PT pode ficar sem nenhuma prefeitura de capital

Será que não é a hora de o partido começar a olhar mais pra fora? Pra sua militância não-orgânica e que foi tão importante pra que pudesse ser o maior partido de esquerda do hemisfério?

Porto Alegre- RS- Brasil- 04/03/2016- Militantes do PT realizam ato em apoio ao ex-presidente Lula, na esquina democrática, no centro de Porto Alegre. Foto: Duda Pinto/ Fotos Públicas
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A situação do PT para a disputa das eleições municipais de 2020 não é pior do que a de 2016, mas engana-se quem a considera muito melhor.

Em 2016 o partido havia sido vítima de uma das campanhas mais arrasadoras da mídia brasileira, que levou ao golpe consumado com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.

A situação era de quase aniquilamento e isso o levou a perder perto de 2/3 dos prefeitos que elegeu em 2012. De 630 naquele ano, fez apenas 256 em 2016.

Tinha entre outras cidades, a mais importante do país, São Paulo. E no seu entorno, que chegou a ser chamado de cinturão vermelho, Guarulhos, Osasco, Carapicuíba, São Bernardo e Santo André, entre outras. Dessas, não sobrou uma sequer pra contar a história.

Hoje a maior cidade administrada pelo PT em São Paulo é a valente Araraquara, que tem 250 mil habitantes.

A situação não é diferente em outros estados do Sul e do Sudeste. Ficou apenas a lembrança dos tempos de glória.

Como lidar com isso é o que parece estar sendo difícil para o partido.

De um lado, a história de grandes conquistas. Do outro a realidade da qual se esperava mais.

Havia uma expectativa no partido que com o governo pífio de Bolsonaro o país lembraria dos tempos melhores do PT. Não é o que está acontecendo.

Em primeiro lugar, porque mesmo fazendo um governo desastroso, Bolsonaro se mantém com índices razoáveis de aprovação. Por outro lado, porque o eleitor parece mais resiliente para perdoar o partido pelos erros que ele considera que este cometeu.

Muitos dirigentes do PT já identificaram isso. Há um certo consenso no diagnóstico, mas na hora de decidir o que se vai fazer, são variados e contraditórios os caminhos.

E isso está levando o partido a tentar uma afirmação na marra. Lançando candidatos fracos e sem condições para a disputa em muitos lugares sem tentar buscar construir alianças projetando nomes que poderiam vir da sociedade civil e ter saído candidatos ou pelo próprio PT ou por outro partido progressista.

A decisão de se abrir pouco pra nomes de fora e se ensimesmar não foi por acaso. A máquina do PT funciona olhando muito mais pra dentro do que para fora.

O resultado disso é que o partido sai para a disputa com quadros internos e sem apresentar novidades para além das que já estavam precificadas, como Marília Arraes, que pode ser candidata em Recife, mas que ainda sofre resistências locais.

O que pode sobrar disso é o PT ficar sem eleger um prefeito de capital sequer. Há algumas chances, entre elas Recife. Mas mesmo assim muito menores do que em outros tempos. Será que não é a hora de o partido começar a olhar mais pra fora? Pra sua militância não-orgânica e que foi tão importante pra que pudesse ser o maior partido de esquerda do hemisfério? Pra essa eleição, esse momento já passou, mas para as próximas essa via da renovação não deveria ser desprezada.