Quem trabalha na Folha e silencia, também é cúmplice do editorial canhestro

Qual é o limite da subjugação da opinião de jornalistas aos desejos da empresa?

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Há uma distinção entre jornal e jornalistas que precisa ser preservada e respeitada. Os jornalistas não devem responder pela opinião da empresa. E a presidenta Dilma tem o cuidado de fazê-la na sua carta resposta ao editorial da Folha que a funde a Jair Bolsonaro e a trata como o outro lado da moeda do fascista.

Se isso é algo a ser preservado, há também o espaço da dignidade profissional do jornalista que precisa ser preservado e reivindicado.

É vergonhoso que jornalistas experientes e que vivem de emitir opinião sobre tudo e sobre todos se calem quando algo assim tão bisonho aconteça abaixo e acima dos seus narizes.

Calar-se e fazer de conta que não têm nada a ver com isso é também ser cúmplice da ação de empresas como a Folha de S. Paulo que usam jornalistas como se fossem seus franco-atiradores.

Jornalista precisa ter dignidade e não se comportar como se fosse, com todo respeito, estafeta de repartição.

Não se ganha dignidade batendo palmas para a chefia, mas enfrentando-a quando necessário.

Os mesmos jornalistas de Folha que hoje se calam, são os que cobram de forma indignada, muitas vezes corretamente, autocrítica de dirigentes do PT por conta dos erros cometidos no governo do partido.

Por que nenhum tweet ou indignação em relação a este editorial? Por que sequer uma reflexão crítica para além do comentário da ombudsman? Por que fazer de conta que este texto não saiu no mesmo veículo que assina suas matérias?

É um debate que precisa ser feito. Qual é o limite da subjugação da opinião de jornalistas aos desejos da empresa?

Enquanto não fizerem esse debate com seriedade esses jornalistas deveriam ao menos se privar de cobrar de outras organizações a seriedade e o compromisso democrático que não encontram nas suas empresas.

PS: O Conselho Editorial da Folha é formado pelos seguintes jornalistas:
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Marcelo Coelho, Ana Estela de Sousa Pinto, Cláudia Collucci, Hélio Schwartsman, Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello, Suzana Singer, Vinicius Mota, Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário).