A internet nas campanhas: a revolução que não aconteceu

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Texto publicado em : Portal Yahoo


Por Alberto Oliveira, especial para o Yahoo! Brasil

Quando o presidente americano Barack Obama se elegeu, após fazer uma campanha apoiada na internet e nas mídias sociais, correu mundo a idéia de que as eleições nunca mais seriam as mesmas. No Brasil, o uso da web cresceu significativamente no pleito de 2010, mas não foi suficiente para melhorar o desempenho dos candidatos nas pesquisas. Antes mesmo do final da disputa, já tem muita gente tentando identificar o que deu certo e o que deu errado nas estratégias articuladas via rede.

Especialistas no assunto apontam alguns dos problemas que ocorreram.
Na ânsia de estar na internet, e por conta disso parecerem inovadoras, as campanhas eleitorais acabaram esquecendo de questões fundamentais: qual o papel da web, o que informar e como ajudar o eleitor a se decidir? Esses são os princípios defendidos por Crawford Kilian, em seu livro “Writing for the Web”.

Kilian foi o primeiro a analisar a importância do conteúdo na web. Para ele, erra quem se preocupa mais com o visual do que com o conteúdo, pois é o conteúdo que está por trás de tudo e o que as pessoas buscam na internet.



Sob esse ponto de vista, as campanhas majoritárias foram as que mais pecaram. De uma maneira geral, elas se preocuparam com o colorido do visual e recursos de multimídia utilizados para defender-se ou apontar o dedo na ferida do adversário. O eleitor que foi buscar informação para decidir sobre o seu voto, na melhor das hipóteses conseguiu ver um vídeo engraçado, ou um joguinho para se distrair.

“A internet [nas eleições no Brasil] foi usada muito mais como ferramenta de panfletagem de baixo custo e sem critério e para arrecadar dinheiro facilmente”, aponta o especialista em mídias digitais André de Abreu. Esses objetivos, segundo ele, trazem resultados frágeis e de curta duração. “Não se entendeu o fator ‘relacionamento’ desta mídia”, frisa Abreu.



Mas como já era de se esperar, os responsáveis pelas campanhas na web garantem absoluto sucesso. A campanha de José Serra (PSDB) chegou a contratar o americano de ascendência indiana Ravi Singh, da empresa ElectionMall, para turbinar a ação online. Mas o ‘guru’ gorou. Foi dispensado sem ter contrato renovado, após ser criticado por tucanos, especialistas da internet e de marketing.

A campanha tucana na rede emprega uma plataforma de compartilhamento, integrando site e redes sociais, com o objetivo de unir eleitores e o candidato. Entretanto,  quem não tem muita habilidade com a internet fica confuso, sem saber para onde ir. As opções não são claras.

Soninha Francine, responsável pela campanha de Serra na web, frisa que muitas pessoas “torceram o nariz”, por exemplo, para os formulários de cadastro do site. “Diziam que ‘internauta detesta essas coisas’’, contou. “Mas um site de campanha é diferente, com um público muito especial.”

Já o site de Dilma Rousseff (PT), assim como o de Serra, possui página com vídeo, que abre antes de todos os outros conteúdos do site. Com alguma dificuldade, o eleitor encontra ali um pequeno botão de entrada para o restante do conteúdo. Mas logo de início se depara com um pedido para se cadastrar e receber notícias da candidata, sem que lhe seja apresentado exatamente que tipo de conteúdo ele terá.



Essas características dos sites dos principais candidatos a presidente da República fogem às regras de usabilidade, ou seja, experiência do usuário com a internet, de acordo com especialistas no assunto.

Segundo Jacob Nielsen, considerado o “papa da usabilidade” e autor dos dez mandamentos sobre o tema, que é referência para profissionais de internet, “o sistema deve mostrar os elementos de diálogo e permitir que o usuário faça suas escolhas com facilidade, sem ter de lembrar um comando específico”. Em outras palavras, o internauta deve ter à sua disposição todo o ferramental necessário para escolher o que melhor lhe seja conveniente e não ter de ficar procurando.

Diferentemente de Serra e Dilma, a candidata do PV, Marina Silva, soube aproveitar com mais eficiência os recursos da internet. As redes sociais tiveram um papel muito importante para o seu marketing. Isso se comprova na recente pesquisa de monitoramento de marcas feita pelo M&M Online, que a apontou como a candidata melhor avaliada entre os usuários das redes sociais, como Orkut, Facebook, Twitter, na blogosfera e nos sites de notícias. Marina ficou com 84,03%; Serra com 58,94%; e Dilma com 45,12%. No entanto, embora haja conteúdo que poderia ser esclarecedor ao eleitor, ao acessar sua página, a primeira informação vista por ele é um pedido de doação.

Redes sociais
“A crença de que as redes sociais salvariam campanhas mal planejadas provocou uma sobrecarga de uso equivocado”, pontua o especialista André de Abreu.

Abreu, que também é membro do COM+, grupo de pesquisa em comunicação, jornalismo e mídias digitais da ECA-USP, não acredita na tão aguardada campanha em que a internet seja decisiva, mas entende que passamos por um processo de amadurecimento da mídia. Nesse sentido, a web poderá ser um instrumento útil para criar base de campanha e manter o público próximo dos mandatos.

Na prática, a idéia de fazer no Brasil o que Obama fez nos Estados Unidos não se mostrou viável. “O que poucos políticos – ou talvez nenhum – copiaram da campanha de Obama foi o planejamento e o investimento que houve dois anos antes das eleições americanas para a criação de vínculos, relacionamentos e construção de base de dados”, argumenta.

O responsável pela campanha petista, Marcelo Branco, admite usar Obama como exemplo. “Obviamente, a estratégia usada por Barak Obama é diferente da que nós adotamos no Brasil”, disse. “A situação no Brasil é outra e vem de outra realidade. Quem sabe da estratégia política e da coordenação política são os partidos aliados. Quem sabe da estratégia de marketing são os brasileiros e as brasileiras”, completou ele.

Marqueteiros virtuais
O relato dos responsáveis pelas campanhas na web é de total sucesso. Soninha Francine, da campanha de José Serra para presidente, acredita na possibilidade de um candidato ser eleito com o suporte da internet, “embora a gente não possa desprezar outras poderosas influências sofridas pelo eleitor - a liderança comunitária, o padre, o pastor, o radialista, o patrão etc”.

A maior surpresa da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo foram as adesões no Twitter. “O senador foi o único dos candidatos de São Paulo que chegou ao trending topics mundial por mais de duas horas”, comentou Sergio Amadeu, responsável pela campanha virtual.

Na campanha web de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo de São Paulo, os acessos aumentam 25% a cada semana, segundo sua assessoria. Os resultados no Twitter também são animadores, ultrapassando a marca de 30 mil seguidores. Mas, quando questionados se a internet contribui para o aumento do eleitorado, seus assessores são cautelosos. “A internet é hoje o canal mais completo para o eleitor avaliar o candidato”, argumentam.

#plinio
Entre erros e acertos, os presidenciáveis também investem no Twitter. A verde Marina Silva tem recorrido com frequência a ‘twitaços’, ato de campanha para incluí-la entre os assuntos mais comentados da rede de microblog. Na manhã de segunda-feira (27), Marina ultrapassou Dilma Rousseff em número de seguidores no Twitter.

A vantagem foi anunciada pela equipe de campanha do PV, em evento realizado na região central de Guarulhos, na Grande São Paulo. No início da noite, Marina reunia 238.151 seguidores, enquanto 234.107 acompanhavam a petista. O tucano José Serra, adepto do Twitter há mais tempo, está na dianteira dos presidenciáveis em número total de seguidores: 451.454.

Mas não há dúvida de que um dos efecientes no uso da ferramenta é Plínio de Arruda Sampaio, candidato a presidente pelo PSOL, que virou febre no Twitter e acumulou várias referências nos trending topics da rede.

Além de promover rodadas de bate-papo com internautas pelo Twitter, ele chegou a fazer um debate ‘paralelo’ após ter ficado de fora do evento promovido pelo jornal Folha de S.Paulo e pelo portal UOL. Acompanhando o debate em tempo real, Plínio disparou contra todos e cumpriu a promessa de “furar o muro do silêncio”.