O que pode salvar o jornalismo impresso no Brasil? Spotligth

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O recente ganhador do Oscar Spotlitgh: segredos revelados narra a história de uma equipe de jornalistas do Boston Globe que denunciaram casos de pedofilia nos EUA em 2002. O filme mostra os acontecimentos e, respeitando-se as necessidades dramáticas de um filme hollywoodiano, aponta o que falta para o jornalismo brasileiro. Spotlight é um nome mais conhecido por quem trabalha com iluminação. É um tipo de equipamento que concentra os raios de luz em um ponto determinado, ou seja, ilumina um ponto específico que a iluminação geral não consegue destacar. Essa é a função do Spotligth team. Uma equipe formada desde os anos de 1970 no Globe. Para quem lida com jornalismo diariamente, o filme retrata o paraíso na terra. Uma equipe contratada apenas para fazer jornalismo investigativo, sem a cobrança apertada do deadline (prazo final para a publicação da matéria) ou pressão do departamento comercial ou proprietários do jornal. Lidam apenas com os interesses e pressões dos envolvidos nos casos que investigam. Não foi mostrado no filme nenhuma ameaça física ou judicial aos jornalistas. Temos um time Spotligth no Brasil? Nunca ouvi falar. Isso pode ser uma coisa boa, pois como se vê no filme, a equipe trabalha sob sigilo, separada da redação e demais colegas e tudo que fazem é confidencial. Pode ser que algum jornal brasileiro tenha uma equipe igual à dos americanos, não sei. O que é conhecido é que temos uma associação. A Abraji, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo “criada em 2002 por um grupo de jornalistas brasileiros interessados em trocar experiências, informações e dicas sobre reportagem, principalmente sobre reportagens investigativas”. (Informação no sítio da Abraji). Sua diretoria tem como presidente Thiago Herdy (O Globo – SP), vice-presidente Vladimir Netto (TV Globo – DF), e como diretores: Alana Rizzo (Época - DF), Daniel Bramatti (Estadão – SP), Fábio Oliva (Blog do Fábio Oliva – MG), Maiá Menezes (O Globo – RJ), Patrícia Campos de Mello (Folha de S. Paulo – SP), Fernando Molica (O Dia – RJ), Fabiana Morais (UFPE), Letícia Duarte (Zero Hora – RS) e Marcelo Trasel (PUC – RS). O termo "jornalismo investigativo", em si já gera um bom debate, pois toda reportagem é fruto de uma investigação (ou pelo menos deveria ser), mas ao conferir esta nomenclatura a esta especialidade do jornalismo, pode-se tentar diferenciar esta prática jornalística daquela realizada na cobertura cotidiana nos veículos de imprensa. Espera-se que o jornalismo investigativo seja algo mais profundo e denso. Que releve algo que estava escondido, que gere um impacto na sociedade e que seja resultado de uma profunda e extensa investigação. Um dos principais problemas do jornalismo investigativo é que ele é caro para se fazer. Jornalistas podem ficar anos em cima de uma pauta que muitas vezes pode não render a matéria esperada. Em tempos de crise, esperar que os jornais invistam em uma equipe investigativa pode ser demais. Talvez por isso, uma parte do que é chamado de jornalismo investigativo seja baseado em vazamentos de inquéritos em andamentos e não fruto da investigação de jornalistas. Vazamento não é jornalismo investigativo, ainda mais quando esses vazamentos são seletivos. Ai não é nem jornalismo. Na contramão dessa tendência, a internet e seus blogueiros estão ocupando esse espaço e alguns pagaram com a vida por isso. Segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas, entre janeiro e dezembro de 2015, 69 jornalistas perderam a vida. Seis deles no Brasil, que ocupa o terceiro lugar no ranking dos países com mais jornalistas assassinados. Taxa igual a de países em estado de guerra. Em novembro de 2015, um radialista e dois blogueiros foram mortos no Brasil. A internet vem mesmo desconcertando o discurso hegemônico dos grandes grupos de comunicação. Agora, o jornalista e blogueiro Rodrigo Vianna, denuncia que a Globo e promotores da Lava Jato querem atingir blogueiros acusando-os de usarem vazamentos. Chega a ser ridículo. Já houve várias tentativas de se controlar a internet no Brasil. O Marco Civil da Internet ainda sofre ataques. Blogueiros são processados por juízes e empresários riquíssimos, capazes de arcar com as despesas dos processos (o que é impossível para blogueiros independentes). O que é mais irônico é que talvez essa seria a salvação de muitos jornais que enfrentam a crise do papel. Investir em matérias investigativas, mostrando o real papel do jornalismo em uma sociedade. O problema é que muitas empresas que controlam o jornalismo no país não têm vocação para o jornalismo. O que aparenta é, que para eles, essa atividade é um negócio e um meio para se exercer pressões e marcar posições ideológicas. Philip Meyer, autor do livro Os Jornais Podem Desaparecer?, afirma que somente com produtos editorais melhores e prestação de serviço à comunidade é que o jornalismo poderá vencer a essa crise de identidade. É deste modo que o jornalismo investigativo deveria ser entendido, como uma prestação de serviço à sociedade, pois as consequências dessa prática jornalística transformam o mundo. Sonho de quase todo jornalista em início de carreira. Os vazamentos são o exatamente o contrário disso. Prestam um desserviço à democracia e ao invés de trazer à luz temas escondidos, os jogam ainda mais na escuridão.