Novas oportunidades, mas o mesmo modelo de negócios

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Os dispositivos móveis com acesso à internet estão mesmo provocando uma revolução na televisão. O hábito de assistir a um programa televiso ao mesmo tempo em que se navega na internet por meios de tabletes, smartphones, etc., que vale ressaltar surgiu naturalmente, esta obrigando a radiodifusão estabelecer novas estratégias para manter a relevância da industria televisiva perante a audiência e não perder a atenção da nova geração, tão acostumada a lidar com o ambiente virtual e sua alternativas de consumo de informação e entretenimento. 

Contudo, antes que alguém proclame que a televisão "irá acabar" é preciso ter em mente que muitas ações, por parte das emissoras, podem adiar esse "fim" por um tempo ainda bem longo, se ele que um dia ele irá mesmo chegar. 

Duas informações, noticiadas pelo site Noticia da TV, demostram que as emissoras já estão se organizando para enfrentar esses novos tempos. 

Record põe RecNov à venda e pode encerrar produção de novelas

Por DANIEL CASTRO, em 16/04/2014 · Atualizado às 06h21

Comprado pela Record em 2005, o RecNov está à venda. E Os Dez Mandamentos, em 2015, poderá ser a última novela produzida no complexo de dez estúdios da Record, erguido sobre uma área de 280 mil metros quadrados em Vargem Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Edir Macedo, dono da rede e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, deu o aval há quase um ano para que o RecNov seja negociado e a produção própria de novelas, encerrada. O motivo é o prejuízo que a teledramaturgia dá à emissora: custa R$ 400 milhões por ano e fatura menos de R$ 100 milhões.

Segundo uma alta fonte na emissora, a Record investiu cerca de R$ 650 milhões na expansão do RecNov, que tinha apenas três estúdios em 2005. Mas o valor contábil do complexo é de pouco mais de R$ 300 milhões.

Originalmente, o plano da Record era fechar o RecNov e descontinuar a produção própria de novelas após Pecado Mortal, caso a novela de Carlos Lombardi não recuperasse a audiência da teledramaturgia diária da emissora, em desgraça desde abril de 2012, quando estreou Máscaras. Com média de 5,6 pontos na Grande SP, Pecado Mortal é um fracasso. Mas os bispos que comandam a emissora convenceram Edir Macedo a investir em mais duas novelas, enquanto se prospectam possíveis interessados no RecNov.

Vitória, próxima produção da emissora, com estreia prevista para maio, e a bíblica Os Dez Mandamentos, com cem capítulos, poderão ser as últimas novelas do RecNov. A não ser que deem médias acima de dez pontos, algo que não acontece na Record desde 2011.

A Record já ofereceu o RecNov para pelo menos dois grandes grupos. Um deles foi a Televisa. O grupo mexicano, no entanto, não se interessou em investir em coproduções no complexo de estúdios, devido aos altos custos dos capítulos de novelas no Brasil.

Uma eventual venda do RecNov, que já chegou a empregar 2.500 profissionais, não significa que a Record abandonará a teledramaturgia. A emissora tem estudos que mostram que terceirizar a produção reduz os custos de novelas em até 35%. Esse deverá ser um caminho. E a rede não pretende deixar de realizar séries e minisséries bíblicas, que têm tido audiências satisfatórias. Mas fará isso com produtoras independentes.

Gugu Liberato se associa à Endemol e poderá produzir até novela

Por DANIEL CASTRO, em 17/04/2014 · Atualizado às 06h53

Longe da TV desde junho de 2013, o apresentador Gugu Liberato está negociando uma sociedade com a Endemol, maior produtora de formatos do mundo. Dona de Big Brother Brasil, da Globo, a Endemol tem mais de 2.000 título em seu catálogo, entre eles quadros de programas do SBT e da Record, como o Rola ou Enrola, do programa de Eliana, e Além do Peso, do Programa da Tarde.

Os termos da parceira ainda estão sendo discutidos. Gugu já foi visto três vezes na sede da Endemol em São Paulo.

A parceria com a Endemol deverá sepultar de vez os sonhos de executivos da Band e do SBT de terem Gugu como contratado. Gugu, como o Notícias da TV antecipou em janeiro, já estabeleceu um novo modelo para retornar à televisão: ele não quer mais ser artista exclusivo de uma emissora, mas, sim, apresentar e produzir programas curtos, que durem temporadas de até quatro meses, tal qual Big Brother e O Aprendiz, para redes diferentes em épocas distintas.

Gugu é dono de uma produtora em Alphaville (Grande SP), a GGP, que está sendo reativada. A GGP deverá ser usada para gravar novos programas, extraídos de formatos da Endemol, com ou sem Gugu à frente deles.

A Endemol tem planos de expandir sua atuação, e uma sociedade com a GGP de Gugu pode ser estratégica. A empresa quer produzir games, realities e até novelas com os formatos que desenvolve. Atualmente, negocia com o SBT a produção no Brasil de um folhetim original argentino.


Essas duas estratégias demostram o que a televisão brasileira ainda pode fazer para enfrentar uma possível crise financeira mais severa. Há ainda outras ações, como as fusões entre empresas nacionais ou internacionais. 

Ainda em 2010, neste mesmo blog, postei um texto em que afirmava:

Penso que o futuro da televisão aberta no Brasil passará pelas seguintes etapas:

1 – Fusões e aquisições - É possível que emissoras concorrentes até pouco tempo se unam ou se fundam ou tenham parte de seu capital comprado por empresas estrangeiras. Nos EUA essa foi a fase que marcou o início das mobilizações que as três grandes redes, NBC, ABC e CBS encontraram para enfrentar a fragmentação da audiência e significativa perda de publicidade. A ABC foi comprada pela Capital Cities Comunications, proprietária do maior conglomerado de TVs avulsas do país. A NBC, tornou-se uma divisão da General Eletrics e a CBS foi comprada através de controle acionário por um conglomerado ligado ao ramo do tabaco (DZARD Jr. 2000, pág. 132). Em 1995 a Disney comprou a Capital Cities e se tornou o maior grupo de mídia do mundo. Em matéria publicada pelo site Carta Capital, (leia matéria) o grupo português Ongoing, começou esta investida no Brasil adquirindo o jornal O Dia, no Rio de Janeiro, montou uma redação em São Paulo, também em Brasília e não será surpresa se a investida alcançar a televisão.

2 – Cortar custos - Algumas das mais famosas séries da TV americana foram cortadas devido ao alto custo de produção. Seinfeld, em 1998 e Friends, em 2004 foram cancelados. Mais recentemente, o comediante e apresentador de Talk Show, Jay Leno teve o horário de seu programa alterado após 17 anos no ar. Leno, a partir de maio de 2009, ocupa o horário das 20h que anteriormente pertencia à série CSI. A mudança de Leno das 23h para as 20h equivale aqui no Brasil à TV Globo colocar o Programa do Jô no lugar das novelas das 21:00 horas.

3 – TV Digital – digitalizar o sistema e investir no sinal em Alta Definição foi uma estratégia que não trouxe ainda os resultados esperados aqui no Brasil. Mas, todo o mercado mundial de televisão apostou neste segmento e agora é um caminho sem volta. O jogo de interesse brasileiro agora e que pelos menos países da América do Sul e outros de língua portuguesa adotem o mesmo padrão de TV Digital que o nosso, o que traria bastante compensação financeira para emissoras e fabricantes de eletro-eletrônicos. A África está na pauta do governo brasileiro para adoção do nosso sistema.

4 – Integração com a Internet – todas as redes de TV americana deram passos significativos nesta área. A Disney comprou 43% de uma empresa que controla um mecanismo de busca popular da rede nos EUA. No Brasil, não há notícias de que as emissoras estejam investindo ou fazendo parcerias para atuarem neste setor dessa mesma forma. O que existe são apenas portais onde as emissoras reproduzem o conteúdo jornalístico e de entretenimento.

5 - Maior autonomia para as emissoras locais – com a digitalização do sistema e a possibilidade de transmissão de conteúdo pela Internet os conceitos de grade de programação e de rede se tornam obsoletos. Uma maior participação das emissoras na oferta de programas reduz muito o custo de produção dos programas e abre oportunidade de empregos para os profissionais dispensados ou recém formados.


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