O mundo fica mais pobre sem Zilda Arns

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Foram poucas as vezes que mantive contato com Zilda Arns. Mas nesses poucos momentos a sensação é de que estava próximo de um ser humano exageradamente especial. Não havia nos seus gestos, nas suas palavras, nos objetivos daquilo a que se propunha nada que não parecesse absolutamente sincero.

Lembro-me de uma das primeiras conversas que tive com ela, em um seminário sobre fome e morte na infância que deve ter acontecido no final da década de 80 ou começo de 90.

Naquela conferência ela debatera com um médico o uso da multimistura como alimento para recuperação de peso e melhoria da saúde de crianças com desnutrição e anemia.

Zilda Arns apresentava pesquisas, tabelas, fotos, lia relatos e o médico insistia em dizer que nada daquilo tinha valor científico e que todas as análises da multimistura mostravam sua ineficácia para os fins que a Pastoral utilizava. Ou seja, ele defendia sem ser claro os interesses da indústria farmacêutica.

Bem, não preciso contar para o leitor o quanto o trabalho da Pastoral e utilizando a multimistura se tornou importante não só no Brasil como em outros países pobres para garantir a sobrevivência de milhões de crianças.

Também não preciso dizer para o leitor o quanto Zilda Arns foi importante para que isso acontecesse.

O anúncio da sua morte no Haiti é tão triste quanto foi a morte de Betinho.

Poucos seres humanos foram importantes para tantos seres humanos quanto eles.

Pode parecer um tanto brega, mas não tenho dúvida que mortes como a de Zilda Arns deixam o mundo mais pobre. Em todas as suas dimensões.