Rabello de Castro, liberal convicto, faz diagnóstico próximo ao deste blog sobre a crise aérea

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No mesmo dia do acidente da TAM escrevi neste blog artigos que apontavam o dedo para o que me parecia o real problema do sistema aeroviário. A cobertura da mídia comercial, absolutamente comprometida com os interesses das empresas aéreas, preferiu fazer de conta que tudo poderia se resumiu a um “a culpa é do governo”. Aqui apontamos a culpa do governo, que no meu entendimento foi a de permitir que as empresas agissem como bem entendessem para obter o maior lucro possível.

Agora, depois de todo o barulho, começam a aparecer as questões que aqui listamos na primeira hora.

A seguir apresento trechos de um artigo escrito pelo jornalista Merval Pereira na sua coluna do último domingo, em O Globo. Ele reproduz a opinião do economista Paulo Rabello de Castro, que segundo o próprio Merval é um “liberal convicto”. A diferença é que Rabello de Castro trabalhou como consultor da associação dos pilotos da Varig no período em que a empresa tentava encontrar uma saída para a crise financeira. Ou seja, viu o problema de perto. E mesmo tendo uma compreensão diferente sobre como lidar com o problema, apresenta a crise da mesma maneira como pontuamos horas depois do acidente.



Publico trechos do artigo, se o leitor quiser comparar com o que dissemos no dia do acidente, basta ir descer com o mouse e reler os textos escrito sobre o tema:

“O que parecia ser a vitória do capitalismo, com o aumento da produtividade das empresas aéreas, está se revelando uma atuação selvagem, no "limite da irresponsabilidade”.



“Além disso, Paulo Rabello de Castro lembra que houve a ‘exportação de centenas de comandantes, dentre os mais experientes e bem treinados’. Segundo ele, hoje existem cerca de 400 pilotos e co-pilotos brasileiros trabalhando em companhias aéreas européias e do Oriente.”



“Ele acha que, mais que apontar as causas próximas do recente acidente da TAM, ‘o fundamental é buscar as causas remotas, que são as mais relevantes’. O governo deveria estar atento ao conjunto do serviço em si, ‘à operação da malha aérea, à capacidade das empresas de resistir a pressões para voar além dos limites admissíveis, a perícia e o exaustivo treinamento dos aeronautas e controladores’.



Paulo Rabello considera fundamental ‘questionar à exaustão por que não foram atenuados os fatores de risco controláveis, aqueles para os quais há sempre o recurso da ação humana preventiva, isto é, a aplicação das regras do setor e sua rígida fiscalização, as rotinas e procedimentos das companhias, que, em conjunto, conseguem mitigar grandemente o risco inicial da aviação comercial’’’.





“Uma das decisões anunciadas pelo presidente Lula, de exigir que as companhias aéreas tenham sempre aviões e tripulações de reserva para situações de emergência, era procedimento rotineiro quando a Varig operava, conta Paulo Rabello de Castro. O fato de as companhias aéreas que estão operando atualmente não adotarem essa medida seria sinal de que estariam trabalhando no limite de seus equipamentos, sem margem de segurança, o que aumenta o risco.”



A análise de Merval, com base na entrevista realizada com Rabello de Castro, é de que todas esses tópicos têm relação com “falhas do governo”. Ainda no dia do acidente este blog registrou que o governo tem sua cota-parte neste acidente. E ela está exatamente relacionada com a forma como permitiu esse capitalismo sanguinário no sistema aéreo, que se tornou um vale-tudo para ampliar lucros e mercado.

Agora, é imprescindível registrar que só quando ocorrem tragédias é que certos setores da mídia lembram que o Estado deve regulamentar certas atividades econômicas. Ou seja, o Estado só serve para gerenciar tragédias, o resto pode ficar para o mercado. Esse é o ridículo da coisa.