Roberto Carlos é o vilão da Flip

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“A vida como ela foi”, trocadilho infame com o “A vida como ela é”, de Nelson Rodrigues, foi o nome da mesa mais badalada até agora na Flip. Ela reuniu os jornalistas-biógrafos Fernando Morais e Ruy Castro. E também o autor de Roberto Carlos em Detalhes, o historiador Paulo César Araújo.

O centro do debate foi o risco que a biografia como gênero literário corre no Brasil. No caso de Roberto Carlos em Detalhes, a Editora Planeta, temendo os riscos do processo movido pelo cantor, aceitou retirar do mercado a obra e não os reimprimirá mais.

A decisão da Planeta foi criticada por Ruy Castro, que viveu problema semelhante com os herdeiros legais de Garrincha. Eles impediram a biografia do jogador de ser veiculada mas, segundo ele, a Editora Cia. das Letras o apoiou plenamente nos 11 anos em que o caso se arrastou.

Ao fim do debate um dos presentes na platéia sugeriu que a Flip assumisse a criação de um abaixo assinado a ser encaminhado ao presidente do Congresso Nacional para impedir que esse movimento de censura a um gênero literário se estabeleça.

A intenção é impedir que o direito de imagem possa ser utilizado como base para se praticar censura a trabalhos que tratam de personalidades públicas.

Apesar de o direito pleno a informação estar garantido na Constituição, é com base nesse artigo, que defende o direito de imagem, que os advogados dos biografados estão se apoiando para contestar a veiculação de biografias. “No meu caso, o Roberto Carlos entrou com o processo com base neste artigo e também reivindicando perdas materiais. Ele disse que como ele iria escrever a biografia dele, o meu livro lhe traria prejuízos futuros. E o juiz concordou com essa tese”, afirmou Paulo César de Araújo.

Ele ainda revelou que no dia da audiência de conciliação foi constrangido em diversos momentos pelo juiz do caso. Segundo ele, o juiz dizia com veemência que a Editora poderia ser fechada caso continuasse insistindo com o processo. E depois do acordo assinado teria pedido autógrafos e fotos com o Rei da Jovem Guarda.

Reside neste ponto mais uma questão central deste debate. A Editora Planeta é espanhola. Ao aceitar o acordo com Roberto Carlos seu cálculo foi tão somente empresarial. Ela não tem nenhum outro compromisso com o mercado editorial brasileiro que não seja o do lucro. Fez as contas de quanto teria de gastar para manter o livro em catálogo e chegou a conclusão de que o processo não compensaria.

Ou seja, a Planeta provavelmente não publicará mais biografias. Se todas as editoras decidirem fazer isso, o Brasil será um país onde as personalidades só terão publicadas suas histórias oficiais e autorizadas. Será um país ainda mais de mentirinha do que já o é.