DATAFOLHA

Vitória de Lula pode ser a maior da história da República

O lulismo desse ano é maior, mais plural, mais capilarizado, do que em qualquer outro momento da nossa história recente. Confira a análise de Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho.

Lula e Marisa servindo um cafezinho.Créditos: Acervo Estadão
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O crescimento avassalador do ex-presidente Lula na pesquisa Datafolha sinaliza não apenas uma conclusão no primeiro turno, mas também que pode vir a ser a maior vitória já registrada numa eleição presidencial no Brasil.

Na espontânea, Lula cresceu 8 pontos e agora tem 38% dos votos, enquanto Bolsonaro perdeu 1 ponto e tem 22%.

Ciro Gomes se manteve fatalmente estagnado, em 2%. A essa altura, com o mundo da política orbitando em alta velocidade ao redor das eleições presidenciais, ficar parado é sinônimo de andar para trás.

Uma coisa é ter 2% dos votos espontâneos a 300 dias das eleições. Outra é continuar com esse mesmo percentual a 130 dias do primeiro turno.

No início de junho de 2018, o Datafolha dava 12% para Bolsonaro na espontânea. Mas uma análise dos dados estratificados já permitia antever o seu potencial de crescimento. Ele liderava, por exemplo, entre homens, com 18% na espontânea, contra 11% para Lula; entre eleitores com renda de 5 a 10 salários, Bolsonaro já tinha 21% na espontânea, contra 9% de Lula.

Ou seja, ao final de maio ou início de junho de 2018, a uma distância das eleições parecida com o momento de hoje, Bolsonaro liderava em vários segmentos estratégicos.

Hoje quem lidera é Lula, que não apenas tem muito mais força do que tinha Bolsonaro nessa mesma época de 2018, como também exibe um desempenho superior ao que o própria Lula já possuiu em qualquer outra eleição que disputou no passado.

O lulismo desse ano é maior, mais plural, mais capilarizado, do que em qualquer outro momento da nossa história recente.

Em votos válidos, Lula já tem 54%, percentual suficiente para ganhar, com folga, no primeiro turno. Como os números apontam uma dinâmica de crescimento, o petista pode avançar ainda mais nos próximos meses, preparando uma vitória eleitoral em outubro superior a registrada por Fernando Henrique Cardoso em 1994 (54%) e 1998 (53%).

O próprio Datafolha cria um fato político de enorme impacto positivo para a campanha de Lula, em virtude do prestígio dessa pesquisa.

O grande aumento da expectativa de vitória de Lula amplia sua capacidade de articulação, empodera e anima seu eleitorado e militância, e assusta seus adversários, produzindo um ambiente favorável para mais crescimento daqui para a frente.

Eu gosto de fazer um paralelo com a teoria da gravidade de Einsten, também conhecida como teoria da relatividade geral.  A pesquisa Datafolha aumenta o poder gravitacional de Lula, ajudando-o a atrair e convencer setores ainda relutantes, especialmente no centro político, como o PSD de Kassab, setores independentes do MDB e PSDB, entre outros.

Em seu twitter, o cientista político Christian Lynch disse que essa pesquisa pode gerar três movimentos:

1. O centrão pode desprender de Bolsonaro mais cedo do que se imaginava.

2. O golpismo pode recrudescer. Mas a iminência da derrota também desestimula adesões;

3. Lula deve redobrar a segurança. Está lidando com assassinos e mafiosos.

Todos essas tendências, mesmo as negativas, aumentam o poder gravitacional de Lula.

Se o centrão se desprender de Bolsonaro, ele é atraído inexoravelmente para Lula, que se beneficia de uma expectativa crescente de poder.

O recrudescimento do golpismo, por parte de Bolsonaro, intensifica os movimentos pelo voto útil no primeiro turno, porque naturalmente é muito mais seguro vencer no primeiro turno, por razões tão óbvias que seria cansativo listá-las. Diremos apenas duas: uma vitória em primeiro turno tem uma simbologia muito mais forte, e evitar-se-ia um segundo turno infestado por campanhas de fake news e desinformação.

