Os cenários que se abrem para as eleições de 2022 em quinze pontos

Renato Rovai analisa o resultado das eleições e a reestruturação política que se forma a partir de agora. "O que parece é que teremos três ou quatro blocos para a disputa presidencial de 2022"

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A eleição de 2020 como já escrevi num artigo de ontem à noite, ainda sob o barulho das urnas, não desembaralhou as cartas para 2022. Mas há algumas percepções que vou dividir aqui para avaliação.

1) Bolsonaro foi o grande derrotado do ponto de vista pessoal porque não elegeu candidatos que apoiou nem em cidades pequenas. O mais simbólico disso foi a não eleição para vereadora de Angra dos Reis da sua ex-assessora Val do Açai. Dos 71 candidatos que usaram o sobrenome Bolsonaro nas urnas, sendo que seis eram de fato seus parentes, apenas um, o filho Carlos, se elegeu.

2) Os partidos do centrão avançaram na eleição. Destaque para o PP, PSD, Republicanos, Podemos e DEM. Esses partidos ganharam um número bem maior de cidades do que em 2016. Bolsonaro terá que conversar muito com eles e provavelmente deve escolher alguma dessas siglas para buscar a reeleição. Aposto no PP.

3) O PSDB se tornou um partido ainda mais paulista e perdeu um número grande de cidades. O PMDB também ficou menor. Mesmo assim como tinham avançado muito em 2016, ainda continuaram grandes e com força significativa.

4) O PT ficou menor em número de cidades, não ganhou em nenhuma capital, mas vai governar mais habitantes em 2020. Ganhou em cidades médias como Juiz de Fora (570 mil habitantes), Contagem (670 mil), Diadema (430 mil) e Mauá (480 mil). Sendo que Contatem é exatamente do tamanho de Aracaju (665 mil), uma das duas capitais que o PDT ganhou.

5) O PSOL vai governar cinco cidades. Sendo uma a segunda capital mais importante do Norte, Belém do Pará (um parênteses, o vice de Belém é do PT). O partido, além disso, fez 40% dos votos em São Paulo e sai com uma grande liderança, Boulos. O PCdoB também criou uma liderança importante no Rio Grande do Sul, Manuela, mas perdeu força no Maranhão.

6) O PSB perdeu muitos votos de 2016 para 2020, mas conseguiu manter sua cidadela principal, Recife. Ciro e o PDT também mantiveram no sufoco Fortaleza e vão administrar mais cidades em 2020. Mas, para o projeto deste que pode vir a ser um bloco, as derrotas de Márcio França em São Paulo e da Delegada Marta Rocha no Rio, que sequer foram para o 2º turno, foram bastante doídas.

7) Huck e Moro não participaram das eleições de 2020 e se tornaram personagens menores para disputarem 2022. Doria passa a ser o nome mais forte deste chamado centro, que na prática é a direita clássica e lavajatista. A direita com apoio da Globo.

8) Com esse cenário, devem se constituir três ou quatros blocos mais fortes para a disputa de 2022. Vamos a eles.

9) Este ano que vem deve ser muito duro para Bolsonaro. A tendência é que a situação econômica se agrave com o fim do auxílio emergencial. Ele terá que fazer um movimento mais firme para a busca da reeleição e deve se filiar a um partido. Como já disse, aposto no PP. E deve a partir desta nova sigla buscar criar um campo com Republicanos, PTB e outros partidos menores do centrão. Talvez tentando também recompor com PSL.

10) Doria já vai sair à caça de sua frente. Ele não colocou um vice de Covas do MDB à toa na chapa. Vai tentar atrair tanto o MDB, como o DEM e o PSD para o seu projeto. Com esses partidos tentará ser o candidato de centro. O candidato do bloco da Globo, dos bancos e de boa parte do capital.

11) Ciro disputará com Doria alguns partidos desta direita liberal. Em especial o DEM. O sonho secreto de Ciro é ter Rodrigo Maia como seu vice numa chapa com o PSB junto.

12) PT e PSOL saíram muito unidos de 2020 e têm tudo para fazer uma aliança mais sólida para 2022. O PCdoB teria lugar certo nesta chapa mais à esquerda. Uma chapa Haddad e Dino sempre é lembrada pela militância desses partidos.

13) No PT, porém, há quem defenda que se busque um aliado mais à direita para um projeto presidencial. O PSD poderia ser este parceiro pelos estreitos laços que tem com o partido na Bahia. Mas o PSD, como já disse será disputado tanto por Doria quanto por Ciro. Um nome do PSD que pode vir a compor uma chapa presidencial é Alexandre Kalil, que teve uma reeleição consagradora em BH. Ele tende a ser o vice dos sonhos de muitos candidatos, mas muito provavelmente deve disputar o governo do Estado.

14) Ciro é um bom candidato sem estrutura partidária. Ele pode tentar se tornar parceiro do bloco mais global ou mais à esquerda mas tende a construir um quarto bloco na disputa. Dessa vez é provável que consiga atrair o PSB para o seu projeto e pode tentar disputar o PCdoB. Mas sabe que só com esses partidos terá dificuldade de ir ao 2º turno. Seus movimentos indicam que ele quer o DEM na sua chapa de vice. Mas o blogueiro acha que ele será enrolado e descartado por este partido como foi em 2018.

15) Por fim, o que parece é que teremos três ou quatro blocos para a disputa presidencial de 2022. Um com Bolsonaro disputando com boa parte dos partidos do centrão lhe apoiando. Outro mais de centro direita, que deve ir do PSDB, ao DEM, passando pelo MDB e talvez PSD e que tende a ser liderado por Doria. Um terceiro mais à esquerda com PT, PSOL e PCdoB que pode chegar ao PDT, PSB e talvez até ao PSD, dependendo da arquitetura e do candidato a presidente. Haddad é o favorito deste bloco, mas ainda há muita água para rolar nas conversas e Lula terá papel decisivo nesta decisão. E por fim um bloco que tem um candidato, mas ainda não tem um bloco, o de Ciro.