CAFEZINHO

Análise: Ipespe e FSB confirmam crescimento de Lula

Segundo a pesquisa BTG/FSB, o petista tem 61% dos votos totais dos eleitores com renda familiar até 1 salário, contra 19% de Bolsonaro e 7% de Ciro. Isso corresponderia a 66% dos votos válidos neste segmento. Para a FSB, esse extrato corresponde a 23% do eleitorado.

Lula no Classic Hall, em Recife, 21 de julho de 2022.Créditos: Ricardo Stuckert
Escrito en BLOGS el

Duas pesquisas importantes divulgadas hoje, FSB e Ipespe, confirmam a solidez da candidatura do ex-presidente Lula, a estagnação de Bolsonaro e a desidratação dos nomes da terceira via.

Ambas são telefônicas e foram patrocinadas por instituições financeiras, a FSB pelo banco BTG e a Ipespe pela XP Investimento. Os links dão acesso aos relatórios.

A primeira, da FSB, entrevistou 2 mil pessoas e custou R$ 129 mil. A segunda fez igualmente 2 mil entrevistas, e custou R$ 84 mil.  

Vamos fazer aqui uma análise comparada, com base nas duas sondagens, que são particularmente importantes por serem regulares, ou seja, nos permitem não só contemplar uma fotografia, mas acompanhar o desenrolar de um filme.

Comecemos pelos votos espontâneos, sempre importantes por detectarem um eleitor mais determinado, e portanto mais capaz de influenciar as pessoas a seu redor.

Segundo a FSB, Lula tem 40% dos votos espontâneos, 10 pontos acima de Bolsonaro, que marcou 30%. Ciro Gomes, que chegou a 4% em abril, oscilou para 3% nos meses seguintes  e continua preso nesse patamar, que o deixa virtualmente fora do jogo. 

 Na Ipespe, Lula também pontuou 40% na espontânea, contra os mesmos 30% de Bolsonaro. Ciro, por sua vez, tem 4%, tendo oscilado um ponto para baixo desde junho. A candidatura do PDT, nessa pesquisa (como em todas), se distancia cada vez mais de um lugar no segundo turno. 

Vamos para a estimulada. Conforme a eleição se aproxima, a estimulada se torna mais importante de acompanhar do que a espontânea, pois ela reduz o número dos "distraídos", ou seja, daqueles que não falam o nome de um candidato apenas por não estarem prestando muita atenção na hora de responder. 

Aí também se identifica uma consolidação impressionante da candidatura Lula, que cresceu 3 pontos na FSB, chegando a 44%, ao passo que Bolsonaro oscilou um ponto para baixo. Com isso, a diferença de Lula para Bolsonaro cresceu de 9 pontos na pesquisa de 11 de julho, para 13 pontos, na sondagem divulgada hoje. Ciro, por sua vez, ainda não conseguiu ultrapassar a barreira de dois dígitos, e se mantém estagnado em 9%.

Na Ipespe, Lula tem os mesmos 44%, tendo oscilado um ponto para baixo. Bolsonaro, por sua vez, oscilou um ponto para cima, e tem agora 35%. 

Mesmo com essa oscilacão, os números da Ipespe são bons para Lula, porque deve-se considerar dois outros fatores: a maior proximidade da eleição, e o desempenho no segundo turno. Agora faltam apenas 70 dias para o primeiro turno, e, segundo a Ipespe, a vantagem de Lula num eventual segundo turno contra Bolsonaro seria de 17 pontos: 53% X 36%. 

As pesquisas trazem ainda muitos outros gráficos interessantes. Por exemplo, a FSB apurou o grau de certeza na decisão do voto dos principais candidatos. E o resultado é, mais uma vez, amplamente favorável a Lula. 

O petista - junto com Bolsonaro - tem o eleitorado mais consolidado: 83% dos eleitores de Lula afirmaram que sua decisão já está tomada e não vão mudar, contra apenas 16% que admitiram mudar o voto até a eleição.

O candidato que tem o eleitorado mais aberto a mudanças é justamente aquele mais próximo de Lula. Segundo a FSB, 60% dos eleitores de Ciro admitiram mudar de voto ainda no primeiro turno. 

E para onde iriam os eleitores de Ciro, caso mudem de voto? A FSB apurou que 40% migrariam para Lula, 17% não sabem e outros 14% votariam em Bolsonaro. 

Outro gráfico acentua essa tendência lulista do eleitorado de Ciro Gomes: segundo a FSB, 61% dos eleitores de Ciro votariam em Lula no caso de um segundo turno entre o petista e Bolsonaro. 

Na série histórica da FSB para um segundo turno de Lula versus Bolsonaro, o petista ampliou sua vantagem de 15 ponto na pesquisa anterior (11 de julho) para 18 pontos na sondagem divulgada hoje: 54% X 36%. 

Ambas as pesquisas apuraram a rejeição dos principais candidatos. Em ambas, Bolsonaro é o mais rejeitado: 58% dos entrevistados pela FSB responderam que não votariam nele "de jeito nenhum"; na Ipespe, a rejeição de Bolsonaro é de igualmente 58%.

Lula, por sua vez, tem rejeição de 42% na FSB e 43% na Ipespe. 

Ciro é rejeitado por 47% na FSB e por 40% na Ipespe.

Conclusão

Os prognósticos pessimistas de alguns foram negados pela realidade. No debate de Ciro Gomes X Gregório Duvivier, transmitido no dia 20 de maio, o candidato disse que o petista começaria a cair nas pesquisas. Vem ocorrendo justamente o contrário. O deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, também posou de Cassandra e profetizou que Bolsonaro ultrapassaria Lula em maio ou junho. Estamos chegando a agosto e isso não ocorreu. 

A candidatura Lula aparece cada vez mais sólida, com 40% de votos espontâneos nas duas pesquisas divulgadas hoje, e invariavelmente acima dos 40% na estimulada de todas as pesquisas. Quando se converte os percentuais para votos válidos, Lula sempre aparece muito próximo de vencer no primeiro turno.

No agregador de pesquisas do Estadão, Lula tem média de 47% dos válidos nas telefônicas e de 50% nas presenciais. Nota-se que, nas telefônicas, Bolsonaro perdeu alguns pontos nas últimas pesquisas. Nas presenciais, o cenário é de impressionante estabilidade há meses. 

Um outro ponto que merece destaque, à guisa de conclusão, é a força do ex-presidente Lula entre eleitores de baixa renda. 

Segundo a pesquisa BTG/FSB, o petista tem 61% dos votos totais dos eleitores com renda familiar até 1 salário, contra 19% de Bolsonaro e 7% de Ciro. Isso corresponderia a 66% dos votos válidos neste segmento. Para a FSB, esse extrato corresponde a 23% do eleitorado.

Entretanto, Lula lidera em outros extratos de renda: entre eleitores com renda familiar de 1 a 2 salários, o petista também lidera com folga: 52% X 26% no primeiro turno, além de 6% para Ciro. Esse extrato representa, por sua vez, 20% do eleitorado. 

O extrato seguinte, de eleitores com renda familiar entre 2 e 5 salários, corresponde a 39% do eleitorado. Neste setor, Bolsonaro tem um desempenho bem melhor, e se aproxima do petista: Lula 39%, Bolsonaro 36%, Ciro 9%.

Entretanto, apenas nas camadas mais abastadas, com renda familiar acima de 5 salários, é que Bolsonaro supera o ex-presidente Lula, e atinge 43% dos votos totais, contra 27% para Lula e 14% para Ciro Gomes. 

A análise de outras segmentações confirma a solidez de Lula. O petista vence com folga em cidades de todos os tamanhos. Em capitais, por exemplo, Lula tem 43%, contra 28% de Bolsonaro e 11% de Ciro. 

Em regiões metropolitanas (sem capital), também conhecidas como "periferias das grandes cidades", Lula chega a 50% dos votos totais, contra 28% de Bolsonaro e apenas 3% de Ciro. 

Entre eleitores de religião evangélica, que correspondem a cerca de 27% do eleitorado nacional, segundo a FSB, Bolsonaro lidera com 46%, mas Lula tem uma base evangélica razoável, de 33%, ou seja, exatamente um terço do total. É um número alto o suficiente para se tornar, naturalmente, uma muralha defensiva contra a máquina de fake news de cunho religioso, moral, ou "de costumes" que o bolsonarismo prepara para colocar em funcionamento durante a campanha. 

Outra característica, vista em todas as pesquisas, da campanha de Lula é sua força entre a juventude. Segundo a FSB, Lula tem 49% dos votos dos eleitores com idade até 24 anos, mais do que o dobro de Bolsonaro, que tem 21% nesse extrato. Ciro Gomes tem nesse segmento o seu melhor desempenho, 14%. Considerando que o eleitor de Ciro, conforme a mesma pesquisa, pode migrar para Lula ainda no primeiro turno, o voto jovem é a maior vulnerabilidade de Bolsonaro. 

Ainda sobre o voto jovem, ele será particularmente estratégico também para neutralizar campanhas de fake news oriundas do esgoto bolsonarista. A maior desenvoltura do jovem para lidar com as novas tecnologias o torna um ativo imensamente importante para qualquer candidato. Bolsonaro perdeu o voto jovem, e aparentemente isso será fatal para sua campanha à reeleição.

Outro trunfo de Lula é vencer Bolsonaro entre eleitores com ensino médio, por 40% a 32%. Em 2018, Haddad aparecia muito mal nesse segmento, o que jamais é um bom sinal, porque além de corresponder a 40% do eleitorado total, é um setor da sociedade com enorme capacidade de influenciar o voto da camada abaixo, de eleitores menos instruídos. 

A propósito, entre eleitores menos instruídos, com escolaridade até, no máximo, o ensino fundamental, Lula tem 54% dos votos totais, contra 28% de Bolsonaro e 6% de Ciro.

O petista tem 35%, contra 36% de Bolsonaro e 9% de Ciro, entre eleitores com ensino superior. A força de Lula nesse segmento é estratégicas pelas mesmas razões apontadas para aqueles com ensino médio e para jovens: é um eleitor com mais desenvoltura e confiança para as guerras culturais que serão travadas nas redes sociais, e que podem determinar o resultado das eleições.