O Datafolha de hoje de novo confirma a Pesquisa Fórum, mesmo depois da prisão de Fabrício Queiroz. Podemos descartar os fatos, mas acho que é melhor encará-los. Bolsonaro ainda está forte.
Em maio, a Pesquisa Datafolha que costumar sair 10 dias depois da Pesquisa Fórum, já havia confirmado nossos números na margem de erro. Desta vez achei que íamos ter números diferentes, porque a Pesquisa Fórum foi feita antes da prisão de Queiroz, dos dias 10 a 13 de junho.
Isso não ocorreu. A Fórum deste mês deu 35% de ótimo e bom pra Bolsonaro e 41% de ruim e péssimo. A Datafolha 32% de ótimo e bom e 44% de ruim e péssimo. Uma diferença na margem de erro depois de tudo que aconteceu.
Outras pesquisas dão números distintos. Evidentemente, confio nos dados na Pesquisa Fórum. Por isso vou arriscar alguns palpites a partir das pistas que apresentamos nesta edição de junho.
Bolsonaro se apoia no atual conservadorismo do eleitorado brasileiro.
49,4% do eleitorado brasileiro se declarou de direita e centro-direita na Pesquisa Fórum. Teve quem cuspisse fogo contra esse dado objetivo da pesquisa, desqualificando-a como um todo por conta disso. Esse pessoal, sinto muito, está completamente equivocado.
É nesse público que Bolsonaro montou seu cavalo com seu discurso de Deus acima de tudo, Brasil acima de todos, armas pra todo mundo, fechamento do Congresso e do STF etc. Esse seu núcleo duro não vai deixá-lo tão facilmente. É preciso dialogar de outra forma com essas pessoas. Com paciência e trabalho.
É preciso disputar esse público onde ele está. Nos bairros controlados pela milícia e pelo tráfico, nas igrejas evangélicas, nas rodas das famílias de classe média remediadas, onde a mulher é manicure e o marido Uber.
Umas das formas é mobilizando sindicatos, associações de bairro e Ongs progressistas pra atuar na ponta com projetos de cunho social, recriando laços com o povo e lançando cursos de formação aos milhares. Cursos de formação profissional, cultural e política. Isso é possível e atrai gente.
É preciso disputar a formação e a organização na base. Construindo novas associações do precariado e aproveitando que a base jovem é a mais simpática à esquerda, também nas escolas e faculdades. Só a escola é mais bem vista como instituição do que as Forças Armadas.
Tudo isso precisa ser feito rápido e é necessário aproveitar a eleição de 2020 para lançar candidaturas de frentes de esquerda em todos os cantos e eleger o maior número de prefeitos e vereadores que possam contribuir neste trabalho.
A partir das gestões municipais e estaduais é possível combater o conservadorismo e o bolsonarismo com iniciativas objetivas. Com renda básica da cidadania, projetos de criação de emprego cooperativados, transporte gratuito etc. É fazendo diferente que vai se apontar o caminho.
Enfim, os dados da Pesquisa Fórum e agora do Datafolha mostram que a luta é mais árdua do que parece. Ou nos preparamos para ela ou podemos continuar nos enganando a partir de análises de animadores de torcida organizada. Isso costuma não dar certo.