Nossa elite não gosta de museu e nem de história. Quando viaja fica correndo atrás de shoppings centers. Se diverte comprando tranqueiras em Miami. Por isso adora destruir o que temos de melhor, tanto do ponto de vista arquitetônico, quanto do ponto de vista cultural e ambiental. Mas isso não me impede de amar meu país. E de me ufanar dele na medida que não me torne um idiota, um nacionalista babaca. Por isso me envergonhei ontem com os brazucas idiotas que vaiaram o hino do Chile. Aliás, que torcida mais sem vida aquela de ontem. Não cantava, não gritava, não sofria. Era um misto de torcida ensaiada pela Globo e movida à Fifa. Era mais de maiameiros do que mineiros. Não tem nada a ver com aquele povo que levou recentemente o Galo a vencer a Libertadores e nem com o que empurrou a do Cruzeiro para o título brasileiro. Era um bando de coxinhas sem força, sem raça, sem vida. E por isso o que eles tinham a oferecer era uma vaia ao hino do Chile. Agora, não vai ser essa torcida e nem os problemas que temos no país (e que não são poucos), que vão me fazer não gostar de futebol. Que me vão me fazer torcer contra a minha seleção. Contra o time do meu país. Não vai ser isso que me vai me fazer ignorar o talento de Neymar e que vai me fazer dizer que não foi pênalti no Hulk e que o gol dele não foi legal. Não vai ser isso que vai me fazer dizer que o Brasil não foi absurdamente roubado no jogo de ontem. E que além de não dar um pênalti e anular um gol legal, o juiz amarrou o jogo o tempo todo, invertendo faltas e favorecendo o Chile em diversos momentos É verdade que o Brasil só não saiu da Copa por conta da trave, que talvez seja a única coisa que nos favoreceu no jogo de ontem. Ela era, sim, brasileira. Uma trave talvez feita de pau brasil, como disse o Xico Sá. Mas o Brasil podia ter deixado a Copa por conta do árbitro. E muita gente ia achar legal. Gente que está misturando eleição com futebol, que é uma das coisas mais imbecis que tanto esquerda quanto direita já fizeram e continuam a fazer. O Brasil pode perder a Copa e a Dilma ganhar no primeiro turno. Pode ser campeão e o Aécio se eleger. Não me surpreenderia com nenhum desses resultados. Por que eles são do jogo. E porque uma coisa não vai influenciar a outra. É por isso que vou continuar gritando Brasil em todos os próximos jogos. É por isso que vou invocar todos os santos se houver uma nova disputa de pênalti. É por isso que vou xingar o juiz quando achar que ele errou. É por isso que vou defender o Neymar, como sempre fiz quando ele jogava no Santos. Eu sou torcedor, brasileiro, jornalista e de esquerda. E eu também amo o meu país. E sua seleção. O fato é que em nome da Copa, muita sacanagem tem sido feita por aqui, principalmente do ponto de vista policial. Mas muita coisa boa tem acontecido também. O Brasil está voltando a se achar melhor do que se achava antes do Mundial começar. E isso é bom. Porque se somos um país com grandes e terríveis problemas, não somos o que tentaram nos transformar nos últimos meses. O Brasil é muito melhor do que a sua elite. E é muito melhor do que a sua mídia e do que ela tenta transformá-lo. E talvez perceber isso seja um dos grandes legados desta Copa. E não só para nós brasileiros. Para muitos que gostam de amar sua terra e sua gente, mas que não se furtam a lutar para melhorá-la.