Santa Maria: humano, demasiadamente humano

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A dimensão da dor é algo indefinível. É aquele sentimento impossível de mensurar. Cada experiência tem sua carga, sua força. Mas a dor da perda de um filho costuma ser tida como a maior de todas. Nesta semana que passou recebi a notícia da morte do filho de um casal amigo. Uma morte triste, trágica. Chocado, peguei-me durante meia hora tentando escrever um simples email de solidariedade. Um email de três linhas que, ao fim, saiu torto. Hoje, acordamos com a trágica notícia de Santa Maria, onde 250 ou mais jovens morreram num incêndio. Santa Maria deve ser hoje o ponto do globo onde a dor está mais latente. Deve ser o território mais triste do planeta. Eram todos jovens. Todos meninos e meninas vivendo um dos mais belos pedaços da vida. E filhos e filhas. Santa Maria é hoje a terra dos pais arruinados. Dos irmãos, dos tios, dos amigos, dos colegas da faculdade... Hoje Santa Maria deve estar vivendo a maior das suas dores. Mesmo sendo a dimensão da dor algo indefinível. Não é hora de balanços e nem de buscar respostas rápidas sobre quem são os responsáveis. É momento de socorro aos que ficaram. De lamber as feridas. E ao mesmo tempo de abrir  investigações. Até porque uma tragédia como a de Santa Maria é comparável à queda de um avião. Não acontece dessa forma apenas por conta de um erro. Em geral, não tem apenas um único responsável. Só uma série de irresponsabilidades poderia levar à morte mais de 250 pessoas numa casa de show. Mas algo me assutou profundamente no noticiário de hoje. A de que há testemunhas afirmando que os seguranças impediram por momentos a evacuação do lugar depois de o incêndio ter se iniciado porque exigiam o pagamento das comandas. Tomara isso seja apenas uma daquelas notícias precipitadas que se repetem em todas as tragédias deste porte. Se vier a ser verdade, será a nossa pior tragédia. A demonstração suprema de que entre salvar vidas ou salvar o capital, ficamos com a segunda opção mesmo em situações limite. Os seguranças seriam apenas uma expressão do que temos vivido e aprendido a tratar com naturalidade. Vidas têm sido asfixiadas em nome do lucro, da saúde financeira de empreendimentos. Espero, sinceramente, que em Santa Maria essa história não se confirme.