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Quaest traz bons números para Lula: crescimento na espontânea, vitória no primeiro turno e quase 80% de eleitores decididos

Ao contrário do que provavelmente dirão alguns catastrofistas, a nova pesquisa Quaest divulgada hoje traz números excelentes para o ex-presidente Lula. O petista cresceu 2 pontos na espontânea, para 33%, e ainda vence no primeiro turno, com 51% dos votos válidos.

Lula em Campina Grande, Paraíba. 2 de agosto de 2022.Créditos: Ricardo Stuckert
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Ao contrário do que provavelmente dirão alguns catastrofistas, a nova pesquisa Quaest divulgada hoje é boa para o ex-presidente Lula.

É boa por motivos muito objetivos:

  • Lula cresceu 2 pontos na espontânea, para 33%.
  • Ainda vence no primeiro turno, com 51% dos votos válidos.
  • Mantém vitória folgada sobre Bolsonaro, em simulações de segundo turno.
  • O impacto político do Auxílio Brasil já foi, em grande parte, assimilado.
  • Ciro Gomes tem apenas 1% na espontânea, e seu eleitorado agora tende a migrar para Lula. 

Vale naturalmente um alerta: o Auxílio pago em julho ainda foi o de R$ 408,00. O valor "bombado" pela PEC, de R$ 600, deverá ser pago ao longo de agosto, então ainda poderemos ver uma melhora na avaliação de Bolsonaro entre os beneficiados nas pesquisas de setembro, com algum reflexo positivo para seu desempenho eleitoral.

Mas a pesquisa de hoje sinaliza um nível tão forte de decisão do voto, que não deve ocorrer grandes variações. Além disso, setembro será o mês da campanha na TV, quando Lula terá espaço para explicar aos eleitores de baixa renda (junto aos quais ele tem grande prestígio) que, se for eleito, não apenas o Auxílio deverá ser mantido, como seu governo deverá levar adiante um plano audacioso de combate à pobreza e geração de empregos.

O percentual de indecisos caiu 4 pontos na espontânea, demonstrando que o processo de formação de voto está se consolidando rapida e firmemente.

O grau de decisão dos eleitores avança: entre eleitores de Lula, por exemplo, temos agora 78% que consideram seu voto definitivo, percentual superior ao de eleitores de Bolsonaro, que é de 73%, e muito acima da convicção dos eleitores da "terceira via", entre os quais apenas 34% tem certeza de seu voto.

Na pesquisa estimulada para o primeiro turno, Lula oscilou 1 ponto para baixo, Bolsonaro um para cima, mas o petista mantém uma confortável vantagem de 12 pontos sobre o adversário: 44% X 32%. O petista oscila entre 44% e 46% desde dezembro de 2021.

Em votos válidos, Lula teria 51% e poderia, dentro da margem de erro, vencer no primeiro turno.

Bolsonaro vem bebendo as últimas gotas de sangue da terceira via. Na pesquisa de hoje, ele parece ter dado umas mordidas também no pescoço de Ciro Gomes.

O discurso raivosamente antipetista de Ciro pode ter causado um efeito curioso junto a seus eleitores. Todo seu esforço para emplacar a narrativa de que a raíz do mal não é Bolsonaro, e sim Lula, está fazendo com que seus próprios eleitores migrem para... Bolsonaro.

A queda de Ciro Gomes tem sido vertiginosa. Na pesquisa de hoje, ele tem apenas 5% dos votos totais, no cenário principal, metade do que possuía em julho do ano passado, e alguns pontos menos do que tinha no início deste ano.

Entretanto, há um fato incontestável nessa pesquisa - em favor de Bolsonaro.

A chegada do Auxílio Brasil mexeu no tabuleiro político, reduzindo a rejeição de Bolsonaro entre os beneficiados, puxando para baixo sua rejeição geral e melhorando sua performance junto ao eleitorado de baixa renda.

A rejeição eleitoral de Bolsonaro caiu para 55%, nível que o mantém empatado com Ciro Gomes, cuja rejeição oscilou para 53%.

Lula tem hoje rejeição de 44%.

Quando se identificam os eleitores que recebem Auxílio Brasil, Lula caiu para 52%, o que ainda o mantém numa posição muito superior aos 29% de Bolsonaro nesse extrato.

Observe, no entanto, que mesmo neste segmento, Bolsonaro avançou apenas 2 pontos, ou seja, dentro da margem de erro.

Entre aqueles que não recebem, houve mais estabilidade, com variação dentro das margens: Lula caiu de 43% para 41% e Bolsonaro oscilou um ponto, para 34%.

Nas simulações de segundo turno, o presidente Lula mantém margem confortável sobre seus principais adversários. Ele venceria Bolsonaro com 14 pontos de vantagem: 51% X 37%. Em votos válidos, o resultado seria uma surra de 58% X 42%.

Ciro Gomes seria o adversário mais fácil para Lula, segundo essa pesquisa, porque o venceria por 51% X 27%, ou 24 pontos de diferença. Nem se todos os nulos, brancos e indecisos migrassem para Ciro, ele teria condição de ganhar. Em votos válidos, o placar seria um massacre de 65% X 25%, com 40 pontos de vantagem para o petista.

A Quaest perguntou aos entrevistados qual seria, em sua opinião, o principal problema do Brasil. A preponderância de respostas relacionadas à economia e questões sociais é enorme. As respostas que apontam corrupção como o mais grave problema nacional, por outro lado, caíram em todas as faixas de renda.

Entre as famílias de baixa renda (até 2 salários), apenas 6% apontaram a corrupção como principal problema, contra 64% que disseram se preocupar mais com economia e questões sociais.

Já entre os eleitores de maior renda familiar (mais de 5 salários), 11% vêem a corrupção como o problema mais grave do país, contra uma igualmente maioria esmagadora, de 60%, que julga o combo "economia + questão social" como mais relevante.

Outro questionário cruza dados de intenções de voto no primeiro turno e os temas mais preocupantes, segundo o eleitor de cada candidato.

Entre aqueles que se preocupam mais com questões sociais e economia, Lula é muito forte. Bolsonaro ainda vence, contudo, entre eleitores mais preocupados com o tema da corrupção.

Os dados mais importantes dessa pesquisa, todavia, não são os percentuais de voto, que se mantiveram relativamente estáveis, dentro da margem de erro, e sim o declínio da avaliação negativa do Bolsonaro, que passou de 47% para 43%.

Sua avaliação positiva, por outro lado, se manteve estável, em 27%, apenas um ponto acima do nível registrado no mês anterior.

Quando se olha para dentro do extrato que recebe Auxílio Brasil, é que se nota o impacto político do programa.

Entre os que recebem Auxílio, a avaliação negativa ao governo despencou 9 pontos, de 48% para 39%, e a nota positiva subiu 4 pontos, para 28%.

Entre os que não recebem, o cenário é mais estável. A avaliação negativa caiu 3 pontos, provavelmente puxada por eleitores que, apesar de não receberem o Auxílio, tem membros da família que são beneficiados. A avaliação positiva  oscilou apenas 1 ponto para cima.

A pesquisa Quaest fez 2 mil entrevistas presenciais e custou R$ 139 mil. Foi paga pelo banco Genial.

Conclusão

A pesquisa é extremamente positiva para o ex-presidente Lula, que apresenta condições de vencer no primeiro turno mesmo após o impacto do Auxílio Brasil.

A entrada em vigor da PEC da Emergência, que elevou em 200 reais o valor total do Auxílio, de R$ 400 para R$ 600, é a última grande cartada do governo para melhorar sua performance eleitoral.

Bolsonaro vem conseguindo, de fato, ganhar pontos entre eleitores beneficiados pelo programa, mas esse efeito provavelmente se diluirá nas próximas semanas, especialmente porque o ex-presidente Lula é visto, pela maioria, como o mais capaz de trazer soluções para problemas relacionados à economia, à fome e à pobreza.

Por exemplo, entre aqueles que vêem a questão social como o principal problema do país, Lula tem 58% dos votos totais, contra 17% de Bolsonaro e 5% de Ciro Gomes.

Ou seja, a dinâmica das grandes preocupações nacionais deverá favorecer o ex-presidente Lula, sobretudo quando se iniciar a campanha nos grandes meios de comunicação.

Bolsonaro e Ciro Gomes, por sua vez, tem apenas a cartada lavajatista para atacar Lula, um tema que, segundo essa mesma pesquisa, é visto como secundário para a maioria dos eleitores, de qualquer classe social, mas especialmente para as famílias de baixa renda.

Os extratos mais reacionários e antipetistas dos eleitores de Ciro Gomes já começaram a migrar para Bolsonaro. Boa parte dos  5% que restam devem ser de eleitores mais progressistas, que tendem a migrar para Lula ao longo das próximas semanas, na medida em que a inviabilidade do candidato for se tornando evidente.

E ainda temos a possibilidade do candidato André Janones se unir a Lula, entregando-lhe um ou dois pontinhos a mais do total de votos.

Com isso, Lula, que já tem votos suficientes para vencer no primeiro turno, pode ganhar uns três pontos de Ciro, um pouco de Janones, além da possibilidade de virar votos bolsonaristas na reta final.

Mais alguns pontos da pesquisa que merecem destaque

Lula cresceu dois pontos no Nordeste, para 61% dos votos totais, ao passo que Bolsonaro caiu na região, para 20%. É uma diferença brutal, sem perspectiva de mudar, e que também ajuda a neutralizar os efeitos do Auxílio Brasil.

O petista se mantém rigorosamente empatado com Bolsonaro no Sudeste, ambos com 37%. No Sul, vem abrindo vantagem crescente sobre Bolsonaro: já tem 41%, contra 32% do atual presidente.

O Centro-Oeste, conhecido por seu eleitorado conservador, também está surpeendendo e votando em Lula: o petista atingiu 40% na região, cinco pontos acima de Bolsonaro.

Lula oscilou um ponto para cima entre eleitores com ensino médio, para 43%. Esse eleitorado instruído é estratégico.

O petista segurou, sem alteração, seus 33% de votos entre eleitores com curso superior.

Um ponto de preocupação para a campanha de Lula é o voto evangélico. Mesmo nesse extrato, porém, Lula vem resistindo: ele oscilou apenas 1 ponto para baixo, e tem 29% do total, contra 48% de Bolsonaro. Em toda pesquisa, Lula vem mantendo cerca de um terço do eleitorado evangélico. Esse um terço liderará a resistência contra as campanhas proselitistas de algumas lideranças evangélicas reacionárias.

Quanto se examina o voto por faixa de renda, Lula tem mais que o dobro dos votos de Bolsonaro entre famílias com renda até dois salários; vence por 43% X 33% na faixa intermediária, com renda familiar de 2 a 5 salários; mas perde por 45% X 32% entre eleitores com renda familiar acima de 5 salários.

A performance na classe média, numa campanha na qual as redes sociais têm enorme importância, será determinante para todos os candidatos. Mas Lula tem um trunfo importante, que poderá compensar o desempenho numericamente inferior junto aos extratos mais ricos, que é o apoio da classe artística.

O ativismo pró-Lula da classe artística, especialmente daqueles com grande penetração nas redes, deverá beneficiar o ex-presidente conforme se elevar a temperatura da campanha eleitoral, neutralizando a mobilização espontânea de setores antipetistas da classe média.

A íntegra da pesquisa pode ser baixada aqui.