700 MHz: testes de convivência entre a TV e 4G necessitam ajustes, diz SET

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Em comunicado a ser divulgado nesta quinta-feira, 8/5, a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) contesta parte dos testes laboratoriais e de campo realizados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em Santa Rita do Sapucaí (MG) e em Pirenópolis (GO), respectivamente. Embora considere os testes necessários, a SET quer que eles sejam feitos direito, observando as normas técnicas definidas pela própria Anatel.

Publicada em 08/05/2014 7:42
Em: Circuito de Luca / IDGNow

A cargo da Inatel, os testes contam com a participação de técnicos da própria SET, de algumas emissoras de TV, da OI, do SindiTelebrasil, da Huawei (responsável pelos protótipos) e até da própria Universidade Presbiteriana Mackenzie, como observadora.

Os resultados nos testes de laboratório, segundo fontes próximas à empreitada, foram muito coerentes com os resultados dos testes anteriormente realizados pela Mackenzie para a SET. As informações coletadas chegaram a revelar aspectos não percebidos antes. Já os testes de campo foram não foram terminados, em função da pressa da Anatel em pôr o edital do leilão dos 700MHz na rua. A preocupação da SET é não só que haja mais tempo para que os testes de campo sejam concluídos, como também que alguns ajustes sejam feitos para refletirem de fato o que ocorrerá na implantação de sistemas que operem de acordo com a Resolução 625/2013.

Só assim, no entender da entidade, poderão ser obtidos resultados completos, gerados por análises consistentes, “que permitam conclusões seguras, que não venham a comprometer, no futuro, a prestação dos serviços envolvidos”.
O comunicado

De um modo geral, segundo o comunicado da SET, “os resultados mostraram que, nos casos mais críticos, o mero uso de filtros, ainda que simultaneamente nos receptores de TV e nos transmissores das ERBs, não permite a convivência entre a TV e o LTE (4G), que só poderá ocorrer a partir de revisão nas especificações da Resolução no. 625/2013 da ANATEL, com mudanças nas condições de ocupação da faixa, tais como o aumento da banda de guarda”.

De acordo com a SET, embora as medidas feitas durante os testes da Anatel confirmem o quadro obtido dos testes da universidade Mackenzie, o fato das características técnicas estabelecidas pela Resolução no.625 não terem sido tomadas como referência para os testes da Anatel, é um agravante. “Foram utilizados protótipos de ERB e de celulares 4G cujas características eram significativamente melhores do que as determinadas pela referida Resolução. A consequência disso é que os resultados obtidos diretamente das medidas não refletem o que ocorrerá na implantação de sistemas que operem de acordo com a Resolução 625?, afirma a entidade.

Para que os resultados obtidos reflitam o que ocorrerá na implantação de sistemas, a SET alerta que os testes devem ser feitos considerando fatos como:

1 – as condições de convivência com sistemas LTE operando com emissões indesejáveis iguais, e próximas aos limites normativos – Até aqui os equipamentos testados apresentavam emissões fora da faixa de operação muitíssimo menores (mais de mil vezes no caso do uplink) do que as especificadas na Resolução 625. Portanto, para qualquer conclusão, é necessário relativizar a atuação dos filtros e das técnicas de mitigação.

2 – o uso de estação móvel veicular ou estação terminal com potência 10 vezes maior do que os terminais de usuários (celulares) testados.
Além disso, a SET observa que:

1 – A Resolução 625 prevê a utilização do Bloco 1, o mais próximo do canal 51, por sistemas de segurança pública, defesa nacional e infraestrutura. A mitigação dessa interferência sobre a recepção de TV Digital não foi testada. As medidas de mitigação feitas para o Bloco 2, mais afastado, não podem ser extrapoladas para o Bloco 1.

2 – Os resultados obtidos para a recepção através de antenas internas com amplificador mostram a presença de interferência não mitigável com a introdução de filtros, tornando-se necessária a troca por antena externa.

3 – A Anatel reconhece a necessidade de troca de antenas internas por antenas externas nas residências. Porém, essa troca de antena de recepção de TV tem impactos significativos sobre os telespectadores, dados os obstáculos dessa alteração. Pesquisa recente do IBOPE informa que um quarto dos domicílios da grande São Paulo depende exclusivamente de antena interna para ver TV.

4 – Os testes não chegaram à especificação de filtros para a rejeição do sinal de LTE (4G) que possibilitariam a convivência dos serviços de telefonia e TV digital.
Também segundo fontes que têm acompanhado tudo de perto, os testes de campo da Anatel estão para serem retomados, com previsão de término no fim de maio. Esses resultados são necessários para a publicação do Edita, que está em consulta pública. Que segurança uma operadora de telefonia terá em colocar milhões de dólares em algo que ele não sabe exatamente como será? Se vai ter que mitigar menos ou mais a interferência que existe, de fato?

A SET considera que, até o momento, os resultados dos testes da Anatel não possibilitam assegurar a convivência entre os serviços, em faixas adjacentes, consideradas as características técnicas estabelecidas pela Resolução 625. E são muitas as variáveis: condições de rejeição de espúrio, de potência, filtros nas ERBs e de filtros nos receptores de TV e de telefonia, de troca de estações transmissoras de TV.

No início do ano, a SET já havia tornado pública a intenção de apresentar ao governo algumas sugestões para mitigar o problema de interferência. Entre eles, a obrigação das operadoras de celular 4G utilizarem potência de transmissão mais baixa. “Do jeito que está, se não diminuir potência, tanto da estação base quanto dos dispositivos móveis, praticamente não tem filtro que segure”, disse na época o presidente da SET, Olímpio José Franco.

Os riscos?

Do lado da TV, segundo Gunnar Beddicks Jr., da Universidade Mackenzie (SP), os problemas mais sérios acontecem nos canais 46 a 51, cuja recepção digital chega a desaparecer totalmente diante de uma transmissão em LTE. “A tela fica escura”, garante o especialista, explicando que as falhas de sinal variam conforme a localização das antenas e a potência dos transmissores.
Do lado dos celulares, o risco, segundo os especialistas, é o não funcionamento nos dispositivos portáteis já em uso (GPSs, modens 3G,todos os terminais OneSeg) que podem ser todos praticamente perdidos, porque não tem como colocar filtro nos aparelhos que já foram fabricados.

O que todos os setores esperam do governo é que ele defina quantos e quais serão os filtros necessários para mitigar ao máximo a interferência. Novas normas serão necessárias para definir quais filtros e condicionantes deverão ser usados nos receptores de TV, nos dispositivos móveis, nas ERBs.
O edital do leilão de 700MHz colocado em consulta pública pelo governo não especifica os filtros nas estações e nos receptores. Para que os filtros funcionem, outras condicionantes também precisam estar controladas. Portanto, há muito trabalho por ser feito, no governo. A definição do tamanho do filtro do receptor depende da especificação do filtro no transmissor. Isso é básico para começar a pensar na mitigação da interferência e vai requerer maior rigor nas normas.

Abinee não vê problema

Para complicar um pouco mais o cenário, nesta quarta-feira, 7/5, a Abinee, entidade que representa os fabricantes de equipamentos de telecomunicações, apresentou os resultados dos testes de convivência entre o Sistema de banda larga móvel (LTE) e o Sistema de TV Digital realizados pelo CETUC/PUC-RJ, com patrocínio patrocinado da Alcatel Lucent, Motorola Solutions, Nokia (ex Nokia Solutions and Networks) e Qualcomm.

Os resultados? “Mesmo nas eventuais situações desfavoráveis, a convivência entre os dois sistemas é sempre possível, desde que aplicadas técnicas de mitigação”, afirmou o diretor do grupo setorial de telecomunicações da Abinee, Luciano Cardim.
Até o momento, a Abinne é a única entidade que defende abertamente que o leilão dos 700MHz aconteça de acordo com o cronograma da Anatel, ainda em 2014. A meta do governo é a de que o leilão aconteça em agosto. A Abinne também defende que o leilão priorize investimentos e melhoria de qualidade da rede móvel e mantenha todo o espectro de 45+45 para banda larga móvel.

As avaliações realizadas pelo CETUC foram feitas com equipamentos comerciais – ERBs, televisores, celulares e chips – aderentes aos padrões de cada tecnologia em condições de uso, no espectro de 45+45. “Após os resultados obtidos em laboratório e também em campo, podemos afirmar que agora temos parâmetros reais para avaliar a convivência dos sistemas. Se tivéssemos usado somente os padrões teóricos, teríamos incorrido nos mesmos erros do Japão e da Inglaterra”, afirmou Cardoso.
Na opinião de Wilson Cardoso, membro do grupo setorial da Abinee, os testes demonstraram, também, que as interferências da TV Digital no Sistema LTE não foram suficientes para afetar a disponibilidade de banda larga móvel aos usuários.

“Após os resultados obtidos em laboratório e também em campo, podemos afirmar que agora temos parâmetros reais para avaliar a convivência dos sistemas. Se tivéssemos usado somente os padrões teóricos, teríamos incorrido nos mesmos erros do Japão e da Inglaterra”, afirmou Cardoso.
Quem tem razão?

A nós, consumidores, cabe torcer para que o governo faça o dever de casa direito, harmonizando os diversos interesses. Inclusive o seu, próprio, de fazer caixa através da arrecadação com o leilão de 700MHz.

O leilão está programado para agosto e segundo o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, deverá arrecadar R$ 8 bilhões para os cofres públicos.

Acima de tudo, e de todos, deveria estar o interesse maior do cidadão brasileiro, de ter o direito de usar sua TV Digital e o seu celular 4G, juntos, sem contratempos.