Os pecados da carne não são todos iguais. Quem vendia a podre, pela denúncia, era o Grupo Peccin

A divulgação da forma que está sendo realizada faz crer que todas as empresas vendiam carne podre ou de papelão

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Há muito tempo que se diz que salsicha é feita de jornal, mas algumas podem ser de notícia estragada. E certamente devem fazer mais mal. Os artigos que publiquei sobre o episódio da Carne Fraca tem me levado a travar bons debates na rede. Há gente que concorda, mas também há muitos que estão inconformados com a posição que assumi. Não tenho nem procuração e nem gana de defender esses oligopólios. Acho, inclusive, que os governos Lula e Dilma erraram ao fazer grandes aportes de recursos via BNDES para transformar essas empresas em players internacionais. Criar uma grande rede de pequenos e médios grupos com uma marca Brasil teria sido muito mais interessante. Na Espanha, por exemplo, há várias experiências neste sentido. Mas a espetacularização midiática e a campanha entreguista realizada a partir desta operação não vão contribuir em nada nem para o desenvolvimento do país e muito menos para a melhoria do alimento que consumimos. Por isso, fui pesquisar os crimes cometidos por algumas das empresas denunciadas na operação e ofereço um breve resumo ao leitor deste espaço para que possa debater o assunto de forma mais objetiva. BRF Segundo o despacho, a BRF tinha 74 granjas de frango e 75 de peru não registradas no Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) — duas delas com incidência de salmonela. O gerente de relações institucionais e governamentais da BRF, Roney Nogueira dos Santos, teria trocado favores e enviado produtos para que a unidade da BRF em Buriti, que não tem licença para abater perus, continuasse exercendo a atividade. Em outra ocasião, Roney Nogueira dos Santos teria "apoiado" uma campanha eleitoral e dado produtos a Dinis Lourenço da Silva, chefe do Serviço de Inspeção de Produto de Origem Animal (Sipoa)/GO, do Ministério da Agricultura (MAPA), para que ele evitasse a suspensão da unidade de Mineiros (GO) da BRF. A BRF teria ainda pago a viagem da chefe do Serviço de Inspeção de Produto de Origem Animal (Sipoa)/PR, do MAPA, Maria do Rocio, à Holanda, Bélgica e Alemanha, para que ela inspecionasse uma tecnologia de abates de aves numa velocidade acima de 10.000 aves/hora por linha de abate. Antes da viagem, o Ministério da Agricultura não permitia o abate a velocidade acima desse limite, e, depois, aprovou o aumento da velocidade para 12.000 aves/hora. Há indícios, segundo o despacho, de que Roney Nogueira dos Santos teria mandado reprocessar aproximadamente 700 quilos de mortadela que teriam sido considerados inadequados, “a fim de viabilizar que produtos impróprios para consumo fossem reincluídos na cadeia de produção e oferecidos ao público”. Seara Fiscais do Sipoa/PR, do MAPA, teriam assinado certificados para liberação de cargas para exportação sem qualquer procedimento prévio de fiscalização, em troca de produtos. Grupo Peccin O despacho cita “falcatruas perpetradas para não desperdiçar alimentos podres, vencidos, doentes e mal estocados”. São citadas: - Presença de analito amido e nitrito/nitrato em salsichas e linguiças vendidas pela empresa, em níveis superiores ao máximo estipulado pela legislação, e de aditivos não previstos pela legislação e não declarados no rótulo. - A manipulação de estoques e de amostras a serem enviadas para análises laboratoriais de qualidade, de modo a fraudá-las - Carne de cabeça de porco na composição de embutidos — o que é proibido pela legislação - Ausência de refrigeração em carreta que carregava carne mecanicamente separada (CMS), usada nos produtos - Em ligação telefônica, interceptada pela PF, os sócios se referem a presunto podre que poderia ser usado para a produção alimentícia, pois estava sem cheiro. A empresa teria ainda pago propina aos fiscais agropecuários para que eles ignorassem as práticas sanitárias irregulares.