O debate da Globo é mais decisivo para Marina

A questão de agora é saber quem enfrentará Dilma no turno decisivo. Há uma semana, Marina era amplamente favorita. Agora ela tem alguma vantagem. Mas não há mais um favoritismo tão claro. O debate de hoje à noite será decisivo para suas pretensões

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O segundo turno é uma realidade. A possibilidade de Dilma vencer no primeiro é remotíssima. Seria a maior surpresa na reta final de todas as eleições desde a redemocratização. Não pela diferença de 5% que as pesquisas apontam hoje entre seus votos e a vitória já no dia 5. Mas pelo histórico do voto no Brasil e por tudo que as pesquisas vêm apontando desde o início do ano. Ao mesmo tempo, a vitória no segundo turno passa a ser quase uma certeza para Dilma. Ela deve ter uma vantagem de mais de dez pontos para o segundo colocado. Até quase de vinte pontos. E isso dificilmente permitirá uma virada. A questão de agora é saber quem enfrentará Dilma no turno decisivo. Há uma semana, Marina era amplamente favorita. Agora ela tem alguma vantagem. Mas não há mais um favoritismo tão claro. O debate de hoje à noite será decisivo para suas pretensões. Marina terá de mostrar que tem condições de governar o Brasil. Ela não tem que provar ao distinto público que sabe ser brava, que é forte, que sabe atacar ou que é boa de se vitimizar. Isso não define voto. Há um grupo grande de pessoas que gostaria de optar por uma candidatura alternativa ao PT e ao PSDB, mas que ao mesmo tempo quer sentir consistência no projeto. E Marina despencou nas pesquisas tão somente por isso, porque seu projeto se mostrou cambaleante. Hoje, no debate da Globo, ela tem sua derradeira oportunidade para se mostrar um pouco mais consistente, mas para isso vai ter de se reinventar. Terá de guardar no bolso a rivalidade que parece ter com Dilma e ir para cima de Aécio. Mostrar que o mineiro não teria chances numa disputa de segundo turno com a petista, que lhe falta sensibilidade social, que seu partido tem tido inúmeras possibilidades de melhorar a vida das pessoas em governos de estado e de cidades e que não conseguiu fazer isso e que, por este motivo, é o adversário preferido dos petistas. Aécio certamente vai dizer que Marina é uma quase petista. E, se for inteligente, Marina não jogará o que lhe resta da sua história fora e não ficará brava com isso. Pode dizer que ela de fato não é daquelas que, como ele, chamaram o Bolsa Família de bolsa miséria, que lutaram contra aumentos no salário mínimo ou que criticaram a aprovação de leis como a que dão garantias trabalhistas às empregadas domésticas. Ou seja, Marina teria de esquecer o deus mercado e buscar diálogo com o povo. Se não fizer isso, ela não vai para o segundo turno. Aécio a superará. Vou tentar aqui explicar minha tese. Acho que Aécio vai derrotá-la no Sul com alguma facilidade. E também no Centro Oeste, onde Marina pode vencer bem em Brasília, mas perderá no resto da região. Já no Nordeste, Marina pode ter uma vantagem razoável em relação ao tucano. Mas ele tem bons parceiros na Bahia e no Ceará e pode, se ela claudicar, diminuir muito a diferença. Pra que isso não aconteça, Marina tem que manter seu voto popular intacto nesses estados. E para isso terá de se diferenciar dele em questões sociais. Essa mesma regra vale também para o Rio de Janeiro, onde a candidata do PSB tem grande vantagem sobre o tucano, mas ao mesmo tempo não tem nenhum candidato fazendo sua campanha. Uma boa vantagem sobre Aécio no Rio será fundamental para compensar a diferença de votos que Aécio vai ter de frente sobre Marina em Minas. Aliás, em Minas, Marina tem que torcer pra que Dilma tenha uma boa votação e segure o teto de votos do tucano. Porque assim a diferença entre os dois será menor. Se Aécio conseguir deslanchar no seu estado, pode vir dali a diferença que o levará ao turno final. Em São Paulo, onde Marina tinha grande vantagem, a diferença a seu favor virou pó. A tendência é que os três tenham algo próximo de 30% do votos válidos no estado. Mas Alckmim, se quiser, tem força pra garantir uma vitória de Aécio com uns 10 pontos de frente para Marina. Como disse, se quiser. Marina, por incrível que possa parecer, vai depender muito do governador tucano para não ter uma derrota com diferença considerável em terras bandeirantes. Para ir para o segundo turno, Marina teria de buscar um empate, no limite, com Aécio no Sudeste. E fazer com que a sua diferença de votos no Nordeste supere a que provavelmente Aécio vai ter no Sul e no Centro Oeste. Para tornar esse cenário realidade, Marina não pode deixar Aécio ter vida fácil no debate de hoje. E tem que fazer uma fala dirigida ao povão. Isso Aécio não sabe fazer. Ela vai tentar seduzir a classe média anti-petista e o eleitorado conservador. É disso que o PSDB entende. E é nisso que ele vai se concentrar. Marina terá a maior prova de fogo da sua história política na noite de hoje. Se for bem, pode garantir sua ida ao segundo turno. E mesmo se vier a ser derrotada depois, terá entrado no jogo das grandes disputas. E terá capital político para articular um novo partido de massas. Se for derrotada já no primeiro turno, depois de ser tida como favorita, sai menor do que entrou. E provavelmente não conseguirá mais alçar grandes voos políticos. Mas por que o debate é dela e não de Aécio? Porque se Marina for bem, não adianta o tucano ir bem. Ela conseguirá segurar seus votos e irá para o segundo turno. É ela quem está na frente. Simples assim.