Mesmo com caso Covaxin, impeachment de Bolsonaro ainda é sonho distante

O deputado mais bobo do centrão sabe arrumar relógio suíço com luvas de box num quarto escuro. Ou seja, não vai ajudar a ejetar o genocida neste momento para substitui-lo por Mourão,

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A denúncia dos irmãos Miranda na sessão de ontem da CPI do Genocídio envolvendo o líder do governo Ricardo Barros (PP-PR) no esquema da compra com superfaturamento da vacina indiana Covaxin coloca mais água na fervura do movimento pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Isso é incontestável. Afinal, Bolsonaro prevaricou porque foi avisado do esquema e disse que "ali não podia mexer". Mas essa história tem outro lado. Bolsonaro foi envolvido no episódio não sozinho, mas com um forte líder do centrão, que é quem lhe segura as pontas para que o impeachment não avance. Isso de alguma maneira acaba funcionando como uma barreira em defesa do presidente.

Quando decidiu fazer um governo pragmático e menos comprometido com sua base original da antipolítica, Bolsonaro entregou sua alma ao fisiologismo do Congresso. Numa ação coordenada por políticos inexpressivos como Onyx Lorenzoni e militares como Braga Neto, ele fechou um acordo com o centrão que, entre outros movimentos, levou à eleição de Arthur Lira à presidência da Câmara.

Essa aliança previa que o centrão teria o direito de fazer o que sempre fez, levar vantagem de ser governo indicando nomes para ministérios e cargos importantes do segundo escalão. Colocando a máquina à disposição do enriquecimento ilícito de seus deputados e também de esquemas políticos paroquiais que garantem a reeleição.

E este acordo até o momento está sendo muito bem sucedido. Porque vem sendo cumprido à risca por Bolsonaro.

A prova inconteste disso foi a revelação dos irmãos Miranda na noite de ontem ao afirmarem que o presidente disse não poder fazer nada no caso das irregularidades na compra de Covaxin.

Se o presidente vem pagando o preço cobrado pelo centrão, o impeachment não vai caminhar na Câmara.

Foi assim com Michel Temer. Mesmo após o vazamento do seu áudio com Joesley Batista em que dizia "tem que manter isso aí, viu", indicando ao empresário que continuasse pagando propinas ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o processo de impeachment foi aberto, mas Temer não caiu.

O centrão tende a abandonar Bolsonaro mais para a frente se ele não se mostrar um candidato competitivo em 2022, mas isso só acontecerá lá para abril ou maio do ano que vem. Até lá, esses deputados vão tentar arrancar o máximo de emendas e cargos do governo.

O deputado mais bobo do centrão sabe arrumar relógio suíço com luvas de box num quarto escuro. Ou seja, não vai ajudar a ejetar o genocida neste momento para substitui-lo por Mourão, porque isso significaria uma mudança completa no governo e os acordos que estão sendo cumpridos pelo capitão não teriam a menor garantia de serem cumpridos pelo general.

Evidente que a ruas contam.

Se porventura as próximas manifestações pelo Fora Bolsonaro forem muito maiores que as duas primeiras, uma parte do Congresso vai balançar. Mesmo assim elas teriam que ser muito, mas muito grandes mesmo para impedir que Onyx, Ricardo Barros e Arthur Lira, entre outros, não conseguissem arregimentar os 171 (combina o número) votos que Bolsonaro precisa para não cair.

Isso significa que é fundamental lutar pelo impeachment de Bolsonaro, mas que não se deve ter ilusões de que é só assoprar pra que sua casa de palha voe pelos ares. A construção política com o centrão não é algo qualquer. Bolsonaro esteve 28 anos neste esquema, sabe muito bem como operá-lo. E Ricardo Barros que se tornou um problema também passa a ser uma solução.