Sobre ovos, ovadas, Doria e outras gemadas...

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O prefeito paulistano, João Doria, foi ontem a Salvador receber a honraria de cidadão soteropolitano na Câmara Municipal. E quando adentrava ao recinto foi atingido por um ovo, como já havia acontecido com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, no casamento de sua filha em Curitiba. A internet quebrou com a ovada de Doria. A tal da zueira never ends gerou uma multidão de memes. Muitos deles de matar de rir o mais empedernido militante Doriana. Claro, não todos, só aqueles que ainda reservam um pedaço de humor no coração. Mas depois da festança, veio a ressaca do dia seguinte e iniciou-se o debate. Vale jogar ovo no Doria? Então se vale jogar nele deve valer também no Lula, na Marina, no Ciro, no Bolsonaro, no Jean Wyllys e no presidente ilegítimo. As perguntas não foram bem essas, mas o debate está neste ponto. Ou não vale para ninguém ou vale para todo mundo. Parece uma questão muito tranquila para se responder, mas não é exatamente o caso. Primeiro, é importante que se diga que não há nada mais democrático do que a vaia. Político que não admite vaia deve voltar pra casa e esquentar o chá da tarde. Vaia é um componente fundamental da democracia. Independente de onde a mulher ou o homem público venha a estar. Isso é diferente de mandar em coro uma presidenta da República ir tomar no xu (para usar uma outra letra ao invés de c) no meio de uma cerimônia, como a abertura da Copa do Mundo. Porque o ato não é só de protesto, mas misógino. É uma violência contra uma mulher legitimamente eleita. A vaia por si não seria uma agressão. Mas e o que isso tem a ver com os ovos do Doria? A pergunta que deve ser respondida é: você considera uma ovada uma agressão? Ou uma torta na cara, como fizeram militantes anti-globalização com José Genoíno, à época presidente do PT, numa das edições do Fórum Social Mundial? Se você considera que um ovo é um objeto inofensivo e está disposto a jogar o jogo das ovadas,  numa boa, deixa estar e não se fala mais nisso. Se você acha que não, talvez seja o caso de pensar se não há outras formas de protesto para acantonar o prefeito que derruba prédio com gente dentro, que trata usuários de crack da pior forma possível, que comanda um governo que joga água em morador de rua etc e tal. Porque ovo que vai é ovo que vem. Essa é a primeira lição que você deve ter claro. A turma que joga hoje, recebe amanhã. Depois, tem outra coisa. Quem recebe o ovo tem tudo para se vitimizar. E ficar dando a cara para receber ovadas, garanto pra vocês, também pode ser uma boa estratégia para se fazer de corajoso. Eu sei que você já riu bastante com a ovada no Doria e deve ter achado o máximo que ela tenha acontecido no lugar onde ele foi se dizer baiano da gema. E que fazer essa reflexão no meio dessa diversão toda pode ser chato demais. Mas mesmo assim, acho que vale a pena. Nem sempre é se quebrando os ovos que se faz um omelete. Se, por acaso, você ao invés de sal colocar açúcar, isso pode resultar numa estranha gemada. PS: É evidente que se você não jogar ovo não significa que não vá receber ovadas. E que a luta política não se faz com distribuição de flores e lenços pela ruas ensolaradas de um país. Principalmente em momentos de radicalização. Por isso mesmo este post não oferece respostas, mas abre espaço pra reflexões. Como se diz por aí, o choro é livre. Mas a caixa de comentários também. Ou seja, sua opinião é bem-vinda.