O Príncipe de Higienópolis na disputa pela narrativa do golpe

Escrito en BLOGS el
FHC escreveu o livro “Pensadores que inventaram o Brasil”. Comentários pequenos sobre grandes autores como Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, Celso Furtado, Raymundo Faoro, dentre outros. FHC é ilustrado quanto aos clássicos da política. Certamente já leu aquele moço que sobre a natureza humana afirmou que os homens são volúveis e ingratos, sempre ávidos por poder, riqueza e glória. FHC está bem acima da média dos deputados e senadores em termos de erudição política. Para aqueles que votaram pelo impedimento da Presidenta Dilma, não foi suficiente o contraditório dos defensores apelando das tribunas que as biografias seriam manchadas. Os parlamentares ou não têm noção do que isso significa ou simplesmente dão a mínima. Não é o caso do “Improvável Presidente do Brasil”. Notório os esforços do Príncipe de Higienópolis para ficar bem na galeria dos notáveis. FHC alardeou num dos seus artigos jornalísticos que é preciso que os cúmplices do golpe disputem a narrativa dos eventos. Criar e sustentar as versões. Não é porque os seus artigos são publicados simultaneamente na Folha de São Paulo e no O Globo que devem acomodar. Percebam que a disputa não é eleitoral, tão somente a prevalência de uma versão da verdade. FHC ainda não percebeu que é tarde demais. Quando eleito Presidente da República, disse que o sociólogo FHC era anacrônico e a Teoria da Dependência ultrapassada. Dessa vez foi mais longe. Na condição de Ex-Presidente sabotou a biografia do Presidente FHC e entrou de gaiato no golpe. O carimbo definitivo do “Presidente que sabia Javanês”. FHC já esteve melhor acompanhado. Ainda que possamos ter discordância das ideias de personagens como Mário Covas e Franco Montoro, indubitavelmente foram quadros políticos respeitáveis identificados com a Social-Democracia. FHC estava neste patamar e com o diferencial de ter sido Presidente da República. No entanto, desceu à vala comum de um golpe fadado a entrar na história do Brasil como um dos eventos políticos mais grotescos. FHC liga para os registros históricos e parece agir mais pelo cálculo do que pelo improviso. Quem será que o aconselha? Não creio que seja o Serra, muito menos o Aécio. Duvido que respeite intelectualmente o seu colega de fardão Merval Pereira a ponto de pautar-se pelos seus escritos para fazer análise de conjuntura. Então, o que levou o garboso senhor a sair da galeria dos prestigiosos para entrar na fila atrás do Cunha, Jucá, Calheiros, Anastasia, Sarney, Collor, Tiririca e Romário? FHC disputa a construção da narrativa talvez porque intua que a sua história política estará selada definitivamente como golpista. A grande imprensa brasileira não é parâmetro para medir a popularidade nem a honra de quem quer que seja. No Brasil, o jornalismo de exceção o protege. Mas não custa lembrar que as pesquisas sérias zelam pela qualidade das fontes. Provavelmente tomarão os artigos e entrevistas do FHC sobre 2016 como construção de narrativas suspeitas forjadas com desonestidade intelectual. FHC conquistou riqueza e poder pelos méritos próprios. Maquiavel sugeriu que o sujeito de virtù atrai para si a fortuna. A sorte sorri para aqueles que têm flexibilidade para fazer o necessário para obter êxito político. No entanto, o Príncipe de Higienópolis inquieta-se querendo a glória. Ah, a glória! Esse item tem a ver com o reconhecimento alheio. Como reconhecer a glória a um político que renunciou o posto de estadista para ser coadjuvante de um golpe que tem Cunha/Temer como atores principais? Valdemar Figueredo Twitter: @ValdemarDema2 Foto: Wilson Dias/Agência Brasil