Se confiarem apenas no taco, Marta e PT vão perder feio

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A pesquisa Datafolha divulgada neste último domingo projetando a próxima eleição municipal de São Paulo não é nada animadora para a ex-prefeita Marta Suplicy. Se não é animadora para Marta é péssima para o PT paulistano. Principalmente se o partido não tiver grandeza para ultrapassar os limites da sua burocracia e tentar recriar sua forma de fazer política.

Como está com crise de lideranças ou o PT (se vier a manter a lógica tradicional de fazer política) vai de Marta. E, tudo indica, vai sofrer para fazer 20% nas próximas eleições. O que o levaria a perder boa parte das cadeiras que tem na Câmara Municipal. E se for de Marta e ela vier a perder, por exemplo, para Gilberto Kassab, pode rifar sua principal referência na cidade e ficar órfão de tudo.

Além do PT, a candidatura melhor posicionada do campo progressista é a da ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), que tem 9%. Ou seja, é preciso colocar o debate além dos nomes. Mas antes de discutir isso, vamos olhar o que a pesquisa diz. 



Os resultados do DatafolhaNo cenário que Marta disputa com Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, a ministra aparece com 24%, um índice nada desprezível. Sendo que Alckmin teria hoje 30% e Kassab 10%. Nesse mesmo cenário, Maluf teria 11 pontos e Luiza Erundina nove. Ou seja, Marta e Alckmin provavelmente iriam para uma disputa de segundo turno, com Alckmin levando uma razoável vantagem sobre a ex-prefeita.

Mas o pior resultado para o PT e para Marta aparece num cenário sem Alckmin. A ministra amplia sua intenção de voto em apenas três pontos, indo para 27%. E Kassab dobra o seu índice, indo para 20%. Ou seja, como faltam 14 meses da eleição e ele tem o controle da máquina municipal e conta com o apoio do governo do Estado, a candidatura Kassab tende a ganhar mais corpo. E sem Alckmin no jogo, poderia até passar Marta no primeiro turno, repetindo o efeito Pitta, que na eleição de 1996 quase ganhou no primeiro turno, mesmo tendo disputado contra Erundina e José Serra.

A mídia comercial vai trabalhar para que não haja crise entre Alckmin e Serra. E se crise houver, vai fazer de tudo para escondê-la. Eles sabem da importância que tem manter a prefeitura de São Paulo sob o controle do conservadorismo local.



A tal grandeza política

Para a construção de alternativas políticas progressistas é fundamental que o PT se reaproxime do bloco de esquerda (PCdoB, PSB e PDT) e busque a partir desse núcleo construir um arco de alianças no plano municipal que seja base para um outro projeto para São Paulo.

A novidade à disputa local seria um grande acordo envolvendo esses partidos e mesmo outros mais ao centro e que fazem parte da base aliada do governo Lula para definir candidaturas num processo que poderia até envolver prévias que mobilizassem a cidade, gerando um novo paradigma para a disputa local e servindo, quem sabe, de modelo para o país.

Esses partidos poderiam construir o programa dessa candidatura definida a partir desse processo tendo como base as experiências da gestão de Erundina e de Marta à frente da cidade, mas também associando-as ao espírito do movimento “Nossa São Paulo é Outra Cidade”, aceitando o desafio de trabalhar com novos critérios e metas para a gestão municipal.

Esse novo modus operandi teria ainda o mérito de dar nova dimensão ao processo político não só para São Paulo, mas para o país, já que estamos falando da maior cidade do Brasil. Seria colocar a política a favor da dimensão pública e não como refém dos interesses particulares e de grupos. O leitor pode achar ingênuo. Sim, de fato é. Mas, exageradamente contaminado por um perigoso pragmatismo profissional, é ou não é fato que estamos precisando de toques de ingenuidade no debate político?