A preocupação crescente com manifestações de violência por parte do bolsonarismo miliciano e bandido igualmente oferece sólidos argumentos em favor do voto útil em Lula.

Outro efeito colateral desse Datafolha é não apenas enterrar a terceira via, até porque essa, a bem da verdade, já estava enterrada há meses, mas sinalizar para seus eleitores de que terão de escolher um lado da polarização. Do lado conservador, a pesquisa confirma que Bolsonaro já fez a limpa. Sobrou pouca gente para migrar para Bolsonaro.

Mas do outro lado, o do eleitor mais progressista, especialmente o eleitor cirista, uma boa parte deve migrar para Lula, optando por um voto estratégico.

O principal argumento pelo voto útil em Lula, que é o de ajudá-lo a vencer no primeiro turno, ganha mais força, porque se torna mais próximo e mais real.

O cartunista tímido terá que inventar outros super-herois porque o Ciranha, pelo jeito, se deixou ultrapassar pelo Lulatman.

Todos os números convergem para um aumento impressionante da força gravitacional de Lula. Os poucos segmentos onde sua candidatura ainda enfrentava alguma resistência, como o de eleitores evangélicos, já experimentam mudanças em favor do petista.

No Datafolha de hoje, Lula tem 36% dos votos totais do eleitorado evangélico, apenas 3 pontos atrás dos 39% de Bolsonaro.

Esses 36% de evangélicos lulistas devem ser examinados com lupa, porque eles representam um vetor estratégico. Eles deverão constituir, naturalmente, o principal bloco de resistência contra as campanhas de desinformação do bolsonarismo. Quando um bolsonarista evangélico postar algum ataque de baixo nível a Lula, num grupo de whatsapp, uma evangélica lulista vai rebater, ou simplesmente não vai acreditar.

Outro trunfo de Lula: segundo o Datafolha, o ex-presidente tem 58% dos votos totais entre jovens eleitores com idade entre 16 e 24 anos. Num processo eleitoral que será marcado por sangrentas guerras culturais na internet, o candidato que tiver apoio da juventude sai na frente, por causa da maior desenvoltura dos jovens no trato com redes sociais.

Ciro Gomes bem que tentou conquistar o jovem, mas foi Lula quem roubou seu coração.

A mudança de nome do Bolsa Família para Auxílio Brasil também não parece ter surtido o efeito desejado pelo governo. O Datafolha apurou que, entre beneficiários do Auxílio Brasil, 59% votam em Lula e apenas 20% em Bolsonaro.

O eleitor que recebe assistência do governo sabe que, se Lula vencer, não haverá cortes. Muito pelo contrário, sua esperança é a de que a ajuda governamental seja mais presente, porque essa é uma das grandes marcas do ex-presidente.

De qualquer forma, as projeções para o segundo turno trazem excelentes notícias para Lula, com ampliação da vantagem do petista para impressionanntes 25 pontos: 58% X 33%.

O Datafolha também fez um cenário de segundo turno entre Lula e Ciro Gomes, oferecendo ainda mais argumentos para aqueles que tentam convencer eleitores de Ciro a fazer voto útil no petista já no primeiro turno. Lula ganha de Ciro num hipotético segundo turno por 55% X 29%, 26 pontos de diferença. Esses números impedem Ciro de construir um argumento convincente para que o eleitorado antipetista desiludido com Bolsonaro vote nele, que seria o argumento de que ele, Ciro Gomes, seria o único que pode vencer Lula. Os números não apontam isso. Ciro perde de Lula tanto no primeiro como no segundo turno.

O Datafolha fez 2.556 pesquisas presenciais, abordando pessoas em pontos de fluxo, e custou R$ 473.780,00, pagos pela empresa Folha da Manhã, proprietária do jornal Folha de São Paulo.