A pesquisa em Comunicação

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Campo ainda permeado por críticas quanto à falta de um rigor científico próprio que caracteriza uma área científica, a pesquisa em comunicação enfrenta desafios comuns pelos quais passaram todas as áreas do entendimento humano que um dia almejaram em se tornar um campo científico balizado por pesquisas produzidas dentro de um rigor metodológico próprio. Lopes (1994, p. 15), afirma que o estudo sistemático da Comunicação de Massa no Brasil, se deu mais como resultado do fenômeno de comunicação massiva iniciado na década de 50 “do que das descobertas científicas que justificassem o aprofundamento de um campo do conhecimento”. Boa parte desses estudos, afirma a pesquisadora, influenciados pelas pesquisas nas Ciências Sociais, o que traziam paradigmas teóricos e metodológicos que direcionavam as pesquisas para o viés etnográfico ou classista, originários da Europa Ocidental. Além dessa linha teórica, diversas outras correntes são utilizadas para nortear a pesquisa em comunicação e o estudo de seus fenômenos que firmam “uma tradição de investigação (...) na Antropologia, Ciência Política, Psicologia, Semiologia e outras” (LOPES, 1994, p. 29).

Miège (2000) também resgata as correntes fundadoras dos estudos da Comunicação e da formação do pensamento comunicacional, a saber: o modelo cibernético, a abordagem empírico-funcionalista dos meios de comunicação de massa e o método estrutural e suas aplicações lingüísticas. O modelo cibernético entende a comunicação sob a ótica de uma teoria estruturalista. Em seus estudos em todos os casos existe um emissor, um canal físico, um receptor e um repertório de signos. Desta forma o modelo pretende:

decompor o universo em pedaços de conhecimento, ser capaz de traçar seu roteiro e depois recompor um modelo, simulacro desse universo, aplicando certas regras de reunião ou interdição, mas procura leis de conjunto a partir desses elementos, de oposições pertinentes (figura/fundo), e acaba se tornando uma atitude dialética opondo figura e fundo, formas e mensagens, ordem e desordem, sinal e ruído (MIÈGE, 2000, p. 26)


Já a abordagem empírico-funcionalista “traz em seu bojo (...) o princípio da liverdade da informação e o do liberalismo econômico” (MIÈGE, 2000, p. 33). Ou seja, comunicação segue um linha funcional dentro do esquema da interação humana. Precursores desse pensamento foram Paul Lazarsfeld, Carl Hovland e Harold Lasswell. Por fim, o modelo das aplicações lingüísticas adentra no campo da semiologia e da psicologia.

Desta forma, a pesquisa em comunicação se torna um objeto de pesquisa em si mesmo, pois a falta de um consenso e um padrão metodológico próprio abre inúmeras possibilidades de pesquisa realizadas dentro de uma interdisciplinaridade com outros campos científicos. Assim, no alvorecer do Séc. XXI surge com maior força a necessidade de se observar criticamente a pesquisa em comunicação para que se possam apontar quais são os modelos que poderão dar conta de analisar os fenômenos pelos quais a sociedade vem passando devido à popularização das tecnologias da informação. Com o surgimento da internet, o computador pessoal passou a ser também um veículo de comunicação com uma característica peculiar e que se distancia das teorias clássicas da comunicação de massa. Johnson (2001) caracteriza o veículo como muitos-muitos, onde todos podem ser ao mesmo tempo emissores e receptores e há uma grande troca e diversidade de mensagens .

Assim, quais serão os caminhos da pesquisa em comunicação dentro do contexto tecnológico dos meios de comunicação de massa? Qual o melhor modelo de pesquisa? Qual campo científico pode nos dar melhores condições de observar e analisar os fenômenos comunicacionais de nosso tempo? A pesquisa em comunicação deve ter consciência destes problemas metodológicos e contemplá-los no arcabouço teórico de suas investigações.