O fator Russomanno no primeiro turno das eleições municipais de 2012

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Na fase inicial das campanhas eleitorais chamou atenção a candidatura de Celso Russomanno (PRB), que disparou na frente. Afoitos, os analistas tentavam entender o fenômeno. Seria uma reação à chata polarização entre PT e PSDB? Pelos vínculos com a Rede Record e com o PRB, os críticos constataram que a surpresa de ocasião era uma invenção da Igreja Universal. Daí para frente, os ataques foram concentrados neste "ponto fraco" da candidatura. Seja nas análises jornalísticas ou nos discursos das candidaturas rivais, foi explorado o suposto projeto de poder do Bispo Edir Macedo. O primeiro turno da eleição municipal de São Paulo em 2012 confirma um elemento também verificado no primeiro turno da eleição municipal do Rio de Janeiro em 2008: a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), como ator político, é forte na largada eleitoral, mas ainda se mostra frágil na chegada. Tomando por base os dois exemplos citados, especificamente na disputa para mandatos executivos, a estrutura política da Igreja Universal tem força para o arranque, mas não dispõe de fôlego para manter o desempenho nas longas corridas eleitorais. Aqui na cidade do Rio de Janeiro, em 2008, no início das campanhas eleitorais, mediante os primeiros resultados das pesquisas o Marcelo Crivella (PRB) era o candidato a ser batido. Vimos o mesmo na cidade de São Paulo neste ano, parecia tarefa inglória tirar Celso Russomanno (PRB) do segundo turno.

Os dados dispostos num quadro comparativo são bem convincentes para concluirmos que em eleições majoritárias o carisma religioso pode transformar-se em ameaça política. Basta que os oponentes de ocasião modulem a linguagem e explorem as divergências do campo religioso.

Primeiro turno da eleição para prefeito

Município do Rio de Janeiro em 2008

Município de São Paulo em 2012

Eduardo Paes (PMDB): 31,98%

José Serra (PSDB): 30,75%

Fernando Gabeira (PV): 25,61%

Fernando Haddad (PT): 28,98%

Marcelo Crivella (PRB): 19,06

Celso Russomano (PRB): 21,60%

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Reconheço que existem outros fatores que poderiam explicar as similaridades das quedas das candidaturas de Crivella em 2008 e de Russomano em 2012. A mais óbvia: PRB. Nesta perspectiva, faltariam pernas ao partido para acompanhar siglas como PMDB, PT e PSDB. Campanhas caras e a desigualdade do tempo no Horário Gratuito Eleitoral seriam as reais variáveis que explicariam a perda de forças nas duas últimas semanas antes do sufrágio. O fator partidário é importante para entendermos o refluxo da candidatura Russomano, mas não foi o fator determinante.

Hipótese central: candidaturas da IURD são fortes nas disputas legislativas, mas ainda são frágeis quando o sufrágio em questão é para mandatos executivos. A formação de maioria política esbarra na maioria religiosa.

Como disse, a situação é diferente nas disputas legislativas. A segmentação das denominações evangélicas podem representar diferentes propostas de representação política. A propósito, quais os resultados das urnas em relação aos candidatos indicados por lideres evangélicos no município do Rio de Janeiro? Eleição para Câmara de Vereadores do Município do Rio de Janeiro em 2012 Indicações de líderes evangélicos  

Quem indica Candidato Votos Resultado
Pastor Silas Malafaia Alexandre Isquierdo (PMDB) 33.356 Eleito
Ministro Marcelo Crivella (PRB) João Mendes de Jesus (PRB) 24.973 Eleito
Ministro Marcelo Crivella (PRB) Tânia Bastos (PRB) 24.850 Eleita
Pastor R. R. Soares Jorge Manaia (PDT) 15.812 Eleito
Pastor Abner Ferreira Eliseu Kessler(PSD) 12.717 Eleito
Pastor Valdemiro Santiago Missionário Armando José (PSB) 12.707 1ª Suplência
Pastor Ezequiel Teixeira Márcia Teixeira (PR) 10.975 1ª Suplência

Fontes: Tribunal Superior Eleitoral (TSE); Horário Eleitoral Gratuito na TV

Não realizei pesquisa exaustiva para chegar a esses resultados. Imagino que outros casos poderiam ser citados na própria cidade do Rio de Janeiro, assim como em muitos municípios pelo extenso Brasil. Nas disputas eleitorais brasileiras, “grandes eleitores” evangélicos que controlam estruturas eclesiásticas e midiáticas, comportam-se como se tivessem uma contribuição imprescindível a dar. Apontam para candidatos com seus pontiagudos dedos bentos. Qual a motivação religiosa? Qual a moeda de troca política?