Cid Gomes, nem herói e nem maluco, mas...

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O senador Cid Gomes (PDT-CE) levou dois tiros ontem numa ação que revela o atual estágio da política e dos ânimos da sociedade brasileira. Não dá mais para achar que o clima tóxico se concentra nas redes sociais, ele já transbordou. Há algum tempo.

O caso de Cid Gomes foi um dos mais graves dos últimos meses, mas ontem mesmo deputados se socaram na Assembleia Legislativa de São Paulo, um dos filhos do presidente atacou mulheres deputadas de maneira vil, dois estudantes foram espancados por policiais numa escola pública, um militante foi preso de forma arbitrária no Rio quando saia para comemorar seu aniversário, um universitário gay foi assassinado na Paraíba provavelmente por seguranças do local. E isso tem acontecido dia após dia.

Enfim, já não estamos mais em condições razoáveis de temperatura e pressão faz tempo, mas estamos caminhando a passos largos para algo pior. Para uma mexicanização ou colombinização do Brasil. Onde adversários políticos são enforcados e pendurados em viadutos.

Se algo não acontecer rapidamente, este será nosso destino.

E de alguma forma o que se deu com Cid Gomes dialoga com isso.

Num primeiro momento, pela atitude destrambelhada do senador de pegar um trator e jogá-lo para cima dos policiais amotinados.

Não se espera de uma liderança política que dê 5 minutos para um movimento acabar e, em isso não acontecendo, parta para a violência total.

Mas ao mesmo tempo, este ato absolutamente destemperado e não recomendado destapou a panela de um golpe que poderia estar em andamento.

As policias do Nordeste estão realizando movimentos completamente fora da lei motivadas por lideranças locais do bolsonarismo.

Parece haver uma ponte entre os interesses do Palácio do Planalto e essas ações. Ao partir pra cima dos amotinados, Cid expôs essa estratégia nacionalmente e colocou a população desta região do país, e também de outras, a par do que poderia estar sendo gestado.

Cid Gomes não é nem um doido e nem um herói, mas hoje o Brasil amanheceu falando dele e do que ocorreu em Sobral.

Se Bolsonaro esperava desestabilizar governos da região vermelha do país para intervir neles, esse plano ficou mais caro ou já se esvaiu no momento em que Cid tomou os dois tiros.

É preciso olhar com lupa o que vai acontecer neste carnaval, mas uma coisa é certa, o país amanheceu discutindo o impeachment do presidente. E isso também tem a ver com os tiros em Cid. E com o que eles fizeram sangrar.