TV pública com a “faca e o queijo nas mãos”

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O velho ditado mineiro utilizado para expressar a hora e o momento ideal, talvez seja a melhor expressão para tipificar o atual momento da TV pública brasileira. Não que ela tenha atingido um estado de excelência em programação, ou que esteja em seu auge, mas sim pelos prognósticos que podem ser aferidos tendo em vista as políticas de comunicação que estão sendo estabelecidas para os próximos anos em meio à transição tecnológica para o sistema de televisão digital brasileiro.

Um exemplo importante deste momento é a decisão do governo federal em expandir a rede de TV pública por meio de um operador único. Esta iniciativa permitirá a digitalização dos canais comunitários, legislativos, judiciários e educativos a custos compartilhados em todas as capitais e em cidade com população acima de 100 mil habitantes. Com isso, a TV pública brasileira poderá investir no uso da interatividade em larga escala e fomentar a inclusão social, temas que nortearam toda a política de escolha do padrão brasileiro de TVD, mas que ainda encontra vários obstáculos para serem aplicados pelas emissoras comerciais.

Em entrevista por telefone, Andre Barbosa, indicado para assumir o projeto para instaurar a figura do operador único, descreve a conjuntura atual da TV digital no Brasil e as perspectivas que se abrem para a utilização da rede nacional de TV como ferramenta para inclusão social e disponibilização de serviços interativos por parte do governo federal.

Os efeitos desta iniciativa são maiores do que se apresentam em um primeiro momento. Em todo mundo, uma guerra entre as operadoras de telefonia celular e as emissoras de TV abertas está sendo anunciada. O prêmio maior desta batalha é a utilização do espectro. As emissoras de televisão não querem abrir mão da faixa de 700 Mhz utilizada atualmente para as transmissões analógicas. Já as operadoras de telefonia querem esta faixa para oferecer telefonia móvel. Esta não é uma questão brasileira. O presidente da FCC americana, Julius Genachowski, proferiu discurso na CES 2012*, feira de produtos eletro-eletrônicos, afirmando que a questão do uso do espectro é cada vez mais crítica.

É evidente que as emissoras de televisão no Brasil, também terão de enfrentar essa questão. Neste contexto é que surge a oportunidade para a TV pública brasileira desempenhar um papel que até hoje não conseguiu fazer de forma abrangente: ser uma importante ferramenta de educação a distância, inclusão social e digital, ainda, estar a frente das emissoras locais na cobertura de eventos ao vivo e fatos que mobilizem a nação aplicando ferramentas de interatividade. Isto será possível pois o modelo de negócios das emissoras privadas (dependência dos anúncios publicitários) ainda limita a utilização da interatividade em alta escala.

A TV comercial brasileira está sendo vítima de sua própria história, o peso de sua estrutura, que a fez ser uma das maiores industrias televisivas do mundo, estão agora grande demais para lidar com uma audiência fragmentada e a opção de varias outras formas de veiculação publicitária.

Portanto, a expressão “faca e o queijo nas mãos” pode ser aplicada a este contexto, pois a oportunidade está diante de nós. Precisamos é saber utilizá-la.

*Fonte: http://www.telaviva.com.br/11/01/2012/ces-2012-presidente-da-fcc-mostra-preocupacao-com-liberacao-de-espectro-para-banda-larga/tl/257417/news.aspx