Por que demos a matéria do Frota e não publicamos a íntegra do processo

A vida não é uma disputa de quem faz xixi mais longe ou de quem tem a sorte de não ter problemas de disfunção erétil, Frota deveria deixar a máscara de Frota do lado e tentar tratar o assunto mais seriamente, talvez como Alexandre.

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  Na tarde de ontem, depois de muita reflexão na redação, decidiu-se por publicar o processo que o ator Alexandre Frota moveu contra o plano de Saúde Bradesco, em 2014, para ter direito ao implante de uma prótese peniana adequada às suas necessidades. Fórum tem a íntegra do processo, de 150 páginas, e preferiu não publicá-la. Não por motivos jurídicos, já que ele não tramita mais em segredo de justiça, como se pode ver aqui, mas porque não nos pareceu adequado e nem necessário para tratar do tema. Hoje, porém, o ator negou ao R7 a existência do processo. O site publicou apenas a sua versão, mas o documento é público e a partir do número disponível no link acima pode ser checado. Mais tarde vou fazer um Fala, Rovai especial para discutir o que nos fez decidir pela publicação. Adianto, porém, que não foi uma decisão tranquila, mas prevaleceu o entendimento de que numa situação dessas, em geral, o tema é de âmbito privado e por isso não seria notícia. Mas que no jornalismo a notícia é definida também pelas suas circunstâncias e o que ela pode trazer de relevante para o debate público. Frota usa a virilidade como arma política e desqualifica adversários utilizando-se de termos que ridicularizam aqueles que têm problemas de disfunção erétil. Um dos seus "xingamentos" preferidos é "pinto murcho". Como se o problema devesse envergonhar homens ao invés de ser algo muito mais recorrente do que parece. Um em cada cinco homens precisam de tratamento em relação à disfunção erétil após os 50 anos. Boa parte não procura um médico, exatamente por vergonha e preconceito. Algo estimulado por discursos como o de Frota. Mas não é só os homens com disfunção erétil que Frota busca ridicularizar com seu discurso macho. Ele ataca feministas, gays e lésbicas sempre utilizando argumentos que passam pela sexualidade. Frota, agora, tem a oportunidade de melhorar e passar a debater o problema de forma séria. Afinal, ele viveu um drama que aflige alguns milhões de homens. E muitos terão de enfrentar, provavelmente, as mesmas restrições com planos de saúde que se negam a dar o tratamento adequado à doença. Outros sequer terão plano e dependerão do SUS, que na opinião de Frota, é algo descartável, porque ele defende o Estado Mínimo. Enfim, como a vida não é uma disputa de quem faz xixi mais longe ou quem tem a sorte de não ter problemas de disfunção erétil, Frota deveria deixar a máscara de Frota do lado e tentar tratar o assunto mais seriamente, talvez como Alexandre. Mas se achar que não é o caso e quiser que Fórum publique a íntegra do seu processo, sem problemas. Porque se a gente não o fez até agora é porque desejamos que esta matéria sirva pra derrubar o mito das cavernas e ajude a civilizar o debate nas redes. E não o contrário.