A situação de Haddad não é tão ruim quanto parece

Haddad ainda tem quase um ano de governo pela frente e mesmo num lago só de lodo tem conseguindo dar umas remadas

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haddad 13O mais recente Datafolha aponta que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, quebrou novo recorde de rejeição na avaliação de seu governo, 49% de ruim e péssimo. E que só 15% dos paulistanos consideram sua gestão ótima ou boa. Em qualquer situação essa é uma péssima notícia. Não há como tratar números como esses apenas relativizando-os. É preciso enxergar o óbvio, Haddad está em maus lençóis para disputar sua reeleição. Ao mesmo tempo quem quiser costurar uma análise da gestão de Haddad e de suas chances para a reeleição não pode apenas olhar esses dados brutos. É preciso descer um pouco mais a análise para a parte não aparente do Iceberg. E daí surgem alguns aspectos curiosos. Haddad está melhor avaliado entre jovens e pessoas com nível de escolaridade e renda mais altos. E tem desempenho pior exatamente nos bairros da cidade onde garantiu sua eleição. Ou seja, nas periferias. Ao mesmo tempo uma pesquisa de intenção de votos mostra que se o prefeito tem 15% de ótimo é bom, apenas 12% se mostram dispostos a votar nele. E mesmo assim, com tão baixa porcentagem, ele está embolado em segundo lugar com Marta Suplicy e Datena, que têm 13%. Celso Russomano, que atualmente dispara como favorito ao pleito, tem 34%. Mas isso ainda não é tudo. Os candidatos do PSDB não empolgam e o PT mesmo tendo perdido boa parte do seu capital eleitoral na cidade ainda se mantém com 11% de preferência entre os paulistanos, liderando a pesquisa entre os partidos políticos. Tudo isso no meio da maior crise política dos últimos tempos. Que se está atingido de alguma forma a todos, está demolindo o PT. Dito isso, por que o blogueiro acha que a situação de Haddad, sendo ruim, não é tão desesperadora. Porque o prefeito tem o que defender. E mesmo governando em meio a um cataclisma político político e econômico, tem conseguido firmar uma marca de gestão. Os enfrentamentos civilizatórios que Haddad tem proposto (redução de velocidade, ciclovia, abertura de ruas aos domingos, Braços Abertos etc) constroem uma narrativa que apontam um caminho. São Paulo só será uma cidade razoável para se viver, se vier a enfrentar os seus demônios. E entre eles o carro parece ser o maior. Ou seja, São Paulo só conseguirá dialogar com o futuro, se melhorar suas artérias. Se o sangue vier a fluir menor. E para isso precisa trocar gastos com infraestrutura para carros por investimento em gente. E trocar o espaço que antes era só desses automóveis por áreas para a cidade. Haddad sabe que não ganha só com esse discurso, mas essa marca já é dele. E permite abrir um debate que fará seus adversários se posicionarem. O que dirão eles? Que são contra as ciclovias? Que são contra a Paulista aberta? Que o prefeito é maluco? Ou que as propostas não são ruins, mas têm que ser melhor discutidas? E o que acharão desses candidatos em cima do muro aqueles que estão fulos da vida com o prefeito? O que acharão aqueles que estão a favor de suas ideias? A verdade é que a pauta das eleições tende a ser dada pelo governo de Haddad. E quem dá a pauta da disputa, passa a ter mais chances. O desafio do governo petista em São Paulo é reencontrar a periferia. É ampliar o diálogo com os setores que tradicionalmente votam no partido, para que a avaliação de ótimo é bom que é de 15% agora, chegue em junho do ano que vem em pelo menos 25%. E que a de ruim é péssimo, que é de 49% caia no mínimo para menos de 40%. Se isso acontecer, Haddad entrará na disputa fazendo campanha de canudinho, mas com chance de melhorar esses índices no decorrer do primeiro turno e, com a ajuda da sua sorte, que não é pequena, passar pra reta final. Aí é que o bicho vai pegar. Hoje há um discurso geral de que Russomano perde para qualquer um no segundo turno. O blogueiro não tem essa avaliação. O apelo popular do candidato da Igreja Universal não é pequeno. E a periferia, junto com os bairros mais conservadores de classe média, podem decidir a eleição para ele. Maluf derrotou Suplicy em São Paulo com certa facilidade depois do governo de Luíza Erundina. Por outro lado, se o PSDB for ao segundo turno, a situação do prefeito tende a ser ainda mais complicada. Porque o candidato tucano terá a máquina do governo do estado a seu favor e provavelmente o apoio de todos os outros adversários. Mas e em relação a Marta e a Datena? O blogueiro acha que as pesquisas mostram que a senadora tende a ser engolida pela dinâmica de campanha e perder boa parte da sua atual intenção de votos. Já escrevi aqui que na próxima disputa Marta vai acabar saindo para deputada federal, porque suas últimas decisões lhe tiraram boa parte do seu eleitorado. Será que grupos LGBT que sempre deram grande apoio à Marta farão isso de novo depois dos rasgados elogios que ela fez a Eduardo Cunha? Datena, por outro lado, pode nem sair candidato. E se vier a sair, terá de se engalfinhar com Russomano, que tem mais estrada e eleitorado consolidado. São Paulo, como sempre, abre a temporada de caça às eleições municipais. E se tudo indica que é na cidade que o PT tem suas maiores resistências, pode ser também daqui que aconteça a volta por cima do partido. Quem estiver apostando todas as suas fichas contra Haddad pode se dar mal. Ele ainda tem quase um ano de governo pela frente e mesmo num lago só de lodo, tá conseguindo dar umas remadas. Ou seja, Haddad ainda está vivo.