Rapaz descobre o paradeiro do pai por tweet que viralizou

Acusado de inventar "fic", Gabriel acabou se reconectando com a família perdida

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Antes de engravidar de Gabriel, aos 21 anos, Daniela Fernandes da Silva e o namorado, Jeferson Vieira, não queriam sabe/r de nada e viviam pela vida sem trabalhar, usando drogas e curtindo adoidados na cidade de São Jerônimo, no interior do Rio Grande do Sul. Depois que ele nasceu, Daniela começou a estudar para concursos e buscar uma condição melhor para o filho. O pai de Gabriel não quis mudar de vida e, assim, ela foi morar com a mãe e o filho de um ano. O pai mudou-se para Capão da Canoa, na praia, e Gabriel cresceu sem notícias dele. [caption id="attachment_201342" align="alignnone" width="1024"] Gabriel e a mãe, Daniela (Arquivo Pessoal)[/caption] "No dia dos pais era horrível na escola. Minha mãe tinha que ir explicar que eu ia faltar. E por muito tempo eu nem quis correr atrás porque achava uma falta de respeito com minha mãe, já que ele nunca teve nenhum interesse. Soube pouquíssimo dele e nem fui atrás, tinha muita mágoa", conta o jovem. Com esse ressentimento incubado cresceu Gabriel, hoje um bailarino de 23 anos, morador de Porto Alegre (RS). [caption id="attachment_201343" align="alignnone" width="750"] Reprodução/ Instagram[/caption] Eis que, há algumas semanas, uma tia de Gabriel encontrou a postagem de um livro que será lançado em janeiro e foi escrito por... Sim, pelo pai dele. Perplexo e despretensiosamente, Gabriel fez um tweet. E foi dormir. Quando acordou, tinha viralizado, já tinham "investigado", concluído que era mentira, batido o martelo do Tribunal de Pequenas Causas da Internet e já o acusavam de usar uma história triste para "lacrar". Inclusive esses detetivíssimos da internet vieram me ensinar a exercer minha profissão e me avisar que era tudo mentira. Pois não, não era. E o irmão dele, até então desconhecido, veio confirmar a história.  Aos que diziam que era "fic" (de ficção), ele respondeu: Falei com Gabriel algumas vezes. No primeiro dia, ainda magoado e surpreso, ele ainda falava da hipocrisia de um pai que o abandonou escrever sobre criar filhos com boa saúde mental. Mas as coisas foram mudando, ele foi sabendo mais, e descobriu uma série de desencontros e mal entendidos que levaram ao pai acreditar que não deveria fazer contato, mesmo depois de ter ficado "limpo", virado pastor e formado outra família. É claro que sempre ficamos com um pé atrás; afinal, 5,5 MILHÕES de crianças não têm o nome do pai na certidão, segundo pesquisa divulgada 2019 pela Assessoria de Comunicação do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família). Não é o caso de Gabriel, já que seus pais anda viveram juntos algum tempo. Mas simplesmente ter o nome na certidão, ou mesmo pagar pensão, não significa que a paternidade está sendo exercida. Homens, conversem sobre isso, fazendo o favor, e de preferência sem se comparar a gorilas ou qualquer outro animal. Alguns nunca conseguirão encontrar seus pais, vítimas de descaso e de um abandono machista que coloca toda a responsabilidade de criar o filho nas costas da mãe, quer ela esteja preparada ou não. Em um país que sugere que os jovens deixem de fazer sexo em vez de oferecer educação sexual, em um país onde a interrupção da gravidez é crime, a maternidade é, muitas vezes, compulsória. Bom, mas voltando ao Gabriel, que viveu com a mãe, a avó e uma mágoa imensa: ele finalmente conheceu, ou reconheceu, o pai e o irmão, e disse que já se sente incluído na família, que não precisa ser de comercial de margarina para desenvolver laços, ainda que tardios, de amor. Toda sorte do mundo para ele nesta surpresa que a vida trouxe e que os palpiteiros de plantão aprendam que, para saber o que acontece, às vezes é só perguntar. Algumas news são apenas news (aliás, se é notícia, é fato: fake news é uma contradição em termos, né?). E, afinal, a ficção é que imita a vida. E ah, o livro existe, sim, e será lançado, agora com muito mais verdade.