O grande Alencar e a pequena imprensa

Escrito en BLOGS el

Republico aqui um texo do jornalista Carlos Brickmann para o Observatório da Imprensa. É muito mais do que um obtuário do também jornalista José Roberto Alencar, a quem tive o prazer de conhecer, mas não o de desfrutar da amizade.

Brickmann escreve aqui o obtuário da reportagem, que teve em José Roberto Alencar, um dos seus melhores representantes. Vale a pena ler.

A morte de José Roberto Alencar, um grande repórter, deixa o mundo mais pobre. Mas não empobrece o jornalismo: o jornalismo tinha ficado mais pobre já há algum tempo, ao permitir que um repórter como Alencar se afastasse das redações. Para a cúpula do jornalismo, ele não passava de um chato: era um repórter que queria, vejam só, fazer reportagens. Queria sair da cadeira, sair da Redação, usar o telefone apenas para marcar os contatos, ir até o local dos fatos para reportá-los, buscar a pauta na rua, descobrir novos acontecimentos, contar as histórias do dia a dia. Um pentelho. Competente, mas pentelho.

Salário nunca foi a maior preocupação de Alencar. Nunca foi este o problema que o levou tantas vezes a pedir demissão (exceto quando os atrasos ultrapassavam sua imensa tolerância). O que o afastou de muitos empregos foi uma equação simples: se eu sou um repórter e a empresa não quer reportagens, que é que faço por aqui? E o problema, também aí, não eram os custos da reportagem: Alencar sempre foi um repórter econômico. Costumava sair em seu velho jipe, com o pé embaixo, e muitas vezes nem se lembrava de cobrar a gasolina. Dormia o mais perto possível dos fatos – às vezes em hotéis, mas também em pensões, na casa de alguém, ou na zona. Magro daquele jeito, não era com comida que gastava: cerveja e a baixa gastronomia dos botecos o mantinham de pé.

Alencar morreu, e é nele que falamos. Mas o jornalismo está cheio de repórteres excelentes, longe da imprensa porque querem fazer reportagem. Esperaremos que morram para só então reconhecê-los em belos obituários?