O que a esquerda brasileira tem a ver com o preço do arroz....

O auxílio-emergencial será passageiro. Vai durar mais uns três meses com valor cortado ao meio. Mas a crise de abastecimento do arroz não. Porque os estoques foram consumidos e não há importação que vai conseguir baixar os preços no curto prazo.

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Um dos maiores jornalistas que conheci, o velho Aloysio Biondi, costumava dizer que o bom jornalista econômico se faz na feira e não os pregões da bolsa de valores. Que era batendo perna, olhando preços, conversando com feirantes e ouvindo o povo que surgiam as melhores pautas.

Ele tinha absoluta razão e esta crise nos preços do arroz e de outros produtos da cesta básica, como também o aumento dos preços em materiais da construção civil, foi só tardiamente descoberta pelo andar de cima.

Incluso nesse andar de cima, líderes de esquerda, jornalistas em geral, comentaristas de política etc.

A gente (eu incluso) fica muito mais atento à variação do dólar do que a dos preços na feira. Porque ou não vai à feira ou porque as compras de alimentos não chegam a ser tão impactantes para o seu orçamento econômico.

Mas o povo não. Esse compara, vê quanto gastou na semana anterior, pergunta para o vizinho que vai no outro mercado se o preço tá melhor, anota.

E quando algum produto dispara, também dispara nas classes populares a insatisfação com o governo em curso.

Enquanto Bolsonaro se refestelava na recuperação de seus índices de ótimo e bom, por dentro da economia real surgia um problema que pode lhe corroer tudo que ganhou em pouco tempo.

O auxílio-emergencial será passageiro. Vai durar mais uns três meses com valor cortado ao meio. Mas a crise de abastecimento do arroz não. Porque os estoques foram consumidos e não há importação que vai conseguir baixar os preços no curto prazo.

Se o mesmo vier a acontecer com o preço dos materiais de construção, da carne, do pão e até do macarrão, o país pode ser levado para uma tempestade perfeita, com recessão e inflação.

Isso pode vir a acontecer ainda neste ano ou no começo do ano seguinte.

Não se pode dizer que é uma tendência, mas é uma possibilidade.

E o que a esquerda tem a ver com isso? Por que o blogueiro resolveu meter a esquerda no meio deste texto?

Porque o debate do momento é esse, discutir a vida do povo. Debater o preço do arroz, o não aumento do salário mínimo que repercute no congelamento das aposentadorias, o fim do farmácia popular que está na mira do Guedes, as filas nos hospitais, o aumento do pão e da carne, o desemprego.

O povo pode estar machucado aqui e ali com um partido por conta dos malfeitos que rolaram em gestões anteriores, mas ele também está vendo que a corrupção continua firme e forte. E por isso ele quer saber de como ele pode sair desta lama atual. Como ele pode voltar a sonhar de novo.

É esse o grande debate a ser feito fora das bolhas. É essa a discussão que importa para quem levanta cedo e tem que encarar o risco do coronavírus não tendo a chance de optar pelo home-office.

E a verdade é que nunca foi diferente disso.

Não é porque estamos em um momento de redes sociais que as pessoas estão comendo bytes ou sonhando em 3D. Elas continuam tendo sua vida repleta de acertos e desacertos. E com um mês maior do que o salário.

Parece que a esquerda, contaminada pelos discursos das redes sociais, se esqueceu de falar disso. Ou aqueles que não se esqueceram, não tem sido assim tão ouvidos. É preciso usar a tecla zap e retomar o tempo perdido.

O povo quer saber do preço do arroz, amigo.