A lição Devassa

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Manuel Castells, pesquisador espanhol, em 1999 publicou um livro que se tornou referência nos estudos contemporâneos em comunicação: A Sociedade em Rede. Porém, é em sua mais recente publicação que Castells aborda a relação das redes com o poder. O livro Comunicación Y Poder (editora Alianza, 2009) aponta como os meios de comunicação estão transformando as redes em sistemas capazes de configurar novas conexões alterando profundamente as relações de poder em nosso tempo. Estas transformações se dão em todos os níveis, nas relações do Estado e o poder na era global, nas relações de trabalho (econômicas) e nas relações da sociedade em rede global.

As redes são um conjunto de nós interconectados. A vida social das redes são estruturas comunicativas. “Las redes de comunicación son las pautas de contacto creadas por el flujo de mensajes entre distintos comunicadores en el tiempo y en el espacio (MONGE Y CONTRACTOR, Apud CASTELLS, 2009, pág. 45). Ou seja, as redes estão em pleno processo de interação e são plenamente capazes de se configurar, se auto-programar e, no aspecto mais importante, desconectar uma rede caso ela fuja das regras pré-estabelecidas.

Este comportamento característico da sociedade em rede atual pode criar um enorme descompasso entre os temas tratados pela mídia e os temas tratados pelas redes sociais. É nesta velocidade na troca de mensagens, papéis e capacidade de substituição de “nós” considerados obsoletos, é que reside o maior desafio das emissoras de TV aberta frente às tecnologias de informação.

A TV aberta está em sérios apuros. Pois, ela como um nó de uma rede que existe antes mesmo das redes de informação virtual enfrenta o problema de não poder se configurar e re-configurar de forma tão rápida quanto as redes da web. Prova disto, é o comercial da cerveja Devassa, da empresa Schincariol, retirado do ar pelo Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) em seu lançamento no Carnaval de 2010, por suposto apelo sexual excessivo.

A prova da capacidade das redes de se auto-programarem e se re-configurarem? Bastou proibir o vídeo para que no mesmo dia ele fosse postado no YouTube. Resultado? Mais de dois milhões de pessoas viram o comercial na internet (de acordo com a cervejaria) sem a empresa pagar um centavo para isso.

O sucesso foi tanto, que a cervejaria lançou outro comercial agradecendo às pessoas pelo sucesso do filme anterior. E mais, faz uma brincadeira trazendo novamente Paris Hilton como garota propaganda exibindo uma mulher seminua, mas com uma tarja nos seios com a legenda de que, caso os consumidores quisessem, poderiam ver o filme sem cortes na internet.

É bem verdade que não foi culpa das emissoras o comercial não ter ido ao ar. Mas, se levarmos este exemplo para outras importantes áreas da televisão tais como: programas comprados por uma determinada emissora, mas não levado ao ar para prejudicar os concorrentes (a Globo faz isso), cobertura jornalísticas em desencontro com o interesse das redes, pode-se perceber a capacidade das redes contraporem as informações da TV aberta que até pouco tempo, levaria dias para acontecer.

Poucos anos atrás, uma atitude desta como a do Conar, traria um grande prejuízo à cervejaria. O alto investimento na produção do filme comercial poderia ser totalmente perdido. Mas os tempos são outros, como afirma Castells, “el poder em la sociedad red es el poder de la comunicación”.

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Fonte: CASTELLS, Manuel. Comunicación Y Poder: Editora Alianza. Madri, 2009