Violência: Igreja foi invadida e está ocupada

Escrito en BLOGS el
Invadiram a igreja. Derrubaram os castiçais e derramaram o incenso. Desta vez foi na igreja de São José. Mas não se trata de um episódio isolado, raro ou acidental. Acontece regularmente o uso da igreja para legitimar os movimentos reacionários na sociedade brasileira. O Estado com seu braço armado invadiu a igreja, pois precisava de um lugar estratégico para agir. A igreja matriz acomoda-se em torno das prefeituras e câmaras legislativas no Brasil profundo. Lugar mais estratégico não há do que a sacada da igreja para avistar o povo na praça. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) com as portas lacradas. O povo foi despejado da sua casa. Grades de proteção e cordão humano uniformizado. A igreja devia ser o lugar de refúgio. Contudo, ela estava ocupada pela polícia. Funcionários públicos expulsos do espaço público sem a mínima chance de encontrar abrigo no espaço sagrado. Enquanto o Estado criminaliza, a igreja sataniza. Quero fazer o gesto do pobrezinho de Assis que deixou a sacada segura para se aventurar atrás da pombinha no telhado. Andarilho que segue os passos errantes da pombinha descobre-se movido pelo vento do Espírito Santo. A conclusão é simples: o Santo Espírito usa pombas como “iscas” para nos levar para perto do povo. O Vento sopra para fora. O Mistério não se apreende e a pombinha não se deixa adestrar. A igreja está praticando a teologia reversa. Quando Jesus foi violento, ele o fez porque estavam coisificando as pessoas em função do comércio. Usou o chicote para humanizar o templo. No entanto, não falo do fato isolado que ocorreu na igreja de São José no Rio de Janeiro, mas do que é rotineiro. A partir dos templos, usam armas para fazerem o povo lacrimejar. Armas de efeito moral. Não são letais. Apenas para dispersar. Nessa lógica o que há de mais sagrado é o mercado. O bezerro de ouro não divide a sua glória. Ao Estado cabe zelar pelas leis adequadas e organizar o poder coercitivo. Os funcionários públicos não são olhados como servidores, mas como peso no orçamento. Pior quando são os inativos que impactam a folha de pagamento. O ano de 2016 não tem sido fácil. Estudantes ocuparam escolas e movimentos sociais ocuparam espaços públicos. Curioso que a mídia midas deu a mínima, como se nada estivesse acontecendo. Quando a igreja foi ocupada, veja só, quem o fez foi o braço armado do Estado com ampla repercussão midiática. Percebeu? Estamos diante de uma metáfora da sociedade brasileira contemporânea. A igreja serve aos movimentos reacionários e em nome da ordem assume discursos extremamente violentos. Bombas de efeito moral lançadas das sacadas e dos púlpitos têm humilhado e dispersado quem foi à igreja à procura de acolhimento. Na rua, lacrimejam ainda sob o efeito dos gases misturados com incenso sacro. Francisco desceu do telhado e impulsionado pelo vento saiu do centro, tornou-se excêntrico, habitou na periferia. Foi lá que teve visões na igrejinha em ruínas. O místico que ao procurar Deus dá de cara com o povo e se embrenha na realidade dos que possuindo quase nada resolvem partilhar tudo